Com sonho de ‘trabalhar no céu’, 200 comissários de bordo se formam por ano em Campo Grande
A profissão de comissário de bordo é muito requisitada. Seja pelo salário atraente ou pelos benefícios, cerca de 210 profissionais se formam por ano na Capital
Nathália Rabelo –
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Bem-vindos a bordo! À frente dos serviços prestados dentro de uma aeronave, os comissários de bordo são profissionais preparados para cuidar de inúmeras situações durante o voo com assistência ao passageiro, que varia desde sua segurança até atendimento de primeiros socorros. Uma vez que o Dia do Comissário de Bordo é comemorado nesta quarta-feira (31), o Jornal Midiamax te convida a conhecer mais detalhes sobre a profissão. Campo Grande, por exemplo, forma cerca de 210 profissionais por ano que sonham em trabalhar no céu.
A data comemorativa faz homenagem à criação da Internacional Flight Attendants Association – IFAA (Associação Internacional dos Comissários de Voo), fundada em 31 de maio de 1973. Porém, o Dia do Comissário de Bordo só foi oficializado em 1986. Vale ressaltar também que a profissão é símbolo de desejo entre muitas pessoas. A Capital, por exemplo, tem dois centros principais de cursos para a área.
Formação para comissário de bordo
A formação para se tornar um comissário de bordo leva em torno de quatro meses, dependendo da escola onde você deseja estudar. Vale lembrar que o nível escolar exigido pelas companhias aéreas é de nível médio, mas é necessário ter curso de formação para comissário e passar na prova da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), avaliada em R$ 200, mas valor pode variar.
Há 25 anos atuando na formação de comissários, pilotos de avião e mecânicos aeronáuticos, a empresa Fly Company é uma das referências nesse setor em Campo Grande. Segundo Douglas Eger Pazzinato, comissário de bordo da Latam desde 2010 e coordenador dos cursos da escola, a profissão atrai muitas pessoas pela sua facilidade de formação, benefícios e salários.
Na empresa, o curso de formação leva em torno de quatro meses e tem custo total de R$ 3.000. As aulas abrangem conhecimentos teóricos, treinamentos práticos – como primeiros socorros, combate a incêndios, treinamento de sobrevivência na selva e na água e preparação para ameaças de bombas dentro de aviões – seguro de vida em casos de acidentes e aperfeiçoamento pessoal, com foco na comunicação e oratória.
Segundo Douglas, uma média de 120 a 150 pessoas se formam por ano como comissárias de bordo na empresa, que tem um foco em desenvolvimento do profissional. “O acompanhamento não acaba com o fim do curso e acompanha todas as etapas do aluno até ele entrar numa empresa, como confecção de currículo e procura por apartamentos em outras cidades para bases de apoio”.
Na Fly Company, as aulas são presenciais em Campo Grande, mas existem algumas opções de cursos online para quem mora do interior ou em outras cidades do país.
Procura de todo o país
A Alfa Escola de Aviação Civil também é reconhecida por sua formação na aérea da aviação civil. Ambas as escolas são certificadas pela Anac. Ao Jornal Midiamax, a Alfa explica que o curso tem quatro meses de duração no valor de R$ 3.057,00 com tudo incluso. Um dos requisitos para entrar no curso é ter mínimo de 16 anos e cursado ou estar cursando o ensino médio.
Segundo a empresa ao Jornal Midiamax, o Comissário de Voo atua no apoio a passageiros e tripulação em voos comerciais e também é responsável pelo cumprimento de procedimentos operacionais no avião, sendo um importante agente para garantir a segurança de todos presentes, promovendo assistência aos passageiros quando necessário e operando os equipamentos e sistemas da aeronave. Assim, a escola forma uma média de 60 comissários de bordo por ano.
Diante disso, a escola explica que tem muita procura na Capital e interior. “Como temos a disponibilidade de oferecer alojamento, isso nos permite recebermos alunos de várias cidades do interior de nosso estado, assim como também de vários outros estados do país e até mesmo fora. São Paulo, Rio de Janeiro, Goiânia, Teresina, Mato Grosso, Rondônia, Distrito Federal, entre outros, e Países como Colômbia, Paraguai, Argentina, Suíça e Índia são alguns exemplos”, informa José Gregório, diretor comercial da Alfa Escola de Aviação.
Salários e benefícios atraem concorrência
Se você chegou até aqui com vontade de se tornar um comissário de bordo, saiba que a profissão tem muitos atrativos, especialmente por ser um setor movimentado.
“O setor da aviação está em constante crescimento há vários anos. Tivemos uma pausa muito agressiva na pandemia, mas as empresas voltaram com tudo. A Azul teve contratação, a Latam também. A Gol está prevista para contratação, além das empresas regionais do país. A aviação movimenta o Brasil, não tem como parar. Então, o crescimento dela é inevitável”, explica Douglas.
Segundo Greg, as ofertas de vagas de emprego são poucas e muito concorridas, mesmo assim, é uma profissão que está em alta no mercado de trabalho brasileiro nos últimos meses. “No comparativo entre os meses de Março de 2022 e Março de 2023, tivemos um aumento de 3.77% nas contratações formais com carteira assinada em regime integral de trabalho”, cita.
Assim, observa-se uma grande concorrência por três motivos:
- A facilidade do curso de formação pela seu tempo ágil e custo relativamente baixo em relação a uma mensalidade de faculdade, por exemplo;
- Salários que variam numa média de R$ 6 mil a R$ 9,5 mil;
- Benefícios, como passagens gratuitas ou com descontos para o profissional e família.
Vale destacar que para se tornar um comissário de voo é necessário cumprir uma série de requisitos, mas o principal é obter o curso de formação de comissário de bordo homologado pela Anac.
Assim, os cursos de formação de Campo Grande vêm com o objetivo de oferecer um diferencial ao profissional na hora de se candidatar a cargos na companhias aéreas. Além disso, a profissão de comissário de bordo traz muitas atrações, especialmente para quem sonha em trabalhar num destino diferente a cada dia.
“A gente sempre está no céu”
Você lembra dela? Aline Izidoro já participou de matéria no Jornal Midiamax em 2021. Na época, ela vendia doces na rua para comprar passagem com destino a São Paulo. Ela desejava participar de processo seletivo de companhia aérea. Dois anos depois, ela dá um desfecho final à sua história: conseguiu a vaga e trabalha como comissária de bordo desde então em uma das maiores companhias de aviação do país.
Aline é de Campo Grande e se formou em 2019 na Alpha Escola de Aviação durante curso que durou uma média de cinco meses. Ela, então, aceitou compartilhar alguns detalhes da sua rotina com a equipe de reportagem. Aos 33 anos, alega morar em dois lugares: na Capital de MS e em São Paulo, onde está a sua base de trabalho e ponto de apoio.
Ela explica que a profissão aeronáutica oferece no mínimo 10 folgas no mês e que seu regime de contratação é uma regulamentação específica do setor, ou seja, é diferente do regime CLT. Como sua base de trabalho é em São Paulo, ela viaja até a cidade paulista para começar a trabalhar.
“Do mesmo jeito que as pessoas pegam o carro para ir ao trabalho, eu pego um avião […] a gente pode ter até 12 horas de jornada no dia de trabalho entre voo e horas de solo. Tem no mínimo 12 horas de descanso, mas tem pernoites que duram de 12 horas a 24h horas”, comenta.
Sem horário fixo e trabalhando aos fins de semana, Aline chega a passar por cinco Estados em apenas um dia de trabalho. “Toma café da manhã em Porto Alegre, de lá vou para Minas Gerais, sigo para a Bahia, depois para o Norte e, então, vou embora pra casa”.
Mãe de uma adolescente de 16 anos, ela afirma que toda a sua vida é ajustada para trabalhar e cuidar da família. Por isso consegue passar dias em Campo Grande quase toda a semana. Para ela, não ter uma rotina fixa é uma vantagem.
“A gente está sempre no céu, todo dia eu olho pro céu e agradeço por estar lá. Sou apaixonada por esse universo, então pra mim não ter a rotina, ter um ambiente diferente de qualquer trabalho é um máximo, com pessoas diferentes, tanto da tripulação quanto dos clientes. É uma grandeza muito grande. Você está todos os dias com várias pessoas de diferentes culturas […] antes de virar aeromoça eu só conhecia três cidades do Brasil. Hoje eu conheço quase tudo de norte a sul do país”, afirma contente.
Porém, Aline fala que a parte mais difícil da profissão é ficar longe da família, uma vez que sempre está viajando em aniversários, feriados e datas comemorativas. Mesmo assim, um dos benefícios da profissão é ter passagens gratuitas para os parentes.
“Pai, mãe e filho não pagam passagem e você pode levar um companheiro de viagem. A intenção é diminuir a distância e a família poder ir até você e não ficar uma semana longe”.
A Aline também disponibiliza o link do seu Instagram caso alguém tenha interesse em acompanhar o seu trabalho pelas redes sociais.
Todo dia dorme em lugar diferente
O Douglas Eger Pazzinato, que trabalha na Fly Company, se formou como comissário de bordo na empresa. Ele divide seus dias entre trabalhar no céu e dar aulas na Capital. Ele conta ao Jornal Midiamax que decidiu seguir a carreira quando ainda estava na faculdade de física, quando fez o curso e passou no processo seletivo da Latam, antiga Tam, em 2010. Desde então, afirma ter conhecido muitos destinos nacionais e internacionais.
“Aonde o avião vai, o comissário vai também […] é uma rotina de trabalho que você acaba se apaixonando. O que acontece é que a nossa rotina é muito diferente porque está todo dia dormindo num lugar diferente, experimentando comidas e passeios durante nosso período de descanso. A gente pode ficar 12 horas, mas também fica três dias em algum lugar, então acaba conhecendo”.
Esses dias, por exemplo, o avião em que Douglas estava a trabalho pousou no Chile, país onde ficou alguns dias de descanso. Lá, o homem aproveitou para esquiar. Recém chegado do México, afirma o quanto viajar de graça tem suas vantagens. Atualmente, sua base operacional também é São Paulo.
“A nossa escala é definida por uma lei específica que dá 10 dias de folgas no mês, a minha média é de 12 a 13 dias de folga todos os meses e, assim que a escala é lançada, eu vou ajeitando as aulas de acordo com as minhas folgas”.
Por fim, Douglas reforça que, apesar do comissário de bordo ter um cargo que nem sempre é valorizado, é uma profissão essencial e que vai além do que muita gente pensa.
“A principal função do comissário dentro do avião é fornecer segurança ao passageiro em todos os aspectos, porque ele aprende primeiros socorros, combate ao fogo, ameaça de bomba a bordo. Tudo isso tem no treinamento do comissário. Como emergência não acontece a todo o momento, nos tempos livres a gente sorri e entrega lanchinho”, brinca.
Precisa ser fluente em vários idiomas?
Muita gente tem dúvida se o comissário de bordo precisa ser fluente em várias línguas. Sobre o assunto, Aline afirma ser necessário ter idioma e que o inglês é preferencial. “Não precisa ser fluente, mas para ingressar na profissão precisa fazer entrevista em português, inglês ou espanhol. No meu caso foi em inglês”.
Vale ressaltar que muitas coisas mudaram ao longo dos anos também. Quando Douglas se formou, por exemplo, era necessário inglês intermediário o avançado. Ele é fluente no idioma e está estudando espanhol, afinal, ele trabalha com voos internacionais.
“Hoje as maiores empresas retiraram essa exigência, deixando apenas como desejável um segundo idioma”, afirma.
Critérios para se tornar um comissário de bordo
A Anac define alguns critérios para se tornar um comissário de bordo:
- Ter completado 18 anos;
- Possuir Certificado de Conclusão o 2º grau (ensino médio);
- Ter sido aprovado em exame teórico da ANAC;
- Possuir Certificado Médico Aeronáutico (CMA) de 2ª classe válido;
- O candidato deve frequentar um Centro de Instrução de Aviação Civil (CIAC), a fim de cumprir o Programa de Instrução Teórica e Prática estabelecido no Manual de Curso de Comissário de Voo – Instrução Suplementar nº 141-007 (clique no link para acessar).
Todos os detalhes sobre os requisitos da profissão podem ser encontrados aqui.
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