Na correria do dia a dia atendendo ocorrências em uma ambulância do Samu em Campo Grande (MS), a enfermeira Cássia Gomes Silva nem sempre tem tempo de ver o pai. Mas, esta semana, enquanto a viatura passava pelo Centro, a profissional da saúde achou o genitor vendendo churros na Rua 14 de Julho e aproveitou a oportunidade para se declarar.
A cena emocionou a enfermeira, que, sem atendimentos para realizar no momento, decidiu descer da ambulância, comprou um churros e apresentou a figura paterna ao colega de trabalho que a acompanhava.
Aos 72 anos, o senhor Brasilino é conhecido no Centro da Capital por ter vendido o doce na região durante mais de 30 anos, até se aposentar e passar o ponto para um de seus herdeiros. Morador da Vila Nhá Nhá, ele é orgulho dos filhos e criou todos com a venda do produto.

Encontro especial: “a gente não sabe até quando vai estar com a pessoa”
Ao Jornal Midiamax, a enfermeira explica que, apesar de morar na mesma cidade, muitas vezes fica um bom tempo sem conseguir encontrá-lo. Por isso, ficou surpresa ao vê-lo de volta à esquina das ruas Dom Aquino e 14 de Julho, onde voltou a fazer vendas desde o final do ano passado.
“Faz tempo que eu não via meu pai ali no Centro, vi ele esses dias que foi aniversário dele, levei bolo, a gente cantou parabéns. Aí falei para o meu colega: ‘para a ambulância, vamos pegar um churros’, dei um abraço nele e tirei umas fotos. Porque, independente da idade, a gente não sabe até quando vai estar com a pessoa, então temos que aproveitar isso”, explica.
Todos os quatro filhos, sendo um já falecido, cresceram vendo o patriarca se esforçar para dar o melhor. Com a mãe debilitada, o ambulante criou os descendentes praticamente sozinho e hoje é referência suprema para eles. Tanto que um dos filhos decidiu seguir o legado ao assumir o ponto na área central da cidade.

Vendedor de churros escolheu ser ambulante para cuidar da esposa, hoje já falecida
Atualmente, Brasilino trabalha quando quer, para não ficar parado, passar o tempo e ainda ganhar um dinheirinho extra além da aposentadoria, conquistada após muito suor. Hoje, ele prefere pontos mais próximos do bairro onde mora, mas é no Centro que construiu seu nome.
Em conversa com a reportagem, a filha recorda que, antes de vir para Campo Grande, há mais de três décadas, Brasilino vivia em São Paulo. E foi em busca de um lugar tranquilo e menos violento que escolheu a Capital sul-mato-grossense para morar e constituir sua família.
“Antigamente ele era pedreiro e depois entrou nessa profissão de vendedor autônomo para cuidar da minha mãe, que sofria de transtorno bipolar e dependia de uma atenção especial”, recorda a enfermeira.

Uma vida dedicada ao churros
Antes de vender churros, o idoso chegou a ser pipoqueiro, mas foi produzindo o doce frito e recheado que consolidou seu ofício e virou figura carimbada do Centro. “Toda vida ele trabalhou com isso e foi desse jeito. Eu sinto bastante orgulho, por mais que a infância tenha sido difícil, meu pai sempre correu atrás e tentou fazer o melhor, foi assim que ele criou eu e meus irmãos, vendendo churros”, comenta a enfermeira.
“Tenho muito orgulho dele e nunca tive vergonha de dizer que meu pai era um vendedor ambulante. Fui criada na simplicidade, mas tive os melhores exemplos do mundo de um homem trabalhador que deu todo o seu melhor pra cuidar da sua família”, salienta a campo-grandense.
A mãe de Cássia faleceu em 2020 e, algum tempo depois, o pai casou novamente. Foi quando deixou o ponto no Centro e só voltou no fim de 2024, para aproveitar o movimento da época de Natal.
Por isso, o encontro na 14 esta semana ficou marcado para ela, que teve a oportunidade de ver novamente sua maior referência na ativa, fazendo o que ama e deu sustento à família por toda uma vida.
“Meu pai vem na minha casa e não me encontra porque eu trabalho na área da saúde e é difícil parar. Então vi ele ali no Centro e aproveitei a oportunidade pra dar um abraço e comer o churros dele, que também sente muito orgulho da gente”, finaliza ela.

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