‘Primogênito’ de Mato Grosso do Sul, Carlos corre de políticos desde a criação do Estado
Carlos Adriano Gonçalves da Silva foi a primeira criança sul-mato-grossense, há 45 anos, e é considerado ‘garoto símbolo de MS”
Karina Campos –
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Todo ano a imprensa se mobiliza para descobrir a identidade do primeiro nascimento nas primeiras horas do dia 1° de janeiro, até mesmo pelo simbolismo de renovação. No caso do primeiro bebê de Mato Grosso Sul, depois da divisão do Estado, não seria diferente. Carlos Adriano Gonçalves da Silva recebe holofotes com frequência por ser o primogênito sul-mato-grossense há 45 anos. Apesar do sucesso, ele corre de política e criou um bloqueio com ‘engravatados’ por promessas frustradas.
O Jornal Midiamax também foi um dos veículos de comunicação que já contou a história de vida, a festa que foi o nascimento do menino conhecido como Carlinhos, ‘Primeiro’ ou Garoto Símbolo, filho de dona Ivanete Gonçalves da Silva e de seu Haroldo Gonçalves da Silva. Desta vez, voltamos para atualizar sobre a vida de um dos barbeiros mais famosos do bairro Aero Rancho, em Campo Grande.
De lá para cá, Carlos conta que pouca coisa mudou. Tem dois filhos, de 20 e 14 anos, e está há 25 anos casado. Trocou de ponto da barbearia e sentiu o impacto da queda no faturamento depois da pandemia. Outro autônomo que teve que se reinventar na crise para conseguir pagar as contas.
Agenda cheia para entrevistas
“O movimento caiu, antes da pandemia, tinha 6 a 7 pessoas esperando tive que agendar, organizar pelo WhatsApp algum cliente que quer um horário. Antes eu lotava o salão, mas agora eu trabalho o dia todo organizando uma agenda. Mas a gente continua assim, trabalhando bastante, não pode parar”.
O que definitivamente continuou do mesmo jeito foi a sensação de abandono por parte dos governadores e políticos. Fato que corriqueiramente era reclamado pela família. A promessa era que seria acompanhado pelos gestores, o filho de MS teria plano médico, escola particular e incentivo.
“Naquela época, já que ia dividir o Estado, os políticos disseram que precisavam de um símbolo, algo para representar. Daí decidiram ‘adotar’ uma criança, pagar escola, plano de saúde, mas isso nunca aconteceu. A imprensa vinha e relatavam isso. Minha mãe e meu pai correram muito atrás, iam na casa de políticos. Eles falavam que iam fazer e nada”, lamenta.
Candidatos políticos faziam fila
O cerco era certo em ano de período eleitoral, pois candidatos queriam a representativa de Mato Grosso do Sul nas campanhas. Dos 11 aos 15 anos observava a insistência e promessas de algo em que só a política fácil poderia oferecer.
“Tinha vez que meu pai e mãe se ludibriaram com isso, eles [políticos] diziam que iam pagar escola particular, eu ficava todo alegre, meu sonho era ir para Mace, Dom Bosco. Eles falavam para continuar me esforçando e tendo notas altas. Ficava na expectativa, mas chegada dezembro e nem se lembravam de mim. E tudo começava de novo”.
Os absurdos eleitorais não se restringiam apenas na infância ou adolescência. Quando tinha 23 anos, um candidato insistia para que ele o apoiasse ou participasse da campanha. Carlos fugia, desconversava, não se interessava mais em criar expectativas frustradas.
“Tocava pagode na época, e ele brigava para ir atrás. Dizia que nasci iluminado e tinha o que muitos queriam, a representatividade do Estado. Pensava: esse cara vai querer usar meu nome, faz alguma coisa e minha cara vai estar para sempre ligada. Teve também uma vez que o assessor de uma senadora ficou bravo comigo porque queria que eu aparecesse no horário eleitoral mentindo que ela fez muito por mim desde pequeno. Acho que criei um bloqueio por isso”.
O famoso da escola
Ter nascido no dia da divisão trouxe suas vantagens, como ser conhecido no bairro. Na época de escola era a estrela dos jornais, foi quando ganhou os apelidos. “Eu aparecia em todos os jornais, em todos meus aniversários. Tem cliente que fala para o outro: sabia que ele é o primeiro nascido de MS? Daí conto toda minha história, mas sem regalia, meus pais conquistaram muito por mim, sozinhos”.
Um dos reconhecimentos em que se emocionou partiu de uma estudante de jornalismo, que escolheu sua história para o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso). “Eu fiquei muito feliz, representando e ter sido a escolha de alguém de contar para as pessoas minha vida. Ela falou com minha mãe, que estava viva na época. Meu celular estragou e acabei perdendo o contato e o link do vídeo”.
Criação de MS
Em 11 de outubro de 1977, o presidente Ernesto Geisel decretou a Lei Complementar 31, determinando a divisão de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. O estado vizinho tinha ‘perdido’ 28% de seu território para dar início a uma nova força no Brasil.
No mesmo dia, Carlos conta que o avião que trouxe o presidente Geisel para Campo Grande chegou por volta das 10h40min. Ao meio dia, o decreto-lei foi devidamente assinado e a cidade ganhou clima de final de Copa do Mundo. Houve passeatas pelas ruas e pessoas ficaram histéricas comemorando a criação de Mato Grosso do Sul.
Do lado de fora da maternidade, a expectativa pelo nascimento do primeiro sul-mato-grossense ‘no registro’ também foi festivo. Seu nascimento foi celebrado, esperado e de certa forma ‘canonizado’. Teve cobertura em tempo real pela TV e até escola de samba do lado de fora da maternidade.
Ele nasceu às 13 horas e 15 minutos na Maternidade da Santa Casa. Por pouco, a mãe entrou em trabalho de parto no ponto de táxi. A Rua 14 de Julho estava engarrafada devido à festividade do dia. Dona Ivanete deu entrada no hospital às 12h e 55 minutos. Ou seja, o tempo exato das enfermeiras prepará-la para entrar na sala.
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