O Sindicato dos Bancários de Campo Grande e região promove nesta terça-feira (12) campanha de conscientização sobre a saúde mental da categoria diante de desgaste mental e pressão psicológica. Em frente a agências bancárias do Centro também se debate a qualidade do atendimento aos clientes.

Desesperado e sem conseguir orientação, o venezuelano Joeljose Martiz Mosguera, de 69 anos, reclamava de mau atendimento de uma atendente. “Foi agressiva, não entende”, disse. O turista mora na Capital há quatro anos e retornou à agência na tentativa de receber um prêmio do país de origem, entretanto, as funcionárias pediam um documento válido.

“Mostrei o protocolo, o documento que a Defensoria Pública me deu. O que tenho é um visto de turista, que venceu há dois anos. Aqui tratam o imigrante mal, não sabem atender, não falam meu idioma. Esse dinheiro é para pagar o aluguel. Vim de novo e não conseguem me ajudar”, disse.

Joeljosé Martiz sobre burocracia com documentos estrangeiros (Alicce Rodrigues, Midiamax)

O jardineiro Guilherme Cuttier, relata que consome o autoatendimento ou serviços de aplicativo, raramente vai presencialmente ao banco. “Hoje em dia tudo se faz pelo aplicativo, é o Pix, transferência”.

Apesar de entender o cronograma interno de um banco, já que a esposa é ex-bancária, Gilmar Nogueira, de 42, joalheiro, relata que nos últimos dias percebe qualidade baixa na prestação do serviço, apontando a demora e indecisão das alternativas de serviço, por exemplo, no que poderia ser solucionado on-line ou presencialmente.

“Há um despreparo, às vezes, nem precisava ser presencialmente [pois pode ser feito on-line]. Minha esposa já foi bancária e o que passam internamente reflete para o cliente. As instituições precisam lucrar, o funcionário precisa empurrar produtos à força, é o seguro, título de capitalização. O cliente acha que adquirindo isso vai aumentar a linha de crédito, mas isso só depende do score”.

Para Gilmar, despreparo em atendimento é principal reclamação (Alicce Rodrigues, Midiamax)

“Porta de entrada do estresse”

Vestido de amarelo em alusão ao Setembro Amarelo, mês de prevenção do suicídio, Everton Espíndola, da secretaria de saúde e relações de trabalho do sindicato, aponta a mistificação da população em acreditar que o conforto do ar-condicionado, portas giratórias e uma cadeira estofada fazem um bom local de trabalho, enquanto, para ele, a estrutura visa apenas lucro financeiro.

“Somos todos CLT, o atendimento é aberto ao público a partir das 9h, por uma normativa do Banco Central, precisa de 5h mínimas de atendimento ao público, mas o bancário está trabalhando antes disso. O bancário encerra o atendimento de sete horas diárias de trabalho, mas não encerra antes, extrapola por 10h de trabalho por dia”.

Everton reforça que objetivo só por lucros desumaniza o trabalho (Alicce Rodrigues, Midiamax)

O sindicalista ainda aborda pressão interna em metas e desvalorização social, incluindo funcionários que trabalham em lotéricas, cooperativas outras instituições bancárias. Para ele, o desgaste mental e assédio moral extrapolam ao “mau atendimento”, pois o funcionário acaba focando no cliente que renderia lucro para empresa, se esquecendo da real solução que o consumidor precisa.

“Uma pessoa que passa pela porta de metal não imagina que numa empresa tem mais de 40% dos funcionários tomando medicações. O próprio funcionário remove o sentimento de que não está sendo capaz de estar numa equipe pensando que não bate meta igual o colega. Falamos que um banco pode ser a porta do estresse, porque não há uma pessoa no setor financeiro sem a saúde mental desgastada, é o tempo inteiro pensando em lucro. Entramos no quesito da meritocracia, na desumanização do mercado de trabalho”.