Há um ano a vendedora Aline Ribeiro, 28, aguarda por uma vaga para sua filha em alguma Emei (Escola Municipal de Infantil) de Campo Grande. Enquanto a vaga não sai, ela compromete quase metade da sua renda com escola e babá para a filha de dois anos.

Série de reportagens que o Jornal Midiamax publica nesta semana revela o drama das famílias que dependem do poder público e se desdobram como podem para garantir o cuidado dos filhos e a renda de casa.

Aline mora sozinha com a filha e trabalha em um shopping, das 9h45 às 16h. Mas Aline precisa passar quase 12 horas por dia fora de casa, considerando o tempo que demora para ir e voltar do trabalho de ônibus.

Ela conta que inicialmente colocou a filha em uma escola particular, mas precisava andar 2 km a pé com a menina para chegar até o local. E pagar babá para ficar com a pequena aos finais de semana e feriados em que ela trabalha.

“Agora contratei uma babá que é mais perto de casa e que cuida da menina de segunda a sábado. Quando trabalho domingo vejo quem pode ficar com ela, se a babá ou a minha irmã”, conta.

Não bastassem os transtornos diários, Aline ainda precisa desembolsar em torno de R$ 600 para pagar a babá. O valor é praticamente metade do salário mínimo que recebe por trabalhar o mês inteiro. 

“A gente vai levando, é sempre um jogo de cintura e pesa bastante no orçamento, porque ainda pago financiamento de casa, compras do mês, água, luz”, conta.

Escola particular compromete orçamento, mas é alternativa

Assim como Aline, a empreendedora Rirelle de Jesus Oliveira, também precisou recorrer a uma escola particular por não conseguir vaga em Emei para o filho. Ela ficou oito meses na fila de espera, de julho de 2021 a março de 2022.

“Colocamos ele meio período na escola particular, que é o que a gente dava conta de pagar na época. Esse ano as coisas apertaram bastante financeiramente e quando a Emei chamou, nós corremos para tirar ele da particular e por na pública”, lembra.

Ela pagava cerca de R$ 900 para meio período de aula do filho, enquanto de manhã ele ficava com ela em casa. Apesar de notar diferença no ensino e ter algumas dificuldades com o horário da Emei, a escola pública é um bom alívio no orçamento da família.

Pais precisam recorrer à defensoria pública para conseguir vaga

Aline Ribeiro inscreveu a filha para uma vaga na Emei em janeiro de 2022 e desde então espera. Neste mês, inscreveu a filha novamente para uma vaga em 2023, mas não foi selecionada na primeira chamada.

“Fui na e me orientaram a ir na Defensoria Pública. Mandei mensagem lá, mas me recomendaram a ir ano que vem, se realmente não sair o nome dela”, diz a mãe.

De acordo com a Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul, em 2022 foram atendidos 7.970 casos em relação a vagas em Emeis. O número é mais que o dobro dos 3.782 atendimentos em relação ao tema em 2021.

Coordenadora do Nudeca (Núcleo de Defesa da e do Adolescente), defensora pública Débora de Souza Paulino, afirma que foram realizados quatro mutirões virtuais e três presenciais com a proposta de minimizar a situação na Capital. As demandas nessa área somam 3.039 atendimentos e 2.057 ações ajuizadas.