Anos 90. Quem pretendia ter um microcomputador sabia que encarar um curso de informática – com direito a aprender a mexer no Windows, ligar e desligar a máquina, acessar a internet e editar textos no Word – seria um bom investimento, capaz até de segurar uma vaga de emprego.

Mas, passados tantos anos, com toda a revolução tecnológica pela qual a sociedade passou, é mais que natural pensar que as geração mais novas, por serem superconectadas e nascerem imersas na era da informação e da tecnologia, não tenham exatamente o que aprender. Correto?

Não é bem assim. Comparativamente aos jovens com mais de 30 anos, que investiam em cursos de Excel e Word para enriquecer seus currículos, a nova geração ainda busca qualificação profissional em cursos de informática em Campo Grande.

Paola Soares, coordenadora de uma unidade de informática na região central, destaca que, apesar de os jovens terem um acesso mais amplo à tecnologia, os cursos introdutórios despertam um conhecimento mais profundo sobre computadores e as ferramentas que serão utilizadas em futuros trabalhos.

“Às vezes, o conhecimento que esses alunos já possuem está mais voltado para o uso do celular. Como os smartphones são capazes de realizar praticamente todas as tarefas, eles os utilizam com frequência, o que pode resultar em uma falta de conhecimento sobre computadores e notebooks. Nossos módulos introdutórios fornecem suporte nesse aspecto. É bastante comum que eles pensem que, por terem nascido na era da computação, já sabem tudo, mas não é bem assim.”

Na unidade em que trabalha, Paola menciona que atende alunos com idades entre 12 e 62 anos, com uma procura maior de jovens entre 15 e 20 anos, que buscam qualificação para o mercado de trabalho. Também há alunos que conciliam os estudos escolares com cursos profissionalizantes.

“No mês passado, observamos um aumento no número de adultos interessados em atualizar suas habilidades no mercado em que já estão inseridos, mas nosso público principal ainda é composto por jovens em busca de qualificação. Muitas empresas esperam que seus funcionários tenham conhecimentos básicos em pacotes de software como o Office, e possuir essas habilidades no currículo, bem como um certificado, pode fazer uma grande diferença na busca pelo primeiro emprego ou na promoção no emprego atual.”

Vertentes da informática

O consultor de educação profissional, que atua no núcleo de inovação de uma escola de cursos, Márcio Mario, caracteriza a informática como setor amplo, que vai desde o básico até a programação. Atualmente, a maior demanda na academia é pelo desenvolvimento de software, devido ao aumento na procura por profissionais capazes de desenvolver sistemas. A segunda maior demanda é na área de ciência de dados.

“Essas são as áreas mais procuradas atualmente no mercado de trabalho, onde há uma maior quantidade de vagas disponíveis. Além disso, esses profissionais podem trabalhar remotamente, em qualquer lugar do mundo. Vivendo em Campo Grande, é possível atender clientes de qualquer lugar do Brasil ou do mundo.”

Márcio também destaca que a nova geração tem mais facilidade em lidar com novas tecnologias. Portanto, com a constante atualização, muitos buscam cursos mais avançados na área.

“Esses alunos não estão mais interessados em fazer cursos básicos; eles buscam cursos de desenvolvimento, infraestrutura, cursos que enfatizem a prática. Um dos nossos objetivos é trazer a experiência do dia a dia profissional para dentro da sala de aula, para que o aluno possa ter uma vivência prática. Esse tipo de aluno já nasceu em uma era digital e já possui conhecimentos que a geração anterior não tinha.”

Atualmente, os cursos de informática básica ainda são procurados por aqueles que buscam ingressar no mercado de trabalho, com ênfase nos pacotes de Windows e Office, que são exigidos em ambientes de escritório. Já aqueles que buscam cursos mais avançados, como análise de dados, estão mirando em setores específicos em expansão.

Essas novas áreas são impulsionadas pelo avanço da tecnologia, que cria novas profissões, como desenvolvedor de segurança cibernética, criador de aplicativos, programação e sistemas web.

Mudando de área

O professor do curso Técnico em Desenvolvimento de Sistemas, Calebe Pereira Lemos, destaca que o público mais matriculado compreende jovens entre 16 e 28 anos. No entanto, ele observa uma demanda por parte de indivíduos que buscam mudar de emprego, impulsionados pela valorização salarial e pelo mercado em expansão.

“Temos pessoas com mais de 28 anos que estão buscando ou adentrando pela primeira vez uma área de atuação, ou estão procurando fazer uma transição de carreira. Tenho alunos que têm graduação em administração, direito, contabilidade. Há até mesmo alunos que estão cursando medicina veterinária e desejam mudar de área, pois percebem a demanda do mercado e a escassez de profissionais qualificados na área de desenvolvimento. Além disso, é uma área que oferece salários atrativos. Portanto, eles estão buscando migrar para esse campo de atuação”, explica Calebe.

Na instituição em que leciona, Calebe detalha que existem dois programas principais de formação: um voltado para o desenvolvimento na área de TI (Tecnologia da Informação) e a “Fábrica de Software”, que simula uma empresa de desenvolvimento real.

Ele menciona que os cursos variam de R$ 598, com foco na lógica de formação, até os mais técnicos, com uma média de R$ 3,5 mil. “O mercado está em expansão, não apenas em Campo Grande. Durante algumas reuniões que tivemos, as empresas têm expressado a falta de mão de obra qualificada”, ressalta.