‘Hoje não bebi’: dia de combate ao alcoolismo é símbolo de luta contra o vício; veja como procurar ajuda

Em Campo Grande, são diversos os grupos, projetos e locais voltados para ajudar na luta contra o vício

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O grupo Alcoólicos Anônimos foi criado em 1935 e atua em mais de 180 países
O grupo Alcoólicos Anônimos foi criado em 1935 e atua em mais de 180 países

Nesta sexta-feira (18) acontece o Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo, cujo objetivo é incentivar o debate e ajuda a pessoas que atravessaram a tênue linha que divide o prazer da dependência. Em Campo Grande, existem diversas entidades e grupos a trabalhar em cima deste assunto, abordando o tema e as pessoas de diferentes formas, mas com o mesmo objetivo: combater a dependência.

Uma pesquisa realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostra que 263 mil campo-grandenses costumam consumir bebidas alcoólicas uma ou mais vezes por mês. Deste número, 153 mil afirmaram que o consumo pode ser considerado abusivo. A pesquisa foi realizada em 2019.

Para aqueles que enfrentam o vício, umas das primeiras alternativas buscadas são os A.As (Alcoólicos Anônimos), grupo formado por dependentes e ex-dependentes que compartilham suas histórias, frustrações e conquistas para incentivar os demais na luta contra a dependência. A reportagem procurou entender como é o funcionamento desse grupo, que atua em 13 locais de Campo Grande atualmente.

Um dos participantes do grupo, Pedro Álvares*, explica o funcionamento do grupo e deixa claro que as reuniões prezam a liberdade e discrição. Pedro conta ter conhecido o programa em 1983 quando ainda morava no Rio Grande do Sul. Militar da reserva, o participante do grupo conta que vivia o declínio de sua carreira causado pelo álcool.

“Eu era militar da ativa, quase fui excluído da corporação”, conta. “Eu cheguei no A.A. sem moral, sem família, sem convivência na sociedade. Eu tinha uma viagem para o exterior na hora de viajar falaram que eu não iria”, relembra Pedro. Hoje, 35 anos depois, já livre do vício, o ex-militar dedica seus dias para ajudar pessoas que passam pela mesma situação.

Sem pudor, Pedro explica que o primeiro passo precisa partir da pessoa, que precisa estar disposta a enfrentar o processo. “Não perco tempo com quem não quer”. Apesar da forma rústica de tratar o assunto, ele entende a importância do grupo e do acolhimento. “Não somos profissionais, fomos vítimas do alcoolismo e falamos sobre isso. Falamos baseados na nossa experiência e a pessoa consegue se incentivar com nosso relato. Nosso lema é ‘hoje eu não bebi’”, finalizou.

Os grupos A.As  presentes em Campo Grande e no Brasil não possuem profissionais da saúde e não podem realizar ou indicar tratamentos contra a dependência. Para aqueles que buscam acompanhamento médico, uma das opções oferecidas no município é Caps AD (Centro De Atenção Psicos, Álcool e Drogas).

Dados da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) indicam uma média de 1,8 mil atendimentos por mês no Caps AD, apenas em 2021 foram 21.668 atendimentos. No local, são realizados — além de consultas médicas — internações, acolhimento, consulta com enfermeiro, psicólogo e outros profissionais.

A rede de organizações e institutos que buscam acolher dependentes é grande. Uma delas é o projeto Amor Exigente, que busca atender não somente dependentes, mas todos aqueles afetados pelo convívio com o vício. Em Campo Grande, o instituto possui nove grupos, onde grande parte é voltada para atender familiares.

“Se a família não muda o comportamento a pessoa não muda”, explica a presidente do projeto, Dalva Figueiredo. Segundo Dalva, o ‘Amor Exigente’ trabalha com a qualidade de vida dos familiares, que muitas vezes se tornam prisioneiros do dependente e não conseguem escapar deste ciclo de recaídas e desapontamentos.

Dalva conta que atualmente as reuniões ocorrem de forma online por conta da pandemia, mas ainda com a mesma dinâmica da presencial. Quando a pessoa participa da reunião, são explicados alguns princípios do grupo, as falas são divididas, um coordenador é chamado para mediar a conversa e dar o retorno (uma espécie de resposta) para as mazelas apresentadas.

A presidente comenta que o ato dos familiares em mudar faz com que o dependente também mude, gerando uma melhora no bem-estar de toda a família. “Às vezes a pessoa não dá conta e acaba se afastando, mas quem continua é quem consegue ajudar o ente querido”, comenta.

Serviço

Interessados em participar do A.A em Campo Grande podem ir até um dos locais onde a reunião é realizada, não é necessário realizar cadastro ou se identificar. Informações de horários e endereços podem ser adquiridas no telefone (67) 3383-1854.

Os atendimentos no Caps AD acontecem de forma presencial. Para fazer o tratamento e acompanhamento é só ir até a unidade, onde o paciente será acolhido e feito um atendimento prévio para melhor entender o quadro dele. Mais informações podem ser adquiridas no telefone (67) 2020-1904.

O projeto Amor Exigente segue realizando trabalhos de forma remota, mas o passo a passo para participar das reuniões pode ser adquirido por meio do número (67) 99166-3000.

Pedro Álvares* é um nome fictício, criado para preservar a identidade da fonte.

 

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