Em alusão ao Dia Nacional da Luta Antimanicomial, um grupo realizou na manhã desta sexta-feira (17) uma caminhada pedindo ampliação dos serviços e direitos das pessoas com sofrimento mental em Mato Grosso do Sul. Em Campo Grande, há sete CAPS (Centros de Atenção Psicossocial), sendo cinco destinados ao serviço para pacientes com transtorno mental.

Walkes Vargas, presidente do CRP (Conselho Regional de Psicologia), destaca a urgência de ampliação de mais unidades de atendimento aos pacientes e da residência terapêutica, além da necessidade de funcionários públicos convocados por meio de concurso público.

“Temos um número muito baixo de centros de atendimento psicossocial no Estado, além de outras unidades, como residenciais terapêuticos, serviços para aqueles que não conseguiram reatar um vínculo com a sociedade ou a família. Temos a convicção de que o número de unidades é insuficiente. Nossa luta é para que os governos parem de transferir recursos públicos para entidades privadas e invistam no setor público da saúde mental brasileira. O número de CAPS precisa ser maior.”

O movimento nacional colocou em pauta a discussão sobre o tema. No entanto, Walkes ressalta que a União parece favorável à assinatura de uma portaria que aumentará o número de CAPS em todo o Brasil. “Isso já representa um avanço. Precisamos que os órgãos públicos invistam mais no atendimento público do que em entidades privadas. Em Campo Grande, por exemplo, o número de CAPS deveria ser o dobro.”

Walkes Vargas, presidente do CRP (Conselho Regional de Psicologia) (Nathalia Alcântara, Midiamax)

Reflexo da pandemia

Houve um aumento significativo na demanda de pacientes no período pós-pandemia. Na época, principalmente o público mais jovem e infantil, desenvolveu graves problemas psicológicos, como ansiedade e depressão, devido à limitação da sociabilidade.

O psicólogo da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), que atua na UBSF (Unidade Básica de Saúde da Família), Paulo Carvalho, enumera sete CAPS em Campo Grande, sendo dois para pacientes em tratamento contra a dependência de álcool e drogas, e cinco para pessoas com transtornos mentais, além de dois ambulatórios e um voltado para infantojuvenis. Na rede de atenção primária, há 16 psicólogos. A demanda do público é alta, incluindo pacientes com quadros leves e distúrbios mais graves.

Para o especialista, o período pós-pandêmico gerou transtornos graves, principalmente em crianças. Ele descreve um grave aumento nas subnotificações de casos de automutilação em crianças a partir dos anos.

“São vários fatores que desencadeiam um quadro assim. Uma criança ansiosa e angustiada que não consegue acompanhar as disciplinas na escola enfrenta cobranças tanto da escola quanto dos pais. Isso agrava a situação da criança, alterando seu comportamento. Estamos vivendo em uma época em que a ansiedade é generalizada, e viver ansioso é um problema; o organismo não foi feito para viver ansioso ou sob estresse. Isso deprime o sistema e desencadeia problemas como perda de memória e distúrbios digestivos. Para controlar esses problemas, o tratamento pode levar de seis meses a um ano.”

Paulo também destaca que a ansiedade, em geral, pode ser influenciada por fatores econômicos, insegurança, questões raciais, comorbidades e até mesmo pela tragédia das enchentes no Rio Grande do Sul.

“Nas últimas semanas, temos observado o impacto das notícias sobre o Rio Grande do Sul, causando ansiedade em outros moradores que assistem a vídeos de resgate, áudios ou histórias de pessoas que perderam tudo. Tudo isso tem provocado uma grande angústia.”

O psicólogo da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), que atua em UBSF (Unidade Básica de Saúde da Família), Pablo Carvalho
O psicólogo da Sesau, Paulo Carvalho (Nathalia Alcântara, Midiamax)

Caminhada

O grupo realizará uma caminhada da Praça do Rádio Clube até a Ary Coelho pela Avenida Afonso Pena. As equipes estarão com um carro alegórico, com palavras de ordem e cartazes reforçando o pedido de atenção para a luta antimanicomial.

A caminhada contará com a presença de agentes da Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito) e da GCM (Guarda Civil Metropolitana).