Sabia? Monumentos ‘escondidos’ contam histórias misteriosas sobre Campo Grande
Desconhecidos, esses monumentos revelam mistérios sobre a Capital e são importantes para a história
Nathália Rabelo –
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Basta andar algumas quadras pelas principais ruas e avenidas de Campo Grande para se deparar com inconfundíveis monumentos históricos que contam, nas entrelinhas, o passado da cidade. Desde o relógio da 14 de Julho até os gigantes tuiuiús no Aeroporto Internacional, cada estrutura possui características únicas que não passam despercebidas aos olhos dos moradores. No entanto, o que muitos não sabem é que existem também vários monumentos ‘escondidos’ que revelam mistérios sobre a Capital.
São obras icônicas por vezes alheias do conhecimento comum e dos olhares desatentos, mas igualmente importantes para a concepção cultural da nossa essência. A 3ª edição do livro ‘Marcos e Monumentos Históricos de Campo Grande’, lançada pela Sectur no último dia 10, mostra 66 esculturas da Capital. Dentre as mais famosas até as desconhecidas, obra é um verdadeiro mapa para quem deseja conhecer os patrimônios da cidade.
Pensando nisso, o Jornal Midiamax selecionou 10 monumentos escondidos e desconhecidos pela maioria dos moradores para mostrar sua história, com informações do livro da Secretaria de Cultura e Turismo. Continue a leitura e se aventure por essas descobertas.
01. A Família
A obra ‘A Família’ é de autoria do artista José Carlos Silva, conhecido como o Índio, e datada de 1976. Feita em arenito, escultura conta a história de vida do autor, diagnosticado com hanseníase. Em dado momento, ele precisou ser tratado no Hospital São Julião, em Campo Grande.
Depois de receber alta, retornou para a cidade de Aquidauana em 1975. Mas foi no ano seguinte que Índio produziu a escultura como forma de gratidão aos cuidados recebidos durante o tratamento da doença.
“Por intermédio da obra, o artista externou toda a saudade que sentiu durante o período de isolamento e que era experimentada por todos os pacientes que enfrentavam a distância dos entes queridos, imposta pela enfermidade”, informou o livro.
A obra foi dada pelo artista ao hospital e se encontra até os dias atuais no jardim da instituição.
02. Vibração Cósmica
Em 26 de agosto de 1988, foi instalada a escultura Vibração Cósmica no pátio do Paço Municipal, localizado na Avenida Afonso Pena. Do artista Yutaka Toyota, a composição abstrata aborda a imigração japonesa a Campo Grande de forma que mescla tradição e modernidade na mesma peça.
03. A Lua
Sabia que Campo Grande tem a própria lua? Criada em 1981 pelo artista Índio, a Lua foi esculpida em mármore branco em estilo contemporâneo.
“Combina formas orgânicas com linhas geométricas e demonstra a preocupação que o artista tinha de preservar a formação da rocha, tão peculiar às suas obras”.
Além disso, é possível notar a seguinte frase do artista na escultura: “Reconheço o dom de esculpir como uma dádiva de Deus”. A Lua foi dada de presente a Mara Dolzan, grande incentivadora do artista e proprietária de conceituada galeria de arte de Campo Grande.
Índio morreu em 1991, mas suas obras ficaram eternizadas em Campo Grande. Essa, por exemplo, pode ser encontrada na parte externa da Morada dos Baís.
04. Homenagem à Conceição dos Bugres
Este monumento faz homenagem à artista Conceição Freitas da Silva, mais conhecida como Conceição dos Bugres. Importante artista de Mato Grosso do Sul, especialmente pelas suas esculturas de ‘bugrinhos’ de madeira e cera de abelha, Conceição já participou de bienais, exposições do Rio de Janeiro, de São Paulo e é reconhecida internacionalmente.
Em 2021, seu trabalho foi escolhido para uma mostra no Museu de Artes de São Paulo Assis Chateubriand (MASP).
“Sua arte, iniciada em um pedaço de mandioca, foi transferida para pedaços de madeira, dando origem a bonecos nos mais diversos tamanhos que, embora manifestem muitas semelhanças, revelam também muitas particularidades e expressões diferenciadas”, diz o livro.
Dessa forma, a escultura de tributo à Conceição dos Bugres foi criada por José Nantes e está localizada perto da entrada principal do Centro de Convenções Rubens Gil de Camillo. A obra do bugre é feita em arenito e pesa duas toneladas. Arte foi inaugurada conjuntamente com o prédio do Centro de Convenções e seu posicionamento foi definido pelo arquiteto Rubens Gil de Camilo, autor do projeto.
05. Preto Velho
Criada pela artista Gentil da Silva Meneses, a estátua do Preto Velho fica na Praça Pretos Velhos. Monumento é uma homenagem às culturas africanas e símbolo de resistência aos preconceitos enfrentados por esses povos na Capital durante a história.
Os pretos velhos são entidades respeitadas pelos rituais da umbanda, representando espíritos negros escravizados que resistiram ao cativeiro e portadores de grande sabedoria.
“Assim, espaço e monumento se converteram em uma das poucas ocorrências de consagração a religiões e cultos afro-brasileiros em Campo Grande”.
06. Tia Eva
Mesmo não sendo tão conhecido, o Busto Tia Eva é de extrema importância para a história de Campo Grande. Obra de Maria de Oliveira faz homenagem à Eva Maria de Jesus, conhecida como Tia Eva, e resgata a imagem da escrava alforriada e fundadora da comunidade Remanescente de Quilombo Eva Maria de Jesus, na Capital.
Escultura foi esculpida em 2003 e fica localizada na Igreja de São Benedito. Atualmente, praticamente 115 famílias formam a comunidade Tia Eva. No dia 5 de maio de 1998, a Igrejinha de São Benedito recebeu o definitivo tombamento como parte do Patrimônio Histórico de Mato Grosso do Sul, pelo governo do Estado.
07. Cará
Se você passeou pela Lagoa Itatiaia, talvez tenha se deparado com esse monumento. Mas você sabe qual a história por trás dele? A escultura foi criada por Pedro Guilherme Garcia Goes, feita em concreto e medindo 6×2,5m. Obra representa um cará, peixe de lagoa muito comum em Mato Grosso do Sul.
“O peixe foi a inspiração para o artista fazer a instalação da escultura, buscando a valorização da região, muito frequentada por moradores locais e turistas, que encontram às suas margens uma pista de caminhada, espaços para convivência e academia de ginástica para a terceira idade”.
08. Iris Ebner
A Alameda Iris Ebner é parte de um projeto urbanístico e paisagístico que engloba o Parque Linear da Avenida Nelly Martins e do Parque do Sóter. Foi elaborado pela arquiteta Jussara Basso, no início dos anos 2000. O espaço foi concebido para ser uma pequena praça, um local para descanso, lazer e contemplação.
O local conta com o painel em concreto com placas fundidas em alumínio alto-relevo e faz homenagem à arquiteta Iris de Almeida Rezende Ebner, paulista que se erradicou em Campo Grande.
09. Memorial Francisco Anselmo de Barros
Você já ouviu falar nessa história? Parece coisa de cinema, mas aconteceu na rua Barão do Rio Branco em 12 de novembro de 2005, durante um dos maiores atos de protesto ambientalista de Mato Grosso do Sul.
Francisco Anselmo Gomes ateou fogo em seu próprio corpo, aos 65 anos, como forma de protesto contra as instalações de usinas de álcool e açúcar na região do Pantanal.
No local, ocorria uma manifestação contra a articulação do então secretário de Produção e Turismo de MS, Dagoberto Nogueira, que visava a implantação de usinas de álcool na Bacia do Alto Paraguai. Esse tipo de prática comercial era proibido por resolução do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente).
Francelmo, como era carinhosamente conhecido, molhou dois colchonetes com gasolina, incendiou os dois amontoados de espuma e sentou neles como forma de protesto. “Já que não temos voto para salvar o Pantanal, vamos dar a vida para salvá-lo”, escreveu numa das cartas de despedida.
Manoel de Barros até escreveu uma mensagem sobre o acontecido. Um trecho dela dizia: “o que o nosso Francelmo fez é mais do que um protesto. Para mim tem o componente maior do heroísmo. Francelmo o último herói do Brasil”.
Em 2006, memorial foi instalado no local onde Francelmo se suicidou, no Calçadão da Rua Barão do Rio Branco, entre a Rua 13 de Maio e a Rua 14 de Julho.
10. Monumento Cultura Paraguaia
A Associação Colônia Paraguaia de Campo Grande agora conta com o Monumento Cultura Paraguaia. Criada em 2021 por Anor Pereira Mendes, obra foi feita em resina, metal e tinta automotiva. A obra é composta por símbolos da cultura paraguaia, como violão, harpa e guampa.
O monumento está localizado nos jardins da sede da Casa Paraguaia. Foi inaugurado conjuntamente com as obras de revitalização da sede da Associação e prestigia a cultura paraguaia, amplamente presente em Mato Grosso do Sul.
Outros monumentos importantes para Campo Grande
Além dessas obras de arte, o livro mostra outros trabalhos reconhecidíssimos na cidade, como o Relógio da 14 de Julho, Obelisco, monumento do Sobá na Feirona, a Praça das Araras, monumento ao Índio do Parque das Nações Indígenas e tantos outros que integram a história de Campo Grande.
Além disso, livro conta com 23 biografias de autores e escultores das obras. Quem quiser ler a versão digital de ‘Marcos e Monumentos Históricos de Campo Grande’, basta acessar este link.
“Não há sociedade sem história, sem cultura ou sem memória. Todo povo possui um patrimônio cultural, que é, antes de tudo, uma forma de expressão, podendo manifestar-se por meio de bens de natureza material ou imaterial”, ressalta o texto.
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