Pela segunda vez, recebeu o título “Lago Ameaçado do Ano 2021” – a primeira vez foi em 2007. O Global Nature Fund e a Rede de Lagos Vivos apresentam este prêmio anualmente por ocasião do “Dia Mundial das Áreas Úmidas”, em 2 de Fevereiro, a um lago ou a uma área úmida que está altamente em perigo devido à intervenção humana.

O diretor da ONG (Organização Não Governamental) Ecoa – Ecologia e Ação, André Luiz Siqueira, com a qual a Global Nature Fund e a Living Lakes cooperam na região, calcula: “Mais de 40.000 quilômetros quadrados arderam no Pantanal. Isto corresponde a uma área de 4 milhões de campos de futebol. E estes não são apenas números: sinto por casa pessoa que sobrevive nesta região, sinto por cada árvore e cada animal que não consegue fugir desta situação ou morre de fome após os incêndios, porque não consegue mais encontrar alimento. O número de animais mortos também está na casa dos milhões. E os efeitos devastadores desses incêndios criminosos no cenário Sul-Americano, mas também no cenário mundial, ainda não puderam ser totalmente avaliados”, declarou.

O Global Nature Fund, criado em 1998, é uma fundação privada sem fins lucrativos com o objetivo declarado de proteger o meio ambiente. Está sediada em Radolfzell, . O Living Lakes é um programa de rede internacional gerenciado pelo Global Nature Fund para melhorar a proteção, restauração e reabilitação de lagos de água doce em todo o mundo.

Pantanal
Incêndios consumiram parte do Pantanal em 2020. (Foto: Divulgação)

Relatório global

Em comunicado, a Global Nature Fund informou que os cientistas são quase unânimes em que uma grande parte dos incêndios devastadores de 2020 pode ser atribuída ao uso do fogo para o desenvolvimento de novas terras agrícolas. A pecuária, a cana-de-açúcar e o cultivo de soja estão florescendo no Brasil – alimentadas por uma enorme demanda externa e “impulsionadas por um governo liderado pelo presidente Jair Bolsonaro, cujas políticas econômicas minam  sistematicamente as regulamentações brasileiras e internacionais de conservação da natureza e proteção”, consta em trecho do documento.

Círculo vicioso

A entidade cita publicação recente do Serviço Científico de Bundestag (Câmara baixa do parlamento alemão), que aponta a diminuição de um quarto do Pantanal desde os anos 80. Esse número está associado ao aumento em 100% da área utilizada para agricultura na região, além de fatores climáticos.

“A perda de área florestal no Pantanal leva ao aumento da temperatura regional e à redução das estações chuvosas. Isto resulta em uma falta de água para evaporação suficiente, que de outra maneira, forma uma densa cobertura de nuvens sobre a região . Estas nuvens amoleceriam a radiação solar e, assim, protegeriam a terra de secar. As áreas secas são, em última análise, mais suscetíveis a incêndios – um círculo vicioso”, consta no documento.

A fim de preservar o que resta do Patrimônio Mundial da Unesco com sua biodiversidade única, é necessária uma ação repensada e determinada das pessoas no local, mas também na América do Norte e na . “Este é um evento único para nós”, diz a presidente da GNF Marion Hammerl, “porque já nomeamos o Pantanal como o Lago Ameaçado do Ano em 2007″. Mas circunstâncias extraordinárias exigem medidas extraordinárias. Há 14 anos atrás, a ameaça ao hotspot da biodiversidade no Pantanal já era aguda. No entanto, estamos surpresos e chocados com o desenvolvimento dramático dos últimos meses. Senão agirmos agora – imediatamente! – de fato, em breve não restará nada que valha a pena proteger no Rio Paraguai. Isso seria uma enorme perda”, declarou.

Soluções

Por fim, a entidade pontua medidas necessárias e urgentes que não estão sendo adotadas pelo governo brasileiro. “As soluções para proteger e usar de forma sustentável o Pantanal estão sobre a mesa há muito tempo! Mas o governo brasileiro está fazendo exatamente o contrário”, sublinha Marion Hammerl. “As leis de proteção ambiental no Brasil devem ser ampliadas, as leis existentes devem ser implementadas e as violações devem ser punidas consistentemente. Nosso prêmio é um chamado a Jair Bolsonaro e seu Ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles para fazer uma reviravolta em suas políticas. E ao resto do mundo para não fazer vista grossa e fazer pressão para que isso aconteça imediatamente”, conclui.