A cirurgiã dentista Milena Viegas, de 37 anos, precisou deixar às pressas a casa onde mora com os dois filhos e o marido, João Augusto, na cidade de Eldorado do Sul, no RS (Rio Grande do Sul), devido às chuvas que atingem a região desde o dia 27 de abril. Até este domingo (5), os temporais já deixaram 75 mortos, 6 óbitos em investigação, 103 desaparecidos e 155 pessoas feridas.

Milena morou com os pais e a irmã em Mato Grosso do Sul por vários anos, chegando a Campo Grande quando tinha 4 anos de idade e retornando ao Rio Grande do Sul aos 17. Ela contou ao Jornal Midiamax o que viveu nas últimas horas.

De acordo com a Agência Brasil, 95,7 mil pessoas tiveram que abandonar suas casas. São 104,6 mil desalojados e 16,6 mil desabrigados. Dos 497 municípios gaúchos, 334 foram afetados pelas chuvas, o que representa 67,2% das cidades do estado.

Enchentes recentes

Na madrugada deste sábado (4), a enchente chegou ao bairro onde Milena mora, chamado Centro Novo, que nunca havia sido inundado pelas chuvas, apesar de a cidade já ter registrado episódios de alagamentos. 

“Na enchente de novembro fiz comida para os desabrigados na minha casa, com a ajuda de amigos e familiares me mandando Pix para eu comprar as coisas. Tivemos uma enchente em setembro, outra em novembro e agora essa que devastou o estado”, conta a dentista ao Jornal Midiamax.

Localização de cidade onde dentista mora (laranja) e para onde foi com a família (roxo). (Reprodução – Google Maps)

Com o aumento do nível das águas, a família decidiu ir até Guaíba, cidade distante apenas 15 quilômetros de Eldorado do Sul.

“A ideia era ir para Porto Alegre porque tenho minha sogra e minha cunhada que moram lá, mas tivemos que vir pra Guaíba porque as duas pontes de acesso a Porto Alegre já estavam bloqueadas. No momento estamos presos em Guaíba, não dá nem para voltar para Eldorado porque a BR está cheia de água”, conta a dentista. 

Antes de sair de casa, a família conseguiu suspender alguns móveis, e Milena conta que sabe que só não perdeu tudo porque a água invadiu o andar inferior da casa, que tem dois pisos.

Já os pais dela, que também moram em Eldorado, tiveram a casa tomada pela enchente. Por sorte, não acabaram entre os desabrigados porque, quando a chuva começou, eles estavam em viagem, em São Paulo. Com retorno marcado ao RS para o início da semana, permanecerão em viagem, já que não há como retornar ao estado.

Às 19h30 de sábado, a empresa que administra o aeroporto de Porto Alegre comunicou que o local ficará fechado por tempo indeterminado, e estradas estão bloqueadas por deslizamentos de terra ou devido às inundações. 

Preocupação com o futuro

Em Guaíba, a família conseguiu se alojar em um hotel, que está lotado. Diante do cenário, é difícil conter a emoção. “Olha, já chorei algumas vezes. Principalmente quando teve a possibilidade de não conseguirmos renovar a diária no hotel. Aí bateu o desespero de estar com as duas crianças na rua e sem carro. Mas graças a Deus priorizaram quem já estava hospedado e nos mantiveram. Acho que vou desabar quando chegar em casa e ver a situação mesmo”, compartilha a dentista.

Milena Viegas compartilhou nas redes sociais momentos de tensão que viveu com a família. (Reprodução)

“Estou mais abalada pelos meus pais. A gente sabe que a água não pegou no nosso 2º andar ainda (da casa dela), então algumas coisas vão ser salvas. Mas nos meus pais a casa é de um piso só, então pegou água em tudo. Eles não vão ter uma cama seca para deitar quando chegarem”, relata.

Ainda segundo a ex-moradora de Campo Grande, muitas pessoas ainda estão ilhadas na cidade onde ela mora atualmente, sem conseguir resgate, sem acesso à água potável e alimentos. Áudios e postagens de moradores da região circulam nas redes sociais com pedidos de envio desses itens, por barco ou helicóptero, para grupos que estão isolados.

No hotel onde ela está hospedada em Guaíba, uma força-tarefa foi feita e marmitas foram preparadas para envio, por helicóptero, à cidade de Eldorado do Sul.

Saiba o que e como doar

De acordo com a Defesa Civil do Rio Grande do Sul, os itens mais necessários são colchões novos ou em bom estado, roupa de cama, roupa de banho, cobertores, água potável, ração animal e cestas básicas, preferencialmente fechadas para facilitar o transporte.

Também são aceitos produtos de higiene, produtos de limpeza e água mineral, além de alimentos não perecíveis. 

Não estão sendo recebidos ainda doações de calçados e roupas, medicamentos, móveis e utensílios domésticos, pois os depósitos já têm grande volume desses materiais. Em Campo Grande, é possível doar pessoalmente em três locais, e também há como ajudar com doações em dinheiro.

Fenasul

A feira gaúcha FenaSul está com ponto de coleta em Campo Grande. O ponto de coleta fica no Círculo Militar, localizado na Av. Afonso Pena, 107, bairro Amambaí.

Gaucheria CG 

A Gaucheria CG tem dois pontos de coleta, um fica na Rua Brilhante, 3466, na Vila Bandeirante. O horário de recebimento é de segunda a terça, e de quinta a domingo, das 17h às 00h. O outro ponto fica no Centro, na Rua Pedro Celestino, 2089, no mesmo horário.

OAB/MS

A OAB/MS (Ordem dos Advogados do Brasil), seccional de Mato Grosso do Sul, está recebendo doações de produtos de higiene e limpeza, roupas, cobertores, leite, água e alimentos não perecíveis em sua sede, localizada na Av. Mato Grosso, 4.700, Carandá Bosque. As doações podem ser deixadas no local das 8h às 18h.

Adra

A Adra (Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais) também abriu uma campanha para auxiliar as famílias do Rio Grande do Sul. A instituição humanitária enviou ao estado uma carreta que presta serviços móveis para auxiliar os moradores, como lavagem de roupas e distribuição de refeições. Interessados em ajudar podem fazer um pix para: sos@adra.org.br.

SOS Rio Grande do Sul

O Governo do Rio Grande do Sul abriu um canal oficial de doação. Para doar, basta enviar Pix para o CNPJ 92.958.800/0001-38. De acordo com o governo do estado, os recursos serão revertidos integralmente para ações humanitárias às vítimas e para a reconstrução da infraestrutura das cidades.

Confira aqui outros pontos de coletas de doações espalhados por Mato Grosso do Sul.