A 32ª Promotoria de Justiça de Saúde Pública de Campo Grande publicou, nesta terça-feira (12), no Diário Oficial do Ministério Público do Estado, abertura de inquérito para apurar a denúncia de desabastecimento de materiais e insumos no setor de cardiologia do HRMS (Hospital Regional de Mato Grosso do Sul). Pacientes cardíacos já haviam feito denúncias sobre a demora em cirurgias pela falta de equipamentos na unidade.

Conforme o inquérito civil, instaurado pela promotora de Justiça em Substituição Legal, na última sexta-feira (8), Daniela Cristina Guiotti, o MPE cobra do hospital e da SES (Secretaria Estadual de Saúde) um posicionamento sobre a reclamação no setor cardiológico do HRMS. A promotoria não estipula um prazo, mas informa que a denúncia será apurada.

A reportagem entrou em contato, por e-mail, com a assessoria de imprensa do hospital e da secretaria, mas não obteve retorno. O espaço segue aberto para um posicionamento.

Demora em cirurgia por falta de insumos

No dia 30 de junho, pacientes cardíacos reclamavam da demora de quase um mês para uma cirurgia no hospital, como relatado pelo Jornal Midiamax. Familiares relatam que faltam insumos e materiais para o procedimento, entretanto, a assessoria de imprensa da unidade afirma que o número na demanda de encaminhados ao hospital registrou recorde neste ano.

Na época, sem querer se identificar, uma paciente diz que se sente abandonada e chegou a receber alta da equipe médica, mesmo sem passar pela cirurgia. “Várias pessoas estão aguardando aqui. Estou com uma válvula estourada e não tem nem medicação. O médico vem de manhã, acompanha, mas não tem o que fazer. Não tenho condições financeiras de pagar um advogado ou uma clínica particular”, disse. 

A assessoria de imprensa do HRMS havia informado, em nota, que houve aumento extraordinário de procedimentos cirúrgicos devido à demanda de pacientes encaminhados ao hospital. O motivo seria reflexo da pandemia. O resultado seria o gasto maior na quantidade de itens usados para a compra do mês.

“Em 2019, a média de procedimentos cardíacos mensais era de 103 cirúrgicos, 53 cateterismos e 23 angioplastias; no último mês de maio fechamos em 127 cirurgias, 69 cateterismo e 37 angioplastias. Materiais comprados para durar seis meses, não duram quatro. E não podemos simplesmente comprar mais, pois as regras de compras governamentais não permitem”.

Ainda de acordo com o hospital, durante toda pandemia, enquanto o atendimento era exclusivo na referência de tratamento da Covid-19, os casos eram encaminhados para demais unidades do Estado. Em maio deste ano, teriam batido recorde histórico de 76 stets, tubo usado para prevenir constrição do fluxo que causa entupimento das artérias, em cirurgias de angioplastias, sendo maior que a média anual de 2019, onde 41 itens foram utilizados.

“Estamos lotados de casos eletivos, não apenas cardíacos, mas de outras clínicas também. Necessitamos do apoio da população no controle da Covid; não somos mais referência, mas mesmo distribuindo pacientes, atingimos neste fim de semana, 30 casos confirmados sendo que nove estão ocupando leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Quanto mais pacientes em enfermarias e UTIs, menos eletivas poderemos fazer. Infelizmente a pandemia ainda tem um reflexo significativo no HRMS”, disse o hospital na data.