A política de incentivo ao uso do GNV (Gás Natural Veicular) lançada na semana passada em Mato Grosso do Sul não anima empresários do setor de revenda de carros seminovos em . Isso porque o custo de um carro movido a gás é maior e, paralelamente, lucro dos garagistas é menor. Além disso, as vendas empacam porque a vistoria anual a que o carro com GNV precisa ser submetido continuará sendo cobrada.

O Jornal Midiamax mostrou em reportagem nesta segunda (19) que a clandestinidade domina a conversão de carros com GNV porque Campo Grande tem apenas uma empresa credenciada pelo Inmetro para o serviço. Além disso, há apenas 8 postos de combustível que abastecem com GNV em Mato Grosso do Sul, todos em Campo Grande. Por isso, quem compra um veículo com esse combustível fica limitado a rodar apenas na Capital.

Vendedor de uma loja de carros de usados na Capital, Claudecir Millian explica que a procura pelos carros com uso de GNV é muito baixa. “Se eu colocar um carro GNV aqui ele vai ficar mofando. Não vou conseguir vender”, diz ele ao Jornal Midiamax.

Para Claudeir, há duas saídas para trabalhar com um carro GNV:

  • Comprar o carro e fazer a troca – ou seja, custo com a manutenção – assim, vender pelo preço normal.
  • Ou pegar um carro GNV e vender mais barato.

“Não compensa. Primeiro que eu teria que vender só para quem é de Campo Grande, já que no interior não tem como abastecer. Segundo que fica mais caro para o vendedor”, explica.

Entre o pacote de incentivos lançado nesta semana pelo governador Eduardo Riedel (PSDB) está redução do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) de 17% para 12% no GNV para os revendedores e expansão da rede de gás veicular no Estado. 

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Carro seminovo (Foto: Kísie Ainoã/ Jornal Midiamax)

Carro é mais barato, mas ninguém compra

Para o vendedor Felipe Rolsback, a baixa procura por esse tipo de veículo nas garagens é o preconceito dos motoristas. “Não tem demanda. Muito causado por preconceito das pessoas, então acaba não tendo saída”, opina.

Segundo ele, mesmo com o incentivo do Governo de MS, a procura ainda deve continuar baixa. “O incentivo para gás deve ter um impacto pequeno, principalmente que o motivo é falta de procura. Não muda muito, mesmo vendendo mais barato”, conta Felipe à reportagem.

Um exemplo é um Renault Sandero ano 2012 e motor 1.6, que a venda é feita, em média, por R$ 28 mil. “Esse mesmo carro com GNV eu ia ter que vender por 25 mil, para conseguir vender. E ter também mais gastos com carro por conta do kit”, explica.

Outra medida anunciada por Riedel é a isenção do IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos) para veículos movidos por fontes alternativas de combustíveis.

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GNV (Foto: Henrique Arakaki/Jornal Midiamax)

Muito burocrático

Além da procura baixa pelos carros GNV, outro problema enfrentado pelos garagistas é a alta burocracia desse tipo de veículo. Segundo o vendedor Carlos da Silva, é necessário fazer uma vistoria anual nos equipamentos do gás.

“O GNV não paga só o documento do imposto. Também vai ter que pagar o documento do veículo, tem que fazer uma vistoria anual do GNV, precisa levar esse carro para fazer vistoria”, explica.

Segundo ele, o após a vistoria, o local envia o documento para uma autarquia e o ele só é liberado dentro de dois dias. Aí sim, segundo o garagista, é permitido quitar as contas do carro. “Todo ano tem esse gasto a mais, além do tempo, para manter esse carro na garagem”, diz.

Carlos também dá um exemplo da perda de lucro com a venda de um carro a GNV: “Eu tenho um Honda City por 78 mil. Teria que vender a 73 mil para sair. Eu teria que vender o carro 5 mil mais barato e ter esse custo anual com ele”, exemplifica.

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Alteração carro para GNV deve ser feita em oficina autorizada. (Foto: Henrique Arakaki/Jornal Midiamax)

Isenção de taxas

O diretor-presidente do Detran-MS (Departamento de Trânsito de Mato Grosso do Sul), Rudel Trindade, explicou que o órgão vai isentar quatro taxas para incentivar o consumo do GNV em MS.

Entre elas, estão a de instalação, vistoria, mudança de característica do veículo, que hoje somam cerca de R$ 650. “Hoje a importância de implementação do GNV é fundamental para o Estado. O aumento do consumo de gás boliviano reflete muito para o Estado e é uma nova matriz energética que temos que perseguir”, disse ele no lançamento.

Apesar da isenção das taxas no momento da conversão, conforme a publicação do Governo do Estado no Diário Oficial, não há previsão de isenção da taxa da vistoria anual, que custa R$ 100,96 ao motorista. Essa taxa “eterna” também faz com que os motoristas desanimem de adquirir um carro movido a GNV. A vistoria anual é feita para que a segurança do carro movido a gás seja atestada periodicamente.

Outro benefício previsto é a suspensão de cobrança de taxas cobradas pelo Detran. A MS Gás concederá ainda um vale-combustível de R$ 1 mil para novas conversões a GNV, suficiente para rodar 3 mil quilômetros.

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Recarga de GNV (Foto: Henrique Arakaki/Jornal Midiamax)

GNV estraga o carro?

Além da questão do custo e preconceito dos motoristas, outra situação pode explicar o carro a GNV ser tão restrito, mas com a economia com combustível: o medo de danificar o veículo.

Segundo o mecânico João Vargas, isso pode acontecer, mas é preciso observar alguns pontos. “O GNV não causa tanto problema. Os da geração 1 a 3 causavam porque o motorista não sabia usar”, diz ao Jornal Midiamax.

Ele explica que o GNV causa a queima seca e gera um atrito maior nos pistões, anéis e válvulas do carro. “Por falta de cuidado, uma pessoa ia durar 100 mil km no GNV, mas dura só 50 mil km”, garante.

Ele explica que é preciso que o motorista ligue o carro e rode um pouco no combustível líquido. Além disso, depois de um tempo rodando no GNV, é preciso voltar para o ‘líquido' para manter o bom funcionamento do mecanismo veicular.

“Eu aconselho que compensa um carro GNV se o motorista for cuidadoso, mas ele vai ter mais gastos com manutenção, que é mais cara e não é todo mundo que faz. Mas se for um cara cuidadoso, o GNV é mais barato, se for geração 5, ainda mais se for carro zero”, explica.

“Agora se o carro for usado e o motorista não for tão cuidadoso, é melhor continuar na gasolina mesmo”, aconselha.