A procura de uma renda fixa, já que estava trabalhando como motorista de aplicativo, Bruna Lima, de 21 anos, relata discriminação durante uma seletiva para vaga de motorista em um supermercado no bairro , em Campo Grande, na sexta-feira (20). A jovem desabafou sobre o constrangimento da equipe, que negou várias vezes um teste e entrevista na área de interesse.

No mesmo dia, Bruna foi até uma lan house imprimir o currículo atualizado, organizou a rotina para participar da seleção. A área visada era apenas uma: motorista. Segundo ela, a única exigência descrita no cargo era ter CNH (Carteira Nacional de Habilitação) AB, critério que ela atendia. Entretanto, já na triagem, enfrentou dificuldades.

“Ele me perguntou em tom desconfiado se realmente tinha carteira. Eu tenho aparência de mais nova, mas mostrei minha CNH. Ele disse: olha, não vou colocar que você quer a vaga de motorista, mas de repositor. Eu disse que queria de motorista e ele me passou para falar com a funcionária. Ela voltou a questionar: você consegue dirigir o carro da empresa? Ela também disse que tinha entrevista para repositor. Voltei a dizer que tinha no papel a vaga de motorista”, disse.

Ainda segundo a candidata, uma terceira pessoa para seleção foi chamada, esta também seria funcionária da rede, que teria insistido na seleção de repositor, vaga que Bruna negou por se encaixar no cargo de motorista. A entrevista se estendeu, mas sem opção de teste para o que a trabalhadora realmente queria.

“Eu questionei por que não queriam me entrevistar para a vaga de motorista, perguntei se era pelo meu tamanho, pela minha aparência, elas olharam uma para outra e riram, não me responderam. Uma delas terminou: tem entrevista para repositor de frios outro dia 7h, se você quiser. São pessoas que postam em redes sociais que uma mulher tem que ajudar a outra, mas quando chegam situações como essa, em que uma mulher quer uma vaga onde geralmente são preenchidas por homens, é motivo de piada”.

Além da frustração da discriminação, Bruna diz que teve gastos para participar da seleção, como com a impressão do currículo, horário que ficou “parada” na entrevista e o combustível. Apesar do freelance, ela conta que precisa de uma renda fixa.

“Moro próximo do mercado, expliquei que tenho experiência por fazer corridas de motorista de aplicativo. Minha estrutura física não justifica minha capacidade de querer trabalhar, de prestar um serviço de excelência. Fizeram pouco caso, o que me dói foi o deboche. Na teoria não descreve que a vaga tem gênero, mas, na prática, teve preconceito. No fim, perdem um bom funcionário”.

Em nota a (Fundação Social do Trabalho) informou que quando existe mais de uma vaga que representa a mesma ocupação ou CBO (Classificação Brasileira de Ocupações), o sistema não aceita que encaminhe a pessoa para a mesma classificação, assim como para a mesma empresa (CNPJ).

“A candidata em questão estava interessada nas vagas para repositor e motorista, então não era possível realizar dois encaminhamentos. Isso devido à configuração do próprio sistema. O atendente então informou que ela seria encaminhada para a vaga de repositor, mas na hora da entrevista ela poderia demonstrar o interesse na vaga de motorista. Quanto à CNH, a candidata só foi questionada porque o atendente estava atualizando o cadastro dela. Também não foi informado pelo atendente da Funsat que a vaga para motorista era exclusivamente para o sexo masculino, como a candidata relatou”, diz a nota.

A reportagem entrou em contato com a unidade do Pires no Aero Rancho e a sede, entretanto, não obteve retorno da empresa até a publicação.

*Material atualizado para acréscimo da nota da Funsat às 17h20 do dia 21 de outubro.