Experiências que marcaram como tatuagem celebram Dia do Repórter
Jornal Midiamax celebra o Dia do Repórter compartilhando relatos de profissionais que tiveram a vida marcada por reportagens que escreveram
Da Redação –
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De qualquer ponto do mundo que tenha acesso à internet, basta interagir com a tela do celular para conferir as notícias e reportagens que diariamente são publicadas no Jornal Midiamax. Da previsão do tempo às ocorrências policiais. Dos gastos do poder público à sucuri que impressionou as redes sociais, todo dia, inclusive sábado e domingo, tem matéria no ar.
5h30 da manhã. É neste horário que as luzes da redação são acesas para mais um dia de jornada com pautas e rotas definidas. Desse horário pra frente, começa o vai e vem de gente. As lâmpadas, porém, só são desligadas dali a mais de 20 horas, quando o último profissional deixa o local, no começo da madrugada do dia seguinte.
Por trás de cada notícia, uma equipe de 40 profissionais se divide em três turnos para produzir e qualificar a informação que – na maioria das vezes – chega crua à redação. Daí, é apurar, entrevistar, checar, escrever, editar, publicar, acompanhar.
Portanto, não é à toa que existe um dia dedicado a esta categoria, hoje, 16 de fevereiro, Dia do Repórter – a base de qualquer jornal, seja quando os ônibus param, quando as aulas começam, quando a gasolina sobe, quando multidões vão às ruas. Faça chuva ou faça sol. Mas, isso vocês já sabem.
Olhar de repórter
No entanto, o que os leitores não sabem, é que ao longo dessa jornada, o repórter sente o coração palpitar. Ri, chora, sente raiva, alívio. Às vezes, tudo ao mesmo tempo. Transformar fatos em notícias é, de certa forma, vivê-los. E cada uma das experiências que todos os dias surgem deixam marcas, para o bem ou para o mal.
Para celebrar essa data, o Jornal Midiamax convidou repórteres a compartilharem experiências que persistem nas lembranças, quando uma notícia transforma, enriquece ou entristece. Acompanhe os relatos destes profissionais a seguir.
Abandono e solidão que acompanham quem perambula pelas ruas
Entre as atividades inerentes a nós jornalistas, as mais sensíveis são as que nos colocam diante da impotência de gente assim como a gente, e nos fazem entender e reconhecer a fragilidade da vida.
No último mês, durante produção de uma série de reportagens do Jornal Midiamax sobre consumo de substâncias ilícitas, passei horas na antiga rodoviária da cidade ouvindo histórias de quem perdeu a luta para o vício em drogas.
A cada relato colhido, sensação e cheiro sentidos, a cada toque e olhar apreciado, aumentavam também o medo, incerteza, descrença no ser humano e, ao mesmo tempo, a empatia pelo próximo.
A mim, coube a difícil missão de traduzir todos os sentimentos em palavras, um texto que retratou a realidade de quem está à margem da sociedade, mas também falou muito sobre a experiência de quem se propôs a ouvir.
(Clayton Neves, repórter do Núcleo de Cotidiano do Jornal Midiamax)
Quando os nomes desaparecem e as mortes se tornam números
Praticamente toda a equipe em teletrabalho. Na editoria de Mundo, noticiávamos as centenas de mortes diárias na Itália. Dez, doze, às vezes 20 matérias por dia, entre notas, notícias factuais e reportagens que esclareciam mais sobre a doença misteriosa. Acompanhávamos os boletins, buscamos qualificação para entender melhor estatística e epidemiologia. Mas, algumas semanas depois, fim de março de 2020, a redação já tinha entendido que o lockdown não acabaria tão rápido. Lembro bem que a primeira vítima de covid-19 de Mato Grosso do Sul deixou a equipe mais ciente que as coisas só iam piorar nas próximas semanas.
Escrever sobre morte sempre é muito difícil. Na maioria das vezes, tentamos imprimir no texto que aquela pessoa era amada, que faria falta. Fizemos isso com, talvez, as 15 primeiras vítimas – a SES (Secretaria de Estado de Saúde) não divulgava nomes, precisávamos investigar nas cidades e nas redes sociais quem eram, buscar por parentes, amigos…
Até que não deu mais, o número de pessoas que morriam era maior que a capacidade que tínhamos para pesquisar sobre elas. Tornaram-se números. Em agosto de 2020, seriam cerca de 900 vítimas, quase todas sem nome nas matérias.
Saber que os velórios eram inexistentes e que as famílias tinham 20 minutos, de longe, para se despedir, me deixou em pedaços. Da sala da minha casa, participei de uma reunião na qual decidimos editorialmente que não dava mais para tentar identificar todas as vítimas. Sentado, desviei o olhar do computador e vi minha mãe na cozinha, cantarolando enquanto preparava nosso almoço. Tanta coisa me passou pela cabeça… A garganta engasga só de lembrar o medo que tive de perdê-la.
(Guilherme Cavalcante, atualmente, editor de pauta. Iniciou a carreira no Jornal Midiamax como repórter)
A esperança que chega de avião
Um dos momentos mais marcantes na minha carreira como repórter foi, com certeza, escrever sobre a chegada do primeiro lote de vacinas contra Covid a Mato Grosso do Sul. Em janeiro de 2021, a situação já tinha melhorado um pouco, mas vivíamos um momento repleto de incertezas no mundo inteiro. Aqui, as vacinas atrasaram, estavam cercadas de polêmicas.
Daí, saber que nosso Estado estava recebendo as primeiras doses foi uma felicidade gigantesca. Escrever sobre esse momento foi gratificante. Saber que muitas pessoas estavam lendo sobre esse momento histórico em MS pelas minhas palavras foi engrandecedor.
Do primeiro lote aos quase 80% de moradores totalmente imunizados hoje, parece inacreditável. Esperança em forma de notícia.
(Mariane Chianezi, atualmente, repórter do núcleo de Política e Transparência do Jornal Midiamax)
Violência que todo dia dilacera sonhos
Não esqueço do caso da menina “Estrelinha”. O crime foi muito brutal. Além do assassinato, a menina enfrentava sérios problemas familiares desde tão pequena. Ainda criança já era “responsável” pelos irmãos mais novos.
Após o crime, eu fui até o bairro em que ela morava e conversei com os seus vizinhos. Saber mais como era a vida dela e todas as suas dificuldades foi algo marcante para mim. Mesmo com as adversidades da vida, ela era conhecida por sua alegria. Até a apelidaram de “Estrelinha”, porque era o que ela mais gostava de fazer nos pequenos momentos de distração.
Era uma criança estudiosa e que certamente teria um futuro brilhante pela frente. A forma que ela morreu e saber tudo o que ela enfrentou com os poucos anos de vida que ela tinha foi algo bem devastador.
(Anna Gomes, atualmente, repórter do Núcleo de Política e Transparência)
Todo dia, novas experiências que ampliam horizontes
Você já se questionou o que acontece com os autistas que atingem a maioridade e se veem sem os auxílios que tinham na infância? O que acontece com as famílias? Onde esses indivíduos são tratados? Fui atrás dessas respostas para uma reportagem.
Lembro que conversei com várias famílias de autistas severos, bem como com pessoas que só tiveram um diagnóstico tardiamente. Os relatos foram tão fortes, tão poderosos, que reservei um momento na redação para chorar em silêncio.
Na época, pensei: ‘eu vou fazer a melhor matéria da minha vida e as palavras serão minha forma de protesto’. Foi assim que o texto nasceu.
(Nathália Rabelo, atualmente repórter do Núcleo de Cotidiano)
Testemunhar a solidão que se escancara na tragédia
Uma situação que me marcou muito foi quando um trecho da Avenida Guaicurus alagou no ano passado. Nesse dia nem os carros conseguiam atravessar e a água descia em direção aos barracos que margeiam a avenida. Nesse local, a gente encontrou um senhor catador de recicláveis, com mais de 70 anos, e seu barraco construído literalmente no barranco.
Se aquela área desmoronasse ia levar tudo para o córrego. Ele estava lá, sentado sozinho debaixo da árvore porque chovia mais dentro da casinha de lona e madeira do que do lado de fora. Vê-lo sozinho, sem família no mundo, naquele momento, marcou muito.
(Thalya Godoy, repórter do Núcleo de Cotidiano)
A dor da perda e o peso do que o repórter escreve
Comecei a fazer polícia no Jornal Midiamax e sabia que o jornalista Léo Veras, que atuava na região de fronteira com o Paraguai, tinha uma boa relação com a editoria.
Com um tempo, conquistei a confiança dele e comecei a receber algumas sugestões de pauta que ele não tinha como tocar – a fronteira é perigosa para um jornalista, principalmente para quem cobre o narcotráfico na região, que era o caso dele.
Com os anos, criamos amizade, falávamos toda semana. Há exatos três anos, eu chegava na redação e ia conferir o que havia sido publicado na noite anterior. A última notícia era de que ele havia sido assassinado. Uma pessoa tão querida e próxima, um parceiro. Além da tristeza, foi a primeira vez que eu tive dimensão dos riscos da minha profissão.
(Thatiana Mello, subeditora do núcleo de Polícia. Iniciou a carreira no Jornal Midiamax como repórter)
Surpresas boas que marcam como tatuagem a vida de repórter
Nestes 14 anos de jornalismo, conhecer pessoas e histórias é um presente diário e que me fortalece a cada dia na profissão. Atair, um homem que teve a vida transformada após sofrer um acidente, tinha tudo para ser só mais uma história, mas o que encontrei com ele me marcou naquele dia. E vai me marcar para sempre.
Eu senti algo diferente desde que desci do carro e chamei por ele na recepção. O local reservado para a conversa, um lindo jardim e a paz na equipe só antecederam o que tinha por vir. O fisioterapeuta, a todo momento o qualificando como amigo, me deixou muito grata pela vida e pelas verdadeiras amizades.
Ao conhecê-lo, tivemos uma entrevista intensa e rápida, que intercalou momentos de emoção, tristeza, fé e diversão. Um presente que o Midiamax me deu.
(Graziela Rezende, atualmente subeditora do Núcleo MidiaMAIS. Iniciou a carreira no Jornal Midiamax como repórter)
Quando o fato não vira notícia, mas salva uma vida
Em um plantão de final de semana, o WhatsApp do jornal recebeu uma mensagem de uma mãe desesperada. O filho dela estava padecendo de meningite na cama de uma UPA e precisava com urgência de transferência em uma vaga de UTI.
Ela enviou um vídeo dele com uma música gospel e aquilo me tocou de uma maneira… Um menino novo, 13 anos, com aparência realmente desfalecida, ele se contorcia de dor. Eu pensei no desespero daquela mãe e na vida daquele garoto.
Com uma mensagem para o órgão competente, em menos de 30 minutos ela conseguiu a vaga que precisava. Não virou matéria. Mas, naquele dia, eu senti o poder do jornalismo, que, às vezes, com uma mensagem pode ajudar a salvar vidas.
E foi o que aconteceu. No dia seguinte, retornei o contato para saber se o garoto estava melhor e ela enviou um vídeo dele almoçando. Poder ajudar essa mãe e esse adolescente por uma mensagem de WhatsApp aprumou meu olhar sobre a profissão.
(João Ramos, repórter do Núcleo MidiaMAIS)
As mãos delas limpam túmulos
Conhecer histórias certamente é marcante, entender a vivência do outro. Uma matéria que me marcou foi sobre mulheres que limpavam túmulos em cemitérios em Campo Grande.
Pude conhecer o relato de como conseguiram formar os filhos, construir a própria casa com o esforço do dia a dia, por mais fúnebre que pareça, as personagens Luzinete e Claudia divertiram a pauta.
(Karina Campos, repórter do Núcleo de Cotidiano)
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