Ter remédios em casa e se automedicar é um costume tradicional para muitas famílias campo-grandenses. Seja por ‘cautela' ou por desconhecimento do local de descarte, esses medicamentos são armazenados – por vezes até vencidos – indiscriminadamente e são os responsáveis por acidentes com pets e intoxicação de crianças. O Jornal Midiamax conversou com uma representante do CRF/MS (Conselho Regional de de Mato Grosso do Sul) para traçar um guia sobres os riscos da automedicação e os locais corretos para descarte no Estado.

De antemão, a conselheira regional do CRF/MS, Daniely Proença dos Santos, esclarece que a Lei Estadual Nº: 5.180 de 12/04/2018 torna compulsória a coleta de medicamentos vencidos em todas as farmácias e drogarias de Mato Grosso do Sul. Dessa forma, a lei obriga que todas as farmácias e drogarias mantenham recipientes para coleta ou descarte de medicamentos, cosméticos e insumos farmacêuticos deteriorados ou com prazo de validade expirado, a disposição dos clientes.

Ela ainda ressalta que em caso de dificuldade para entrega em alguma das unidades, o cidadão pode ir diretamente ao conselho, onde a coleta ocorre diariamente.

Acidentes com crianças e animais

Ao armazenar esses medicamentos em casa – as tradicionais ‘farmacinhas' – a população pode estar criando uma armadilha para a própria família. Para induzir a criança a tomar o medicamento os pais falam que é uma ‘balinha', e alguns medicamento são mais doces. A criança entende que aquilo não é um problema e na primeira oportunidade que ele encontrar, ela fará o uso. Teve casos de criança que tomaram o vidro inteiro de xarope. Os pets podem entra em contato e sofrer intoxicação”, disse Daniely.

Sede do CRF/MS, ilustrativa (Foto: Nathalia Alcântara / Jornal Midiamax)

Para evitar situações de risco, o conselho recomenda o uso racional dos medicamentos. “Às vezes a pessoa fica guardando esses medicamentos em casa, mesmo após acabar o tratamento. Uso racional de medicamento e quando pacientes recebem medicamentos para suas condições clínicas em doses adequadas às suas necessidades individuais, por um período adequado e ao menor custo para si e para a comunidade. Com isso a gente evitar desperdícios e automedicação”.

E complementou “No caso do antibiótico o uso é de 7 dias, seguindo a prescrição médica. Mas como ela tem a receita, ela acaba comprando e guardando, porque s sente mais protegida.

Perigos da automedicação

Além de dono ao paciente, a automedicação afeta o sistema de saúde como um todo. “No caso do antibiótico, a automedicação gera uma resistência a bactéria. Existe uma antibiótico especifico para cada tipo de infecção e ele tem que ser tomado em um ciclo completo. A pessoa toma de 2 a 3 dias e já sente a melhora e não completa o ciclo. Você não terá o resultado esperado e quando a bactéria voltar estará mais resistente”, disse ela.

Remédios, ilustrativa (Foto: Marcelo Casal JR / Agência Brasil)

E concluiu o raciocínio. “Como a pessoa sabe que sobraram remédios da última vez, ela faz uso daqueles medicamentos novamente e isso vira um problema, com a bactéria resistindo ao antibiótico e isso vai acabar nas unidades de saúda. Em alguns casos como intoxicações e reações alérgicas”, disse ela.

Descarte irregular

Por vezes o descarte é feito, mas de forma irregular e que gera dano ao meio ambiente “Descartam na pia, vaso sanitário e no lixo comum. No lixo comum [por exemplo], o caminhão vai pegar o lixo junto com o medicamento, que irá gerar chorume, e esse chorume vai parar no lençol freático. Quando um medicamento entrar em contato com outras substâncias ele deixa de ser um medicamente e passa a ser qualquer outro produto químico. A água é tratada, mas essa água tratada não tira as substâncias dos medicamentos e essa água acaba voltando para o consumo.

Centros Oeste lidera ranking de descarte irregular

Em uma pesquisa realizada pelo CFF (Conselho Federal de Farmácia), através do Instituto Datafolha, em 2019, apurou qual é a forma mais usual de descarte dos medicamentos que sobram ou vencem, e 76% dos entrevistados indicaram maneiras incorretas para a destinação final desses resíduos.  Nas Regiões Centro-Oeste/Norte, o porcentual é ainda maior, 85%. O índice somente é superado pelo apurado na Região Nordeste, 87%. Nas regiões Sudeste e Sul os porcentuais foram de 75% e 53%, respectivamente. Pelos resultados da pesquisa, a maioria da população descarta sobras de medicamentos ou medicamentos vencidos no lixo comum. Quase 10% afirmaram que jogam os restos no doméstico (pias, vasos sanitários e tanque).

A pesquisa constatou ainda que a automedicação é um hábito comum a 77% dos brasileiros que fizeram uso de medicamentos nos últimos seis meses anteriores ao estudo. Quase metade (47%) se automedica pelo menos uma vez por mês, e um quarto (25%) o faz todo dia ou pelo menos uma vez por semana. Na região centro-oeste/norte este índice sobe para 80%, nordeste fica em 79%, sudeste (77%), sul (71%).