Há 40 anos, a morte do estilista brasileiro Markito trouxe visibilidade a uma doença até então desconhecida: o HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana), vírus causador da aids. Quatro décadas após a onda de desinformação gerada em torno doença, o estigma e o preconceito em relação ao HIV e a outras ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis) ainda são uma barreira para o diagnóstico e impedem que pessoas busquem tratamento.

Em Campo Grande, dados de julho de 2024 fornecidos pela Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) indicam que 6.538 pessoas vivem com HIV, sendo que 4.893 delas têm carga viral indetectável – o que significa que não transmitem o vírus. No entanto, desse universo, 724 portadores de HIV abandonaram o tratamento.

Dados HIV em Campo Grande (Nathalia Alcântara, Midiamax)

Médico e coordenador do CTA (Centro de Testagem e Aconselhamento), Roberto Braz, explica que diversos fatores podem levar uma pessoa a desistir do tratamento, incluindo desde a falta de apoio familiar até a vergonha em assumir a doença.

“Há várias justificativas para esse abandono, do medo e a vergonha até o receio de encontrar alguém conhecido durante o tratamento. Muitas pessoas ainda têm a visão dos anos 80 e 90, acreditam que o HIV é uma sentença de morte”, diz o médico.

HIV e aids não são sinônimos

Informações oficiais do Governo Nacional
Informações oficiais do Governo Nacional (Arte: Midiamax)

Hoje, pessoas portadoras do HIV podem viver normalmente com o tratamento adequado. Além disso, é importante esclarecer que HIV e aids não são sinônimos; ou seja, ao contrário do que muitos pensam, ter o vírus HIV não significa necessariamente que a pessoa desenvolverá a aids.

O HIV (Human Immunodeficiency Virus), sigla em inglês, é o vírus que provoca a imunodeficiência humana. Conforme a infecção pelo HIV avança, o sistema imunológico enfraquece até não conseguir mais combater outros agentes infecciosos. Quando isso ocorre, a pessoa desenvolve a aids. Em resumo, a diferença entre HIV e aids é que o HIV é o vírus que pode levar ao desenvolvimento da aids (Acquired Immune Deficiency Syndrome).

Pessoas com HIV podem viver normalmente

Roberto Braz ressalta que o maior desafio do Sistema de Saúde atualmente é quebrar o estigma e o preconceito em torno não apenas do HIV, mas também de todas as Infecções Sexualmente Transmissíveis.

“Levar conhecimento em meio a tanta desinformação é nossa maior luta. Temos testes rápidos disponíveis em todas as unidades de saúde, mas a procura ainda é baixa”, diz o médico.

Médico CTA
Roberto Braz (Nathalia Alcântara, Midiamax)

No caso de pessoas que vivem com HIV e/ou aids que não estão em tratamento ou que mantêm a carga viral detectável, ainda há possibilidade de transmitir o vírus a outras pessoas. Essa transmissão ocorre principalmente por meio de relações sexuais desprotegidas. Há também a contaminação por compartilhamento de seringas contaminadas ou de mãe para filho durante a gravidez e a amamentação, se as medidas de prevenção não forem tomadas.

Em todo o mundo, cerca de 37,6 milhões de pessoas vivem com HIV, mas 15% delas não sabem.

“Pessoas com carga viral indetectável não transmitem o vírus. Disseminar essa informação pode quebrar o estigma, pois mostra que, mesmo convivendo com o vírus, a pessoa pode ter uma vida sexual livre, ter filhos biológicos sem transmitir o vírus. Isso prova que o tratamento é simples e eficaz”, afirma o médico.

Baixa procura no CTA é barreira para o diagnóstico

Banners informativos no CTA
Banners informativos no CTA (Nathalia Alcântara, Midiamax)

Em Campo Grande, o CTA (Centro de Testagem e Aconselhamento) oferece diversos atendimentos voltados ao tratamento e prevenção de ISTs, mas a procura ainda é baixa, o que Roberto atribui ao preconceito e a desinformação.

Esses retrocessos estão relacionados ao ambiente de extremismo, discriminação e violência contra as populações mais vulneráveis, como gays, mulheres, pessoas trans e negros. Nesse cenário, a falta de acolhimento contribui para que essas pessoas se afastem da testagem, prevenção e do tratamento.

Por muitos anos, o HIV foi erroneamente atribuído a um vírus ‘exclusivo’ das pessoas LGBTQIAP+, mas, conforme o especialista, qualquer pessoa que tenha relações sexuais sem proteção está exposta ao HIV e diversas outras ISTs, o que inclui homens e mulheres heterossexuais.

“A gente sempre tenta conversar e levar informação de que ao se prevenir a pessoa está cuidando da saúde e isso é o mais importante. Não existe vergonha em se cuidar”, ressalta Braz.

Teste rápido identifica diversas ISTs

Um dos principais serviços ofertados pelo CTA é a testagem das infecções sexualmente transmissíveis. Em um único teste é possível detectar Sífilis, HIV e Hepatites B e C.

Preservativos
Preservativos (Divulgação)

Além disso, o CTA realiza consultas de Urologia e Ginecologia, Projeto Smash, que oferece preventivo e coleta para teste de HPV, PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) – indicada e utilizada antes da exposição sexual e PEP (Profilaxia Pós-Exposição) – utilizada após uma exposição sexual com indicação de prevenção do HIV.

No CTA, o pré-atendimento envolve uma conversa para identificar a queixa de saúde e os motivos da visita. Após essa triagem, o paciente é encaminhado para o teste, que leva cerca de 30 minutos. Com os resultados em mãos, ele recebe orientações adequadas: se o resultado for positivo, é encaminhado para o tratamento. Caso seja negativo e houver interesse no PrEP, agenda-se uma consulta para o acesso ao medicamento.

Descentralização dos atendimentos

Teste rápido
Teste rápido leva aproximadamente 30 minutos (Giselli Figueiredo, Midiamax)

Com o intuito de ampliar a conscientização e facilitar o acesso ao diagnóstico e tratamento, a Sesau descentralizou os atendimentos. Desde 2023, além do CTA, os exames de ISTs, o tratamento de HIV e o acesso ao PrEP estão disponíveis em todas as UBSs (Unidades Básicas de Saúde) de Campo Grande.

“Com essa descentralização, a pessoa pode ir ao posto mais próximo de casa, o que é especialmente útil para quem não conseguia se deslocar até o CTA. Além disso, oferece uma opção para aqueles que têm receio de ir ao centro de testagem”, explica o Roberto Braz.

Para o médico, descentralizar os atendimentos é uma maneira de incentivar as pessoas a buscarem tratamento. Ele ressalta que os profissionais estão lá para acolher e tratar os pacientes, não para julgá-los.

“Já vimos várias vezes aqui no CTA pacientes que chegam, veem um conhecido e vão embora por vergonha de estarem ali e serem associados a alguma IST. Com o tabu em torno da sexualidade e do sexo, a pessoa ficar retraída, com medo do julgamento e de comentários sobre promiscuidade”, afirma.

PrEP e PEP

PrEP
Comprimidos da PrEP estão disponíveis no SUS (Thalya Godoy, Jornal Midiamax)

A descentralização também visa ampliar a procura pela PrEP (Profilaxia Pré-Exposição), indicada e utilizada antes da exposição sexual para evitar contaminações. Desde o ano passado, o tratamento está acessível em todas as UBSs.

No caso da PEP (Profilaxia Pós-Exposição) – utilizada após uma exposição sexual com indicação de prevenção do HIV, o tratamento está disponível 24h em todas as UPAS (Unidades de Pronto Atendimento) da Capital e nos dias de semana no CTA.

Vale ressaltar que a PrEP e PEP estão disponíveis para qualquer pessoa, independente de orientação sexual e identidade de gênero. Ambos os medicamentos podem ser obtidos por pessoas que se sintam em risco de contrair o vírus HIV. 

A prevenção combinada é ideal para prevenir HIV e ISTs
A prevenção combinada é ideal para prevenir HIV e ISTs (Reprodução/Aids.gov)

Em quais cidades é possível obter PEP e PrEP em MS?

  • PEP – todos os municípios.
  • PrEP – Campo Grande, Dourados, Três Lagoas, Corumbá, Ponta Porã, Ribas do Rio Pardo, Maracaju, Jardim, Coxim, Naviraí e Costa Rica.

Onde fica o CTA?

O CTA em Campo Grande está localizado na Rua Anhanduí, nº 353, bairro Vila Carvalho (próximo ao Horto Florestal). O atendimento é de segunda a sexta, das 7h às 17h (sem pausa para o almoço). A testagem rápida vai até às 16h. É necessário levar um documento com foto.

Para encontrar a unidade de saúde mais perto da sua casa basta acessar o site: https://campograndems.labinovaapsfiocruz.com.br/osa/.

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