O período de inscrições para o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) 2023 termina nesta sexta-feira (16) em todo o Brasil. Principal porta de entrada para o Ensino Superior, todos os anos o Enem muda a realidade de milhares de jovens pelo país.

Primeiro da família a ingressar no Ensino Superior, João Victor de Oliveira Ribas, 25, viu sua vida mudar aos 18 anos quando ingressou no curso de Física na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul).

“Entrei na UFMS pela nota do Enem, no sistema de cotas raciais e escola pública. Isso abriu minhas perspectivas de vida e trouxe possibilidades inimagináveis. Fui o primeiro do núcleo principal da minha família a entrar e se não fosse pelo Enem não sei se teria chegado até aqui”, relata.

Para um jovem negro e estudante de escola pública, chegar a uma Universidade Federal é mais que uma conquista, perpassa barreiras sociais e quebra paradigmas impostos pela sociedade.

“O Enem e as ações afirmativas como Sisu (Sistema de Seleção Unificada) e as cotas viabilizam a entrada ao Ensino Superior, isso é um fato. Se pegar os dados e comparar como era antes da criação vai ver que tinha muito menos pessoas como eu ocupando esses espaços”, destacou.

Como estudante de escola pública, diversas vezes Ribas se sentiu despreparado, por considerar que o ensino público possui muitas lacunas e não prepara os estudantes de forma adequada para o ingresso ao ensino superior.

“A má formação no ensino básico me fez ter dificuldades ao longo da graduação. Sem ter uma base bem consolidada foi difícil seguir tranquilo no curso, principalmente em matemática porque o Ensino Médio não prepara e era algo que meu curso exigia muito”, disse Ribas.

Lei de cotas e a democratização do ensino

Criada em 2012, a Lei nº 12.711, também conhecida como Lei de Cotas, foi idealizada para democratizar o acesso ao Ensino Superior no Brasil. A legislação determina que metade das vagas de instituições de ensino superiores públicas devem ser destinadas a candidatos que estudaram os três anos do ensino médio na rede pública.

No percentual de vagas reservadas a alunos da rede pública, metade deve ser para estudantes com renda familiar mensal por pessoa igual ou menor a 1,5 salário mínimo e a outra metade com renda maior que esse valor.

Em cada faixa de renda, as vagas são reservadas para candidatos autodeclarados PPI (Pretos, Pardos e Indígenas). Essas oportunidades entram na categoria de cotas raciais. Em 2017, PcDs (Pessoas com Deficiência) passaram a fazer parte das vagas destinadas à Lei de Cotas.

A partir disso, candidatos que prestaram o Enem e se enquadram nos critérios, podem se inscrever no sistema de cotas para conquistar o tão sonhado diploma. Desde a criação da Lei, a presença de negros nas universidades do país cresceu exponencialmente.

Dados da pesquisa elaborada pelo Quero Bolsa a partir do Censo da Educação Superior de 2018 apontam que de 2009 a 2012, o crescimento foi de 4,4 pontos percentuais, ou seja, 13,3%.

Entre 2012 a 2018, seis anos após a criação da Lei, o percentual teve um aumento 22,5 pontos, o que corresponde a 35,8% de aumento de jovens negros nas universidades.

Mesmo em meio às adversidades, hoje, aos 25 anos, João Ribas cursa Mestrado em Ciência dos Materiais na UFMS e planeja seguir na carreira acadêmica.

“Agora minha meta é terminar o Mestrado e depois seguir para o Doutorado. Depois disso pretendo entrar em alguma universidade, talvez um pós-doc, e seguir na minha linha de pesquisa”, relatou.

Enem 2023

Desde 1998, o Enem avalia o desempenho escolar dos estudantes ao término da educação básica (3º ano) e tornou-se um das principais formas de ingresso aos cursos de graduação. Neste ano, as provas serão aplicadas nos dias 5 e 12 de novembro.

Por meio do Enem é possível se inscrever em programas do MEC (Ministério da Educação) como o Sisu (Sistema de Seleção Unificada), ProUni (Programa Universidade para Todos) e Fies (Fundo de Financiamento Estudantil).

Interessados em participar do Exame devem se cadastrar pela Página do Participante no site do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) até essa sexta-feira (16). O valor da taxa de inscrição é R$ 85 e deve ser pago até 21 de junho.

Os gabaritos das provas objetivas serão publicados no dia 24 de novembro no portal do Inep. A previsão é que os resultados individuais sejam divulgados no dia 16 de janeiro de 2024.

Inscrições

As inscrições devem ser feitas diretamente na página do participante pelo site: https://enem.inep.gov.br/participante/. A taxa de inscrição pode ser paga por boleto, gerado na Página do Participante, Pix, cartão de crédito, débito em conta-corrente ou poupança, caixas eletrônicos, agências bancárias e lotéricas.