Desde o dia 3 de maio, diversos CTGs (Centros de Tradições Gaúchas) de Campo Grande estão com as portas abertas servindo de ponto de coleta de roupas e mantimentos para as famílias atingidas pelas enchentes no Rio Grande do Sul. Até agora, cerca de 100 toneladas de produtos já foram doados e seguem em caminhões rumo às cidades afetadas.

O CTG Tropeiros da Querência há dias se tornou um dos principais polos de arrecadação e distribuição destes mantimentos. Lá, os voluntários recebem as doações deixadas nos outros Centros de Tradições Gaúchas e também de empresas que têm se mobilizado nesta corrente do bem.

Segundo um dos organizadores, Tales Amaro Maciel, diariamente eles têm recebido quilos e mais quilos de insumos, tanto para as pessoas, quanto para os animais afetados pelas enchentes. E para que tudo funcione da melhor forma e todos os mantimentos cheguem em excelente estado até os irmãos gaúchos, foi separado um espaço de triagem, onde tudo é separado e vistoriado com muita atenção.

Diversos CTGs são pontos de arrecadação no estado. (Alicce Rodrigues, Jornal Midiamax)

Triagem detalhista

Assim que as caixas e sacolas chegam, parte da equipe fica responsável por separar o que é comida, o que é roupa, produto de limpeza, higiene, brinquedos ou itens para animais. Enquanto isso, outros grupos de voluntários vão separando roupas e calçados por tamanhos, observando o que está em bom estado de conservação para doação.

Tales Amaro aponta que muita gente tem tentado descartar materiais, por isso as análises são minuciosas. Cerca de 300 voluntários têm atuado diariamente nos trabalhos. “Ontem trabalhamos até 23h para separar e finalizar as carretas que foram enviadas”, conta.

“Começamos pequeno, com pouca movimentação. Nossa mobilização começou nas redes sociais. Que bom que tomou essa proporção enorme”, afirma. Segundo o organizador, o apoio de empresas de logística com os envios também tem sido fundamental.

Ao todo, três caminhões já foram enviados, cada um com cerca de 30 mil quilos. Na manhã desta quarta-feira (8), eles carregam o 4º veículo para envio. “Nosso primeiro caminhão deve chegar no Rio Grande do Sul entre hoje e amanhã”, comemora.

Triagem feita no CTG (Alicce Rodrigues, Jornal Midiamax)

Solidariedade movimenta

A movimentação no CTG é intensa e contínua. A todo momento chega algum morador para fazer a entrega de suas doações. O sentimento que move cada um é o mesmo: empatia ao próximo!

“É maravilhoso ver que tanta gente está se colocando no lugar do outro, tendo empatia. A gente precisa saber que poderíamos ser nós lá no Rio Grande do Sul”, afirma Tales.

O organizador é da cidade Pelotas e lamenta a situação do seu estado. Tales afirma que o coração fica apertado sabendo que amigos e familiares estão passando por esta situação.

“A gente sabe que o pós vai ser muito pior do que está acontecendo agora. Isso é uma tragédia sem precedentes, a maior da história! É importante que as pessoas se conscientizem e ajudem nessa corrente”, acrescenta.

Voluntários realizam o carregamento de caminhões. (Alicce Rodrigues, Jornal Midiamax)

Itens necessários

Quem vai doar, no entanto, precisa levar em consideração que a maioria das famílias não tem mais acesso à água potável, gás de cozinha e fogão. Por isso, ao separar alimentos não perecíveis, é importante levar em conta que quanto menos manuseio o alimento precisar, melhor.

“Água é crucial. Mas, ao doar comida, as melhores opções são os enlatados, biscoitos, bolachas, barras proteicas… coisas que não exijam tempo de preparo, porque essas famílias não têm onde cozinhar”, reforça. “Outro ponto é que, por não terem água, produtos de higiene como lenços umedecidos são fundamentais. Essas são nossas prioridades”, acrescenta.

Com a previsão de tempo instável e frio para esta semana na região afetada, os voluntários enfatizam a necessidade das pessoas intensificarem as doações de cobertores.

Voluntários do CTG (Alicce Rodrigues, Jornal Midiamax)

Empatia que move

A gaúcha Eliziana da Serra é uma das voluntárias no projeto solidário desde o primeiro dia. Chega cedo e não tem hora para voltar para casa.

Para ela, colaborar com os envios de mantimento é uma forma de sentir que está contribuindo em um momento em que o sentimento de impotência paira.

“Minha família e amigos estão todos lá, então não tem como ficarmos parados vendo toda aquela tragédia, precisamos fazer alguma coisa. Minha família mora em Cachoeirinha e estão bem porque a cidade não foi afetada diretamente, mas tenho amigos que perderam tudo, absolutamente tudo”, lamenta.

Para a voluntária, poder ajudar de alguma forma é como dar um carinho a distância. “Isso é muito difícil, não sei nem como explicar. A gente se sente impotente, inútil, não dá para descrever a dor de você estar longe e não poder fazer nada. O que a gente pode fazer é isso aqui, ajudar”, afirma.

Voluntários realizando a triagem de roupas. (Alicce Rodrigues, Jornal Midiamax)

“São nossos irmãos!”

A campo-grandense Beatriz Caminha é uma das tantas pessoas que já contribuíram com doações de mantimentos. À reportagem, ela conta que é impossível ver o que tem acontecido aos moradores do Rio Grande do Sul e não sentir vontade de ajudar de alguma forma.

“Eu tenho filhos pequenos, então dói no meu coração saber que as famílias perderam tudo. Um pouquinho desses brinquedos que eu trouxe já vai ser muito para eles. Trouxe alguns novos, alguns que eram dos seus filhos… espero que aquelas crianças fiquem felizes ao receber”, conta.

Assim, além dos brinquedos, Beatriz contribuiu também com cobertores, roupas e produtos de higiene.

“Eles são nossos irmãos. Nós também poderíamos estar passando por isso. Então a gente se coloca no lugar do outro. É o mínimo de empatia. A gente vê tanta gente precisando, temos que ajudar”.

Serviço

O CTG Tropeiros da Querência fica na Rua Miguel Sutil, 445, Vila Vilas Boas. Os atendimentos acontecem das 8h às 22h.

Outros CTGs também estão abertos a doação, inclusive no interior:

  • CTG Tropeiros da Querência, em Campo Grande: Rua Miguel Sutil, 445, Vilas Boas. Horário: das 13h às 19h.
  • CTG Farroupilha, em Campo Grande: Av. Pref. Herácalito Diniz de Figueiredo, 930, Monte Castelo. Horário: das 8h às 18h.
  • CTG Nova Querência, em Maracaju: 876, Av. Perimetral Norte, 744 – Alto Maracaju.
  • CTG Querência da Saudade, em Ponta Porã: Rua Jorge Roberto Salomão, 1740, Vila Ferroviária II.
  • CTG Querência do Sul, em Dourados: Cueca supermercado, Rua Ver. Vitório Pederiva, 343, Jardim Flórida.
  • CTG Sentinela de Amambai, em Amambai: caminhão estacionado na Praça Central da cidade.

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