Sozinha em uma cadeira de fio quebrada, Leila Coelho, de 45 anos, brinca com um cachorrinho. Nossa presença chama a atenção dela, que logo se levanta e em passos apressados chega até nós. Com olhar furtivo e de cabeça baixa, Leila parece não pensar muito para responder. A fragilidade em que se encontrava, parecia nos colocar em uma relação de poder, quase como se ela tivesse a obrigação de responder nossas perguntas.

Leila é moradora de rua, ou em situação de rua, termo mais correto e respeitoso. A cadeira a que nos referimos estava em meio à mata ciliar às margens do Córrego Prosa, embaixo do no cruzamento da com a Manoel da Costa Lima, ponto conhecido de usuários de droga.

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Leila se despedindo após receber o café da manhã (Foto: Marcos Ermínio)

Há seis anos na rua, Leila, natural de Primavera do Leste (MT),  veio para já na situação em que se encontra: sem casa e dependente química. “Não dá pra se acostumar, quem se acostuma a morar na rua?”, indaga ela.

Todas as necessidades básicas, como água, comida e mais algumas medidas de higiene pessoal, dependem da ajuda de terceiros. Inclusive, enquanto conversávamos com Leila, uma equipe de voluntários de uma comunidade católica chegou ao local para fornecer o café da manhã: pão com carne e leite.

É nessa hora que a invisibilização, por mais contraditória que pareça a expressão, fica visível. Isso porque Leila corre para chamar as outras pessoas que ali vivem e, de repente, de onde parecia não ter como sair gente, do vão do viaduto, saem umas 10 pessoas, todas em situação de rua.

Efeito da pandemia

A realidade presenciada naquele ponto por nossa reportagem é a de centenas de pessoas em Campo Grande. Um problema social que não nasceu com a pandemia, mas que foi agravado, sem dúvida, por ela. A SAS (Secretaria Municipal de Assistência Social) não possui pesquisa de levantamento da população em situação de rua, e estrangeiros, em Campo Grande, mas possui números de atendimento realizados nas unidades da instituição.

Somente no Centro POP (Centro de Referência Especializado para a População em Situação de Rua), onde é feita a triagem de estrangeiros, migrantes e adultos e famílias em situação de rua na Capital, houve um aumento de 28,5% de 2020 para 2021.

No primeiro ano de pandemia, em 2020, foram 3.378 atendimentos, já em 2021 foram 4.343, totalizando 7.721 nos dois anos de pandemia.

ANO QUANTIDADE
2020 3.378
2021 4.343
TOTAL 7.721

Após a triagem inicial, essas pessoas ou famílias são encaminhadas às unidades especializadas da SAS, ou Unidades de Acolhimento Institucional para Adultos e Famílias, as chamadas UAIFA. Essas unidades estão voltadas especificamente ao acolhimento especializado à população em situação de rua e às pessoas em processo de migração, e tem como finalidade oferecer acolhimento a adultos, famílias e indivíduos em situação de rua e processo de migração.

Durante o período de pandemia de 2020, de março a dezembro, mais de 1.637 atendimentos foram realizados nestas unidades, dentre esses atendimentos, foram feitas mais de 493 reconduções familiares, e foram concedidas 382 passagens terrestres para viabilizar o retorno de pessoas para suas cidades de origem.

Um dos barracos embaixo do viaduto da Costa Lima (Foto: Marcos Ermínio)

 

Já em 2021 o número total foi um pouco menor, cerca 1.520 atendimentos, mas com mais reconduções e passagens. Dentre esses atendimentos, foram 661 reconduções familiares e 811 passagens concedidas.

Serviço

A SAS orienta a população, ao encontrar uma pessoa em situação de rua, a entrar em contato pelos telefones do SEAS que funcionam 24 horas (67) 98404-7529 ou (67) 98471-8149.