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Cotidiano

Incêndios no Pantanal: ONG envia ofício para autoridades de alerta aos ataques de onças em MS

Seca e incêndios no bioma pantaneiro pode ter reclamação com ataques domésticos
Karina Campos -
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Onça está na Serra do Amolar
Onça está na Serra do Amolar (Foto: Ilustrativa/ Saul Schramm)

O Ecoa, ONG (Organização Não-Governamental) que atua na proteção ambiental, divulgou nesta quinta-feira (28) que encaminhou um ofício as autoridades pedindo providências ao alerta de ataques de onças aos animais domésticos de comunidades ribeirinhas do Pantanal de Mato Grosso do Sul.

O comunicado foi enviado para o Ministério Público Federal em Corumbá, a Polícia Militar Ambiental e a SEMAGRO (Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar), na quarta-feira (27), relatando o aumento da presença de onças pintadas nas proximidades de casas em algumas regiões do Pantanal, nos municípios de Ladário e Corumbá.

“O intuito da representação é solicitar um maior envolvimento das instituições na proteção das comunidades, com medidas concretas para lidar com o problema, além da investigação das causas da alteração no comportamento desses animais. Existe grande possibilidade de que tal alteração seja consequência dos incêndios que devastaram o Pantanal nos últimos anos, desestruturando cadeias alimentares”, pontua.

O problema não são as onças

Responsável pelo programa Felinos Pantaneiros, o IHP (Instituto Homem Pantaneiro) também emitiu atenção, já que a situação apresenta uma ameaça ao maior felino das Américas, que só tem condições propícias para a espécie no bioma pantaneiro e pode sofrer retaliação pelos ataques aos cachorros, porcos e gados da região.

 “A percepção pode ser subestimada, como já ocorreu em trabalhos referentes ao número de casos de ataques de onças a rebanhos bovinos. Muitas vezes, o impacto percebido é maior do que o impacto real, intensificando as ameaças aos felinos”, disse o médico-veterinário e coordenador do Felinos Pantaneiros, Diego Viana.

Os ataques de onças aos seres humanos são raros e, geralmente, estão associados a caça ilegal. O último registro oficial no Brasil aconteceu em Cáceres, em 2008, onde moradores disponibilizavam alimento para onças-pintadas, que é proibido por lei, logo, potencializa o risco de ataques, conforme o presidente do IHP, coronel Ângelo Rabelo.

iluminação para evitar onças
Repelentes luminosos contra onças. (Foto: Divulgação/IHP)

Uma equipe formada por médicos-veterinários e biólogos do IHP tem acompanhado os casos de ataques de onças-pintadas a cães da comunidade Barra do São Lourenço, na Serra do Amolar. “No Pantanal, as onças-pintadas tendem a escolher suas presas por influência do regime de inundação do bioma. Foi justamente no período de cheia que os casos de ataques a cães aumentaram na região do Rio Paraguai”, destaca o coordenador do Felinos Pantaneiros.

Outra ação para amenizar o alerta é a orientação de moradores sobre a situação, além de instalação de repelentes luminosos, sugestões de manejo para os animais domésticos, principalmente no período noturno, entre outras. “Não podemos colocar a onça-pintada como uma vilã. Por isso, temos investido em ações de educação ambiental, implementado estratégias que surtem efeito e, claro, prestado atendimento aos cães feridos”, pontua.

Ataques de onças

O grupo de pesquisadores viajou para a região do Paraguai Mirim e a Barra do rio São Lourenço, próximo ao Parque Nacional do Pantanal, onde moradores informaram que cachorros e porcos foram devorados, pelo que indicava, por onças. Em um dos casos, uma família do Aterro do Binega viajou para a área urbana da cidade, em dezembro do ano passado, para regularização de documentos, mas quando voltaram encontraram todos os cães mortos.

Geralmente, os felinos evitam chegar perto de pessoas, ou moradores acostumados com o bioma pantaneiro também conhecem os perigos do Pantanal, por exemplo, na região do Porto da Manga, a jusante de Corumbá, mulheres coletoras de iscas enfrentam esse desafio. Muitas têm que abandonar a coleta de isca bem mais cedo do que o costume.

“Após as 6 ou 7 horas da noite, ‘chega a hora da onça’, como elas mesmo denominaram. Quando escurece, o risco de serem atacadas aumenta muito. Anteriormente as mulheres trabalhavam até às 4 ou 5 da manhã”, pontua o Ecoa.

Já no Porto Chané os casos de encontros também têm sido diários. Moradores informam que todos os cachorros foram devorados por onças pintadas. Em uma das situações, a onça invadiu a casa do morador, que teve que expulsá-la sozinho. Na Área de Proteção Ambiental Baía Negra, em Ladário, o felino também atacou os cachorros da senhora Zilda, moradora da região nas proximidades da baía.

Desde 2020, Corumbá sofre com o cenário da seca e incêndios, permanecendo em estado de emergência. Estima-se que mais de 17 milhões de animais vertebrados tenham morrido nas tragédias. Consequentemente, a cadeia alimentar sofre uma alteração, as onças estão no topo dos carnívoros, o que dificulta a caça e reforça a busca pelos animais domésticos.

“A Ecoa está divulgando através das redes que participa, incluindo a Rede Clima Pantanal e Rede Pantanal, informe sobre este quadro e pedindo que as pessoas redobre os cuidados, principalmente com as crianças. Neste momento, entendemos que é necessário estruturar um grupo científico de estudo para recolher informações mais detalhadas sobre toda a situação. Continuaremos com nossos alertas, ao mesmo tempo que no trabalho de prevenção com as brigadas comunitárias contra incêndios e o Prevfogo /Ibama para reduzir a possibilidade de fogo, situação que aproxima animais das casas dos moradores”.

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