Só quem pegou um CD na mão e colocou no toca-discos entende a sensação incrível de ouvir o álbum do seu artista favorito. Sentimento que, ao longo da evolução tecnológica e popularização das plataformas de streamings, não foi completamente experimentado pelas novas gerações. Mesmo assim, os CDs ainda despertam interesse pela qualidade musical entre colecionadores e entusiastas pelo produto. Por isso, enquanto algumas pessoas guardam os CDs, outras optam por passá-los adiante para novas utilidades.

A história do CD começou em 1º de outubro de 1982, quando as empresas Philips e Sony fizeram parceria para lançar o primeiro Compact Disc do mundo, o álbum “52nd Street” do compositor, pianista e cantor Billy Joel. Tecnologia é procedente ao LP, conhecido também como disco de vinil. 

Segundo a Federação Internacional da Indústria Fonográfica, os CDs foram o formato mais comercializado em 2021, gerando quase R$ 7 milhões de reais. O hype resultou num crescimento de 139% nas vendas entre 2020 e 2021 no Brasil. O tempo passou e diversas mudanças foram observadas, mas para muita gente existe uma vontade de estar conectado ao artista com um produto físico que, de certa forma, te proporciona uma viagem no tempo.

Hora de passar para frente

Para outras pessoas, os CDs também são opções de vendas para conseguir uma renda extra. César Roberto Lopes é aposentado e tem 70 anos de idade. Ele contou ao Jornal Midiamax que começou a colecionar os CDs entre os seus 35 e 40 anos. “Eu estava sempre com o rádio ligado, nunca sem música”, recorda.

Atualmente, Roberto tem cerca de 170 CDs à venda e ressalta que muitos são raridades, como do artista Elvis Presley. A intenção de venda é para desocupar espaço no armário e dar melhor destinação aos produtos.

“Tudo tem sua época, mas a qualidade dos CDs é incomparável. O CD parado não tem sentido, alguém precisa escutar e curtir”, revela. César ainda afirma que sua coleção, avaliada em R$ 500, já teve procura até o momento.

CD impulsionou vida de rockeiro

O servidor público Guilherme Fico, de 39 anos, se intitula rockeiro de carteirinha e tudo começou quando ganhou seu primeiro CD, o álbum Black, do Metallica, quando ainda era adolescente. Anos depois, ele reconhece que muitos dos seus álbuns ficaram parados porque migrou para o streaming. Assim, ele colocou sua coleção à venda para dar uma destinação mais digna aos seus “tesouros”.

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(Foto: Henrique Arakaki/Jornal Midiamax)

Ao Jornal Midiamax, Guilherme revela que já chegou a ter 250 discos. Número foi reduzido para 100, sendo nove álbuns da banda In Flames.

“Ao longo desta minha vida musical, fui adquirindo álbuns de várias bandas. Das que gostava muito ia compondo uma pequena coleção. Já tive coleção das bandas Arch Enemy, Oficina G3, Children Of Bodon, Judas Priest, In Flames, Dream Theater, Vision Divine, Hellowen Angra, Shaman, Iron Maiden, Stryper, Testament. Fora este material sonoro, meus amigos e eu comprávamos revistas que falavam deste gênero musical, como a Rodie Crew”, recorda.

Para ele, o disco físico virou item de colecionador tanto quanto o vinil, especialmente pela qualidade sonora. Porém, apesar da facilidade do streaming, apenas o álbum físico consegue proporcionar algumas experiências, como as capas e encardes que compõem todo o produto.

“Cada disco ‘fechado’ é uma proposta da banda, e isso foi perdido. No streaming você pode escolher ouvir apenas um álbum, mas não contará com o encarte como material de apoio das músicas, por exemplo. No streaming vai muito no aleatório”, relata.

Guilherme ainda revela que “migrou sem perceber” para o streaming, por isso decidiu passar os seus álbuns adiante.

“Eu olhava para meus CDs na prateleira, escolhia a banda e tocava no streaming […] Primeiro decidi vender o aparelho de som que estava apenas ‘entulhado’ em minha sala, e depois coloquei a primeira coleção menos apreciada para a venda. Vi que a essência da música está dentro de você e não na quantidade de discos que você tem”, conclui o servidor público.

Cada época tem a sua música 

Fã de música desde criança, a Doralice é apaixonada por CDs e vinil. Em Campo Grande, ela tem uma vasta coleção regional, nacional e internacional em ambos os formatos. Natural de Maringá, no Paraná, Doralice se mudou para Campo Grande com 200 discos de vinil. Hoje, o seu acervo pessoal já ultrapassa a casa de 32 mil discos. Desse total, 600 são apenas dos artistas de Mato Grosso do Sul, além de 3.600 CDs nos mais variados estilos. O número é tão grande, que a aposentada de 65 anos construiu um espaço a mais no terreno para guardar sua coleção.

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Doralice tem vasta coleção de CDs e LPs (Foto: Henrique Arakaki/Jornal Midiamax)

Ao Jornal Midiamax, Alves recorda que começou a colecionar os CDs na década de 90, quando o formato chegou ao Brasil. Os primeiros discos foram das bandas The Beatles, Bee Gees, The Rolling Stone, Pink Floyd e Roberto Carlos. Depois que o CD ocupou a preferência do vinil, o formato maior parou de ser amplamente fabricado a partir de 1995, quando, então, começou a época imperial do CD no Brasil.

“A música é isso, a cada dia vai melhorando e vai entrando na onda digital. Eu sou totalmente eclética, visto que gosto muito de rock, mas quando eu me mudei para MS, 30 anos atrás, começaram a aparecer os CDs. Gosto de tudo. Falou que é música tô dentro”, diz Doralice.

Cultura do descarte

Ainda segundo a mulher, sua coleção em CDs é vasta. Além de ter adquirido os CDs de gravadoras, ela também remasterizou os vinis de vários artistas regionais, como Délio e Delinha, para o novo formato. Ao todo, são 17 CDs e mais uma coletânea de Délio e Delinha. 

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(Foto: Henrique Arakaki/Jornal Midiamax)

Dessa forma, muita gente procura ela para comprar os discos. Porém, ela afirma que a maior parte da sua clientela é composta por colecionadores. Uma vez que o digital ganhou a preferência, o CD passou a ser descartado.

“As pessoas praticamente não adquirem mais, só mesmo colecionadores porque você pode baixar tudo da Internet, colocar num pendrive só as músicas que você gosta. Mas eu, como sou eclética e colecionadora, eu continuo comprando os CDs e os LPs, que estão sendo lançados novamente. Minha última aquisição foi o LP do Luan Santana”.

Ela ainda revela que o mercado vem investindo ainda nos formatos antigos, como relançamentos de álbuns novos em vinil. Para Doralice, a vida útil do CD ainda é desconhecida, mas promete ser longa. “Tenho CDs de 30 anos e são bons até hoje”.