Depois de mais de um ano de pandemia, a rotina dos profissionais da saúde tem sido exaustiva e muitos médicos têm procurado atendimento em saúde mental em Mato Grosso do Sul. A pressão para lidar com o coronavírus, os plantões puxados e até a falta de informação da população tem causado quadros de ansiedade entre os profissionais. Na última semana, uma médica foi agredida verbalmente por paciente que queria prescrição do ‘kit covid’. 

 “Os médicos sentem como qualquer pessoa e vivenciam a pressão de lidar com a doença”, diz o médico psiquiatra Juberty Antônio de Souza. Ele acrescenta que tem observado aumento de quadros de ansiedade entre os profissionais e que já precisou afastar pelo menos dez médicos de suas funções por esse motivo.

A situação preocupa, ainda mais em um momento em que não é possível orientar uma válvula de escape, como uma viagem de férias. “Vivemos uma situação em que a orientação é usar máscara, higienizar as mãos, manter o distanciamento social e vacinar – para os que já estão na faixa etária estabelecida. No mais é tentar, nas horas livres, desenvolver outras atividades que lhe dê satisfação para fazer um contraponto com o cenário que vivenciamos”.

O presidente do sindicato, Marcelo Santana, que também realiza plantões atuando na linha de frente, explica que o dia a dia nos hospitais é puxado, mas é preciso ficar atento à forma como o profissional está administrando internamente cada situação. “Nós médicos também precisamos estar atentos à nossa saúde mental e observarmos como estamos lidando com as situações para buscarmos atendimento, quando necessário”, pontuou.

A falta de informação da população também leva os pacientes a pressionarem os médicos por medicamentos que não têm eficácia comprovada contra o coronavírus. Em nota, o Sinmed cita o caso de uma médica de Três Lagoas, que prefere não se identificar, que foi agredida verbalmente por paciente que exigia uma determinada medicação. “O que ocorre é que as pessoas já chegam com a conduta que elas acreditam ser a ideal e não aceitam ouvir nada em contrário”, contou.

Conforme o relato da médica, que tem 26 anos, o paciente ficou bastante exaltado e foi preciso acionar a polícia. O caso foi registrado na delegacia e chegou a ser noticiado. Na ocasião, o paciente pedia pelo ‘kit covid’, com ivermectina e hidroxicloroquina. A médica pediu transferência para outra unidade. “Fiquei com muito medo de ser agredida fisicamente”, disse.

Conforme nota do Sinmed, a médica agredida verbalmente atua há cerca de um ano na linha de frente e percebeu que precisava de ajuda. Ela buscou tratamento para ansiedade, por conta do estresse acumulado na pandemia. O Sinmed-MS afirma que se coloca à disposição dos profissionais e alerta para que busquem atendimento especializado a qualquer sinal de ansiedade.

Prescrição do ‘kit covid’

Em abril deste ano, o vice-presidente do CFM (Conselho Federal de Medicina), Donizette Giamberardino Filho, disse que a entidade “não recomenda e não aprova tratamento precoce e não aprova também nenhum tratamento do tipo protocolos populacionais [contra a covid-19]”.

Contudo, é importante lembrar que o conselho dá a opção para que os médicos optem por fazer ou não a prescrição da cloroquina e da hidroxicloroquina para pacientes com sintomas leves, moderados e críticos de covid-19.