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Cotidiano

Pesquisa da USP sugere que resistência ao coronavírus pode ser mais comum do que se imagina

Dados populacionais indicam grande número de pessoas em um mesmo casal que não desenvolveram Covid-19 após o cônjuge ficar doente.
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Uma pesquisa em andamento na USP (Universidade de São Paulo), se confirmada, poderá trazer certa tranquilidade em meio à pandemia de coronavírus. O trabalho identificou até aqui que a resistência ao Sars-Cov2, vírus causador da Covid-19, pode ser mais comum do que se imagina, justificando casos onde pessoas que convivem com infectados não desenvolveram a doença.

O trabalho é conduzido pelo CEGH-CEL (Centro do Genoma Humano e Células Tronco) da USP. Em entrevista à Rádio USP, a geneticista Mayana Zats explicou que o trabalho se concentrou em casais que vivem juntos, no qual um dos cônjuges desenvolvem sintomas da doença e o outro demonstrou não ter se infectado.

O tema ganhou notoriedade após notícias sobre o norte-americano John Hollis ganhar o mundo: cientistas identificaram que ele produz “superanticorpos” capazes de destruir o vírus antes de a célula ser infectada. Da mesma forma, foi traçado um paralelo entre esse paciente e outros que desenvolveram resistência ao vírus HIV.

Conforme Mayana, mesmo em condições menos favoráveis, Hollis produzia anticorpos neutralizantes, capazes de anular o coronavírus. Estudos sobre esse caso também buscaram um paralelo sobre infecções pelo HIV. O trabalho na USP observa a diferença entre esses casos.

A indicação de que a resistência à Covid-19 veio de dados populacionais, “que mostram que os casos são muito mais comuns do que se imaginava”. “Quando começamos a divulgar que estávamos interessados em casais discordantes, no qual um teve diagnóstico positivo e outro foi assintomático, recebemos mais de 1.000 e-mails relatando casos assim: um deles sintomático e o cônjuge, na mesma cama, sem sinal clínico. E continuam chegando e-mails”, disse.

Dois terços das pessoas com resposta imune são mulheres, diz geneticista

Os dados apontam que dois terços dos casos de resistência ao Sars-Cov2 identificados são de mulheres. “O marido se infectou, a mulher cuidou e não teve nada”. Com base nessa informação, busca-se agora uma análise pelo genoma que explique de onde vem a aparente imunidade.

“Não é uma característica rara. Pode ser uma herança complexa, vários genes com cada um tendo um efeito pequeno e que interagem com o ambiente”, disse.

Se por um lado a indicação é uma boa notícia, por outro torna mais difícil descobrir o mecanismo de imunidade, já que a ciência terá de identificar todos os genes com resistência. “Há colaboração entre geneticistas e imunologistas, que analisam as respostas imunes dos casais discordantes. Poderemos avançar no conhecimento sobre a atuação de um vírus complexo e da resposta imunológica dos infectados ou expostos”, contou a geneticista.

A diferença para o caso de Hollis, destacou ela, é que, nos casais discordantes, o cônjuge resistente não tinha anticorpos na sorologia. “Só 5% tinham os anticorpos, mas não sabemos se foram produzidos em contato com o cônjuge ou depois”.

Já a comparação com o HIV foi feita por se tratar de um mecanismo oposto: enquanto a imunidade ao coronavírus parece ser comum, a resistência ao vírus causador da Aids funciona de forma diferente. Mayana Zats explica que os resistentes tinham uma mutação em um gene que impedia a entrada do vírus na célula. “Era como uma porta com cadeado. Foi uma descoberta importante, com a tecnologia é possível editar o gene e criar uma mutação”.

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