Contra marco temporal, indígenas bloqueiam MS-384 durante protesto

Congestionamento ainda é pequeno no trecho interditado, segundo a PMR, por conta do fluxo reduzido de veículos

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(Brasiguaio News)

Com galhos e troncos de árvores, indígenas bloqueiam na manhã desta quarta-feira (30) a rodovia estadual MS-384 na região do Distrito Campestre, na cidade de Antônio João, a 281 km de Campo Grande.

A manifestação seria em decorrência do julgamento sobre o marco temporal no STF (Supremo Tribunal Federal) retomado hoje, e prevê a necessidade de que uma área tenha sido ocupada até 5 de outubro de 1988 (data da promulgação da Constituição federal), para poder ser demarcada como terra indígena.

Em Mato Grosso do Sul, até o momento foi confirmado um bloqueio no km 34 da rodovia, segundo a PMR (Polícia Militar Rodoviária). Não há detalhes de quantas pessoas fazem parte do protesto.

Segundo apurado, o bloqueio iniciou por volta das 9h, porém o congestionamento no local não é grande, por conta do fluxo pequeno de veículos.

Marco temporal

A ministra Rosa Weber, presidente do STF, incluiu o tema na pauta desta quarta-feira após o ministro André Mendonça pedir vista em junho e devolver o caso para avaliação da Corte.

Mendonça havia se comprometido a devolver a ação a tempo de Rosa proferir seu voto. A presidente do Supremo vai se aposentar no dia 2 de outubro, quando completará 75 anos, e a questão indígena tem sido uma das marcas de sua gestão.

Até o julgamento ser suspenso, o placar no STF estava em 2 a 1 para derrubar a tese do marco temporal. Os ministros Edson Fachin e Alexandre de Moraes se manifestaram contra o entendimento; Kassio Nunes Marques votou a favor.

Como votaram os deputados federais de MS sobre o Marco Temporal:

A favor

  • Beto Pereira (PSDB);
  • Luiz Ovando (PP);
  • Geraldo Resende (PSDB);
  • Marcos Pollon (PL);
  • Rodolfo Nogueira (PL).

Contra

  • Vander Loubet (PT);
  • Dagoberto Nogueira (PSDB);
  • Camila Jara (PT).

O que o projeto altera nas terras em Mato Grosso do Sul?

O Projeto de Lei foi proposto em 2007 pelo então deputado Homero Pereira com a intenção de trazer harmonia entre os Três Poderes sobre a demarcação de terras indígenas, já que o assunto estava restrito ao Poder Executivo, por meio da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas), na Lei nº 6.001/73, conhecido como Estatuto do Índio.

O PL 490/07 foi amplamente defendido pela bancada ruralista da Câmara e agora segue para votação no Senado Federal.

Já a quantidade de áreas de Mato Grosso do Sul que podem ser afetadas pelo Marco Temporal diverge de entidade para entidade.

Levantamento da Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul) aponta que o Estado tem 34 áreas com processo demarcatório concluído (regularizadas ou homologadas), 15 em processo (delimitadas ou declaradas) e 15 em estudo.

Ao mesmo tempo, existem mais de 150 propriedades ocupadas por indígenas, algumas com mais de vinte anos de ocupação.

Já o Cimi (Conselho Indigenista Missionário) afirma que é difícil precisar número de áreas, mas centenas de indígenas do Estado podem ser afetadas pelo Marco Temporal, já que há 119 acampamentos dos Guarani-Kaiowá, além dos acampamentos de outros povos.

A Funai estima que Mato Grosso do Sul tem, pelo menos, 26 áreas em processos de demarcação.

Áreas em cidades como Rio Brilhante e em Amambaí já viraram palco de conflitos entre indígenas e produtores rurais, ocasionando até mortes.

Um relatório da Pastoral da Terra apontou que um terço das mortes de indígenas em conflitos no campo em 2022 aconteceu em Mato Grosso do Sul.

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