Estudos que são realizados desde o começo da pandemia já apontam que há mais de 50 sintomas potencialmente associados à covid longa ou à síndrome pós-covid. Os pacientes que tiveram a doença em níveis mais graves, são os que possuem maior probabilidade de ficar com sintomas e sequelas, entretanto, mesmo quando a infecção é leve ou assintomática, é possível deixar marcas.

Segundo uma revisão de estudos sobre a ‘long covid', já foram identificados mais de 50 sintomas distintos relatados pós-infecção por covid-19, sendo os mais comuns a fadiga e dificuldades respiratórias, seguidas por perturbações do olfato e paladar, cefaleias, dor no peito, névoa mental e perda de memória, bem como perturbações do sono. O estudo aponta que a covid longa, provavelmente, terá um impacto substancial na saúde pública. Por enquanto, as evidências ainda são heterogêneas e incompletas.

Confira lista de 30 dos sintomas pós-covid relatados

Alterações no ciclo menstrual
Ansiedade
Arrepios
Arritmias e palpitações cardíacas
Depressão
Diarreia
Dificuldade de concentração
Dificuldades respiratórias
Dor abdominal
Dor de cabeça
Dor de garganta
Dor muscular e articular
Dor no peito
Edema dos membros
Fadiga
Incontinência urinária e fecal
Inflamação do miocárdio
Insônias
Irritações cutâneas
Lesões pulmonares
Névoa mental
Perda de apetite
Perda de memória
Perda de olfato
Perda de paladar
Queda de cabelo
Refluxo gastresofágico
Suor abundante
Tosse persistente
Vômitos
Sintomas associados à Síndrome Pós-Covid.

Sequelas após internação

O fotógrafo Arnaldo Muniz é uma dessas pessoas que mesmo após se curar da covid ainda permanece tratando as sequelas da doença. Ele pegou covid trabalhando em julho de 2021. O fotógrafo passou 40 dias internado, sendo 22 deles intubados. Teve os pulmões comprometidos, problemas de pressão e infecção bacteriana. Entre as sequelas que apresenta até o momento está a fragilidade muscular, pois perdeu massa muscular por causa da internação, dificuldade nos movimentos da mão direita, que ainda sofre com dores e formigamento, e lesão do plexo braquial.

“Quando extubei, era 6 de agosto, que tenho a primeira lembrança de ter acordado. Acordei sem andar e sem movimento dos braços. Saí do começando a firmar o pé no chão para andar de novo. Depois de um mês e meio que eu fui recuperar quase totalmente o movimento da mão direita. Hoje graças a Deus está 85% resolvido, só o dedão e dedo indicador um pouco de problema de mobilidade e menos sensíveis, recorda Arnaldo”.

“Eu sempre me cuidei muito, até porque minha mãe mora comigo, uma senhora de 78 anos, e ela tem problema de pressão alta. Sempre procurei me resguardar, para que, se pegasse, não passar para ela. Mas, foi trabalhando mesmo que peguei e ela acabou pegando, infelizmente. Só que o que eu temia que acontecesse com ela, aconteceu comigo. Ela teve só uma leve e ela já tinha duas doses de vacina. Quando fui diagnosticado, faltava uma semana para abrir a vacinação para a minha idade e, até por isso, creio que me pegou tão forte do jeito que foi”, diz o fotógrafo.

Pneumologista explica como funciona a covid longa

Sobre o assunto, o Jornal Midiamax conversou com o pneumologista Ronaldo Perches Queiroz. O explica que a Síndrome Pós-Covid ou covid longa é uma doença multifatorial complexa que descreve sintomas residuais da infecção pela covid-19. Os sintomas e algumas sequelas ocorrem pelo fato de que a covid é uma doença inflamatória.

“A partir de uma doença viral, após vencer a covid os pacientes desenvolvem uma doença imune ou imunológica. Esta grave inflamação residual em todo o corpo leva a tempestade de citocinas que inflamam o endotélio vascular que será responsável por provocar sintomas e sequelas prolongadas. O pós-covid começa a partir da terceira semana da doença, após a cura dos pacientes, e pode durar meses”, explica Queiroz.

Segundo o pneumologista, os sintomas e sequelas da pós-covid surgem mais frequentemente nos pacientes que tiveram uma doença mais grave. Mas também podem surgir em pacientes que tiveram uma doença mais leve, como a provocada pela recente variante Ômicron. Além disso, os sintomas da pós-covid podem surgir em qualquer idade.

“Os sintomas persistentes e mais frequentes da pós-covid são a fadiga, falta de ar, tosse, dor de cabeça, distúrbios da atenção e concentração, lapsos de memória e queda de cabelo. Já a sequela mais importante por ser uma lesão irreversível é a fibrose pulmonar. Não podemos esquecer do risco de trombose aumentado tanto durante a doença como no período pós-covid”, elenca o pneumologista.

Além dos sintomas pós-covid, os pesquisadores também estão analisando a possibilidade de as sequelas da covid-19 aguda estarem associadas a doenças autoimunes. Um desses estudos, por exemplo, foi realizado por especialistas do Hospital das Clínicas da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e analisou sintomas pós-covid que podem estar associados à Síndrome de Sjögren (SS), doença autoimune caracterizada pela secura nos olhos e boca. Nos próximos anos, diversos estudos serão realizados para explicar a relação entre a covid-19 e outras doenças.

“Ainda é cedo para qualquer conclusão. Sendo a Covid uma doença inflamatória poderia sim ser a causa ou o gatilho para surgimento de doenças autoimunes. Mas ainda não há nada de concreto e muitos estudos ainda terão que ser realizados”, destaca Queiroz.

Finalizando, o médico destaca que estima-se que no Brasil já são mais de 3 milhões de pessoas (10% dos casos de covid) que desenvolveram a Síndrome Pós-Covid. Por ser uma condição séria, sintomas desagradáveis, muitos incapacitantes que podem levar a uma queda significativa da qualidade de vida dos pacientes que tiveram a doença, é preciso que o paciente procure atendimento médico e que o sistema de saúde esteja preparado para atender esses pacientes que desenvolveram a covid longa.