Mal instalados, lasers de festa podem danificar visão e dar prejuízos em mais de R$ 12 mil
Lasers são grandes atrativos visuais em eventos, mas especialistas ressaltam a importância da instalação correta para evitar danos. Falta de regulamentação é desafio no Brasil
Nathália Rabelo –
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Você já viu eles pode aí? Muitas vezes indispensáveis em festas, os lasers têm grande impacto visual e dão um toque a mais na iluminação de qualquer evento. No entanto, a falta de regulamentação e abrangência de marcas no mercado reforçam o perigo que equipamentos podem ocasionar quando mal instalados, principalmente ao se tratar de danos na visão até prejuízos financeiros somados em mais de R$ 12 mil. Dessa forma, profissionais de imagem e saúde de Campo Grande se unem para campanha de conscientização sobre a utilização dos lasers e qual a melhor forma de evitar problemas.
O assunto começou a ganhar ainda mais força em 2022, quando um fã alegou ter a câmera do celular queimada pelos lasers utilizados no show do DJ Alok durante o Rock In Rio do mesmo ano. Na época, o artista se defendeu das acusações e alegou que todos os feixes estavam direcionados para cima, o que impossibilitaria o ocorrido se o fã estivesse filmando da pista. No entanto, os casos não se restringem a grandes festivais.
Cyro Clemente de Oliveira tem 43 anos e está encabeçado no movimento em Campo Grande. Ele trabalha com captação de vídeos e realização de eventos e afirma ao Jornal Midiamax que os lasers sempre foram grandes obstáculos, especialmente quando se trata de eventos menores e DJs locais usam marcas mais baratas e sem procedência, por exemplo.
“O laser existe há muitos anos e chegou num ponto em que as pessoas viram que estava dando prejuízos, então pararam de utilizar até os anos 2000. Cerca de cinco anos atrás o Alok começou a utilizar, então os locais começaram a copiar a ideia também. Hoje é fácil encontrar e o laser custa uns R$ 100 no Aliexpress, o que é muito mais barato do que investir em iluminação. O problema está na falta de certificação, diferente nos Estados Unidos que têm proibição de alguns lasers”, exemplifica o profissional.
Para Cyro, esse é o grande diferencial. Enquanto em festas menores os lasers são colocados sem muita preocupação, a situação muda quando se trata de grandes eventos. Nesses, os produtores se preocupam em colocar na angulação correta para minimizar os riscos e optam por feixes de melhor qualidade.
“Eu fiz essa campanha de conscientização porque eu percebi que as pessoas não sabem que o laser pode ocasionar esse tipo de problema”, defende Cyro. Dessa forma, o movimento já conta com 33 profissionais de foto e vídeos, sendo que muitos deles já sentiram no bolso a falta de regulamentação de lasers no país.
Prejuízo de R$ 12 mil
Fotógrafo há oito anos em Campo Grande, Ricardo Correa Gomes passou por triste situação ocasionada pela má utilização de lasers. Durante a cobertura da cerimônia de casamento no início de abril, as luzes verdes foram ligadas pelo DJ da festa e atingiram o sensor da sua câmera profissional. O estrago foi percebido na hora: fotografias com risco branco e comprometidas.
“Na hora eu gelei. Na verdade, eu até passei mal porque o laser tinha atingido o sensor e realmente tinha danificado porque tinha uma linha branca nas fotos e a luz do laser queima os pixels”, recorda. A boa notícia é que Ricardo tinha uma câmera reserva para terminar o trabalho, mas ainda precisou lidar com o prejuízo de R$ 12 mil do equipamento estragado, que tinha apenas seis meses de uso até então.
Ao Jornal Midiamax, Ricardo afirma que colegas de trabalho fizeram vaquinha e conseguiram arrecadar o valor, mas, mesmo assim, se sente preocupado com futuras situações.
“O pessoal usa o laser voltado para as pessoas, mas quando se usa em evento, precisa ser usado para cima porque o laser pode danificar a visão, pode estragar a câmera do próprio celular e essas câmeras novas com sensores novos, modernos e mais sensíveis”, defende.
O que fazer nesses casos?
Segundo a advogada Hellen Almeida, a falta de regularização da fabricação, compra e instalação dos lasers é uma realidade no Brasil. Por isso, uma das formas dos profissionais de imagens se protegerem começa na elaboração do contrato de prestação de serviços, onde é possível incluir cláusulas com legislação específica sobre o laser, assim como, cláusulas de obrigações para os contratantes dos lasers.
“É recomendado pontuar em momento anterior ao evento, que o profissional de foto ou vídeo converse com o DJ e com a empresa de iluminação contratada e verifique qual será o momento de utilização do laser, altura que irá atingir e as informações devidas que os profissionais de iluminação precisam passar, além do mais, os lasers baratos comprados em sites chineses são os que mais causam prejuízos. Por isso, a má utilização do laser pode ocasionar o prejuízo nas câmeras e até mesmo na visão. Claro, que o diálogo sempre será a primeira recomendação”, explica.
Além disso, a partir do momento que os contratantes autorizam a utilização desses lasers, que são nocivos para os aparelhos eletrônicos e para a visão, eles passam a ser responsáveis por qualquer prejuízo.
“Primeiramente cabe a tentativa de negociação extrajudicial, caso reste infrutífera, caberá ingresso de Ação Judicial”, pontua a especialista. Porém, é importante destacar que os prejuízos vão além dos materiais, podendo ocasionar em danos irreversíveis à visão.
É importante desviar o olhar
Uma vez que a instalação inadequada de lasers pode ocasionar problemas na visão, o oftalmologista Arthur Rezende explica que as pessoas devem sempre desviar o olhar do foco do feixe de luz.
Especialista na saúde ocular, ele explica que toda energia luminosa entra nos olhos até encontrar a retina, o que possibilita as pessoas a verem. A luz tem diversos comprimentos de ondas que determinam a nocividade aos olhos.
“Existem lasers usados para tratamento dos olhos. O grande problema é que os de festas e os usados para distrair jogadores de futebol não se sabe, exatamente, qual o comprimento de onda desses tipos de laser. Dependendo disso pode vir a causar lesões na retina, especialmente se tiver longo tempo de exposição”, diz.
Dentre as consequências, o médico ressalta sequelas como perda da visão central, uma vez que ela pode ficar borrada. Além disso, uma vez constatada a queimadura da retina, a situação é normalmente irreversível.
Então, todas as vezes que for a um evento, Arthur orienta a não olhar diretamente ao ponto do laser. Caso a luz incomode, troque de lugar.
“Não é para gerar nenhum pânico, mas as autoridades deveriam ter regulamentação clara quanto ao uso do laser. Além disso, não deixa ninguém ligar laser nos seus olhos. Se sentir qualquer desconforto, procure ajuda de um oftalmologista”, conclui o oftalmologista.
Como instalar lasers?
Zander Lacerda é especialista na instalação de lasers e ficou, inclusive, responsável pela iluminação da Expogrande 2023. Ele define alguns critérios para a utilização dos aparelhos:
- Os lasers têm que ser montados no mínimo a dois metros de altura do chão ou palco/tablado;
- Precisa ser direcionado para cima no ângulo de 30° para que os raios passem sempre acima da cabeça das pessoas.
Ele ainda explica que não existe limite de quantidade de lasers para utilização em um evento, variando de acordo com cada projeto e podendo ser utilizados em ambientes abertos ou fechados.
“Outro detalhe é que caso haja globos ou espelhos no evento, também tem que ser feito o controle de potência para em caso de reflexão dos lasers eles não danifiquem as câmeras”, explica. Para evitar esse e outros danos, é importante seguir os critérios citados acima.
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