Afinal, estamos preparados para conviver com transporte alternativo em Campo Grande?

No Dia Mundial sem Carro, problemas estruturais são apontados como maior desafio

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Na cidade, ciclofaixas ainda são poucas e não têm conexão entre si. (Foto: Arquivo)

Foi ainda na infância que Larissa Souza teve o primeiro contato com a “magrela”, maneira carinhosa como chama a bicicleta que hoje a acompanha nos rolês por Campo Grande e até fora da cidade. No dia mundial sem carro, comemorado nesta quinta-feira (22), a auxiliar administrativo é exemplo de que é possível alinhar desenvolvimento sustentável, qualidade de vida e meios alternativos de mobilidade, mesmo dentro dos centros urbanos. 

“Depois da infância, já aos 26 anos, retomei o contato com a magrela ao ver meu namorado e ciclo de amigos pedalando. Aos poucos, investi e entrei para o esporte”, conta. 

Na maneira como descreve a rotina dá pra sentir que o apego entre Larissa e a bike vai além da simples relação pessoa e meio de locomoção, afinal, é com ela que a auxiliar passa maior parte da semana, entre idas e vindas. “Pedalo seis vezes por semana e dou um dia de ‘salão’ para a magrela. Hoje, além de competir, compartilho aprendizado como professora de bike. Pedalo sozinha e em grupos”, explica.

Segundo ela, o pedal trouxe qualidade de vida que refletiu no físico, autoestima, autoconhecimento e na oportunidade de conhecer novos lugares, pessoas e culturas. “A bike nos mostra o caminho por outro ângulo, te pede calma e tempo para apreciar a simplicidade da vida. Por isso recomendo fortemente esses momentos de corpo ativo e mente leve, nem que seja no final de semana”, acrescenta.

Larissa retomou prática na “bike” após ver o namorado e amigos pedalando. (Foto: Arquivo Pessoal)

Mas afinal, Campo Grande está preparada para receber meios alternativos de mobilidade?

Parte “mais fraca” no trânsito, Larissa afirma que a segurança nas vias da cidade é uma das principais dificuldades para quem se desafia a ser ciclista em Campo Grande, no entanto, os “perrengues” não param por aí. “Acredito que seja segurança no trânsito, principalmente urbano, nosso maior desafio. Temos parcialmente uma estrutura boa, pois se tratando de mobilidade urbana elas não atingem muito os bairros. As ciclovias que vejo estão carentes de manutenção no asfalto, na iluminação e sinalização de visibilidade”, aponta.

Doutor em arquitetura e urbanismo, o professor da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Julio Botega, explica que a cidade acompanha problemas estruturais presentes na maioria das cidades das Américas, onde, historicamente, priorizou-se o transporte privado em automóveis.

“Desenhamos cidades não para pessoas, mas para veículos. Basta ver a largura das vias, a falta de qualidade das calçadas, do transporte público e das ciclovias, que sequer são conectadas, mesmo sendo poucas”, analisa.

Em análise geral, basta uma volta pela cidade para notar que Campo Grande ainda não é atrativa ou mesmo segura para quem opta pelo transporte coletivo ou bicicleta. Para que se chegue a esse patamar, o professor cita uma série de readequações que incluem mudanças culturais, estruturais e exigem investimento financeiro e até alterações na legislação. Transformações que demandam planejamento e precisam de tempo para se consolidarem. 

“É necessário melhorar a conexão para quem utiliza bicicleta, ampliando a rede atual, investir de fato em transporte público, oferecendo mais possibilidades de conexão para os usuários, como VLT e BRT, que são bons modais para cidades do porte de Campo Grande”, afirma.

Ainda falando em transporte coletivo, Julio explica que a má qualidade do serviço oferecido influencia diretamente na recusa dos moradores, que acabam utilizando ônibus por obrigação ou como última alternativa. 

“Temos um modelo que se apoia em ônibus ultrapassados, que sequer garantem o conforto do usuário. Não tem ar-condicionado, por exemplo. Tendo possibilidade, quem trocaria o conforto do carro privado pelo sistema de transporte que temos? Além disso, as calçadas precisam ter dimensões adequadas, sem obstáculos, feitas com material de qualidade, diferente do que temos visto. Também são necessárias melhorias na segurança pública e mudanças na legislação”, finaliza.

Dia Mundial sem Carro

Comemorado Mundialmente no da 22 de setembro, o Dia Mundial sem Carro tem como objetivo conscientizar as pessoas sobre o uso consciente do carro, hoje, tido como vilão em decorrência da emissão de gases tóxicos na atmosfera, especialmente o CO2, apontado como um dos principais causadores do efeito estufa e do aquecimento global.

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