Cruzando a Afonso Pena, na altura do Camelódromo, dois homens aparentemente jovens andam bem rápido com pochetes atravessadas no peito. Interpelados pela reportagem, mas sem saberem que éramos de um jornal, se mostram desconfiados. Perguntamos se conheciam pessoas que emprestavam dinheiro na região. Um, mais solícito, para, o outro espera mais adiante mexendo no celular. “De quanto precisa?”, diz ele.

Explicamos que, na verdade, queríamos saber mais sobre como funcionava os empréstimos e sem nos responder pergunta novamente: “Onde é seu comércio?” Sem ter como responder à pergunta, explicamos que não possuíamos comércio, mas que tínhamos interesse em pegar dinheiro emprestado. “Não, assim não dá, precisamos ter onde te cobrar”, finaliza.

Aqueles dois rapazes desempenhavam uma atividade tão comum na região quanto ilegal: a agiotagem. Nem todo mundo sabe, mas existe um fluxo muito grande de agiotas por ali. É perceptível a normalização da atividade entre os comerciantes da região. Para quem busca dinheiro emprestado, basta perguntar para uma, duas pessoas, e já se chega aos ‘donos da grana'.

Numa conversa rápida com donos de boxes dentro do camelódromo, não teve quem não conhecesse algum agiota. Fora dele também.

No caso dos dois homens abordados pela reportagem, se tratavam dos cobradores. Agitados, sempre ao celular, andavam de um lado para outro, cumprimentando e conversando com todos. Eles, ao que parece, também oferecem o ‘serviço', ou pelo menos indicam outros que o fazem.

Geralmente, os empréstimos são feitos para que o pagamento comece já no dia seguinte. São valores considerados ‘baixos', mas podem chegar na casa dos R$ 3 mil dependendo de quem empresta.

Perguntamos se eles conhecem alguns colombianos, que são conhecidos pelos empréstimos também. De forma bem objetiva, eles dizem “não” e continuam andando.

Agiotas ‘colombianos'

Muitos desses empréstimos são feitos pelos famosos ‘Colombianos', homens que até falam português, mas com forte sotaque castelhano, que fazem empréstimo para o comércio local.

O Midiamax conversou com um deles por sem se identificar.

Em conversa rápida, um homem do outro lado não prolongou tanto o assunto, mas disse que poderia ir até onde estava para conversar melhor. O que não aconteceu.

A reportagem, no entanto, conseguiu detalhes de como eles atuam com um ex-funcionário dos agiotas colombianos. Ele trabalhou vários anos para um dos maiores agiotas do Estado. Começou panfletando e depois virou cobrador, um cargo de extrema confiança.

“Aqui em meu papel era panfletar em lojas e comércios, nesse panfleto tinha os valores e o plano de pagamento que geralmente seria feito em 20 dias. Além dessa informação, tinha um telefone pra contato, quem era responsável por receber a ligação era eu mesmo, o celular ficava comigo”, explica.

A panfletagem era uma forma de captar clientes. “Eu captava o cliente e passava pra eles irem levar o dinheiro e fazer a ficha dele”.

Após um período atuando em Campo Grande, o funcionário foi para e se tornou cobrador. Os empréstimos variavam de R$ 300,00 a R$ 3 mil, sempre com 20 dias para quitação já começando a pagar no dia seguinte e 20% de juros. “Se pegasse 300,00 pagaria 20 vezes de R$ 18,00”.

Ainda conforme o ex-cobrador, ele tinha colega que desempenhava a mesma função, com mais de 100 comércios para receber no dia. Sobre os Colombianos, afirma que eles eram os ‘homens do dinheiro'. “Na verdade, eles tinha como função levar o dinheiro e receber”.

O Midiamax também conversou reservadamente com uma pessoa de dentro da Superintendência da em Campo Grande que trabalha no setor de imigração. Segundo esta pessoa, existem sim muitos colombianos na Capital, mas geralmente eles informam como ocupação serem autônomos, o que reforça a suspeita sobre a real atividade que desempenham.

Agiotagem é crime mesmo?

É sim. A agiotagem consiste no empréstimo de dinheiro a juros excessivos, superiores àqueles legalmente permitidos em lei, cuja prática de cobrança é considerada crime contra a economia popular, denominada usura pecuniária ou real.

O Midiamax entrou em contato com a para saber se os policiais que fazem ronda na região monitoram e repreendem este tipo de crime, bem como se há dados estatísticos. Segundo a PM, o policiamento preventivo e ostensivo na região central da Capital é feito pelo 1º Batalhão da PMMS, com reforço de outras Unidades Especializadas.

“Quanto à demanda, a Polícia Militar está à disposição da sociedade para o atendimento em casos crimes contra a economia popular, todavia, ressaltamos que a população deve optar por empresas que sigam as normas legais vigentes no país”.