Quem passa por um dos pontos de ônibus no bairro Taveirópolis se depara com uma iniciativa voltada às pessoas que estão passando por depressão em Campo Grande. Com o chamado ‘Você sofre com depressão?', o cartaz traz um envelope com cartinhas que buscam oferecer conforto para quem enfrenta a doença. Diante da dificuldade das pessoas com depressão em pedir ajuda, a iniciativa pode contribuir, segundo especialistas. 

No ponto de ônibus, localizado na rua Albert Sabin, o cartaz pede que a pessoa pegue uma cartinha caso esteja enfrentando a depressão ou que leve para alguma pessoa próxima que tenha a doença. A iniciativa chama a atenção de quem passa pelo local diariamente. 

Mas, afinal, ações como essa realmente ajudam? A psicóloga e presidente do CRP14-MS (Conselho Regional de da 14ª Região do Estado de Mato Grosso do Sul), Marilene Kovalski, explica que toda ajuda solidária é bem-vinda se tiver a intenção de acolher, ajudar e cooperar. 

“Se a intenção é de apoio, com certeza é bem-vinda. Neste momento de isolamento, é muito importante criar um vínculo com outro, seja com um bilhete, com um contato, para que a pessoa se sinta vista”, afirma. 

O psicólogo clínico Robson Verão também reforça que a ideia é importante e as cartas podem ajudar a encontrar conforto em um momento difícil. “Vejo essa situação das cartas de duas formas: que as pessoas estão se solidarizando umas com as outras, isso é muito positivo na atualidade; a segunda é a responsabilidade social de quem escreve, deve ter cuidado com o que escreve ou a forma como escreve para ajudar o leitor”, alerta. 

A psicóloga Marilene Kovalski ressalta que as pessoas que enfrentam a depressão normalmente têm dificuldade de pedir ajuda, mesmo para as pessoas mais próximas. A orientação é que os familiares fiquem atentos aos sinais e procurem ajudar. 

“Se a pessoa fica mais fechada, tem dificuldade para dormir, comer, estabelecer objetivos, tudo isso pode ser um sinal”, diz. 

A psicóloga explica que a depressão também mudou com a . Se antes os sinais eram a falta de motivação, agora a ansiedade para fazer tudo também pode representar a depressão. “A gente tem observado que a depressão na pandemia mudou, é mais ansiosa, a pessoa fica com mais ansiedade. Ela não consegue se concentrar para fazer atividades”, explica.

Robson Verão afirma que a depressão é uma doença que ainda tem muito estigma, por isso muitas pessoas acabam hesitando em buscar auxílio. Segundo o psicólogo, a doença ainda é vista como ‘coisa de gente rica' ou de pessoas fracas, o que está longe de ser verdade. 

“De alguma forma, todos passamos por momentos depressivos e podemos lidar com eles em problemas pontuais, como a perda de alguém, de trabalho ou mesmo de relacionamento, e a pessoa pode seguir com isso. Quando não consegue, a depressão torna-se um transtorno e [a pessoa] deve procurar ajuda. O psicólogo pode auxiliar de uma forma mais assertiva e efetiva”.

Como pedir ajuda? 

Para quem identificou sinais de uma possível depressão, a recomendação é procurar ajuda profissional. Caso não tenha recursos para atendimento particular, é possível procurar o serviço público, com os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial). Confira os endereços aqui. 

O psicólogo Robson Verão ressalta que, culturalmente, é difícil buscar ajuda porque as pessoas acham que serão julgadas e não querem se expor. Por isso, é importante compreender o papel da psicologia. 

“Entender que estamos em sofrimento e que podemos melhorar a forma de lidar com nossos problemas é um passo importante para o tratamento. Este momento pandêmico nos colocou em uma posição difícil em relação a vida e nossas expectativas para o futuro, porém podemos lidar com isso de uma forma melhor e satisfatória”.