Aneel inicia processo para reajuste e Energisa pode cobrar R$ 463 milhões de consumidores em MS

Conta de luz pode ficar ainda mais cara em 2022 se empresa cobrar rolagem de montantes na tarifa

Ouvir Notícia Pausar Notícia
Compartilhar
Sede da Energisa-MS
Sede da Energisa-MS

A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) iniciou processo de reajuste tarifário anual da Energisa Mato Grosso do Sul para 2022. O termo de abertura foi publicado no dia 5 de outubro pela SGT (Superintendência de Gestão Tarifária) da agência reguladora. Em abril deste ano, a agência autorizou reajuste médio de 8,9% nas contas de energia dos sul-mato-grossenses atendidos pela Energisa.

Conforme consta no sistema, a autorização foi assinada pelo superintendente de gestão tarifária da Aneel, Davi Antunes Lima. Após a abertura, ainda não houve tramitações do processo no sistema.

No contrato de concessão, assinado em dezembro de 1997 — quando a concessionária ainda era a Enersul, a Energisa assumiu somente em abril de 2014 —, consta que o reajuste tarifário deve ser realizado todos os anos, tendo como data-base 1ª de abril. Ou seja: o processo é iniciado em outubro para passar por todos os trâmites e ser concluído antes de abril, quando a nova tarifa é aplicada aos consumidores.

Por outro lado, a 1ª subcláusula da 2ª cláusula do contrato de concessão é claro ao cobrar da Energisa a contrapartida da empresa. “A CONCESSIONÁRIA obriga-se a adotar, na prestação dos serviços, tecnologia adequada e a empregar equipamentos, instalações e métodos operativos que garantam níveis de regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na prestação dos serviços e a modicidade das tarifas”.

Recentemente, MS foi atingido por forte temporal, que deixou clientes atendidos pela Energisa mais de 5 dias sem fornecimento de energia elétrica, causando grande prejuízo. O número de queixas na Aneel teve alta de 10 vezes o normal. Além disso, a concessionária continua como a empresa com maior número de denúncias registradas no Procon-MS.

Nos últimos 4 anos, o reajuste acumulado aos consumidores de MS é de 38,06%. A expectativa para o reajuste tarifário não é das melhores. Isso porque a tarifa de 2021 estava prevista para fechar em 14,4%, segundo o Concen (Conselho de Consumidores Atendidos pela Energisa em MS), mas houve rolagem de montante de R$ 463 milhões, que seriam cobrados dos clientes este ano, mas ficou para a revisão tarifária de 2022.

Por outro lado, o engenheiro eletricista Ricardo Vidinish explica que parte dos diferimentos foram anulados pela Bandeira de Crise Hídrica e o impacto no reajuste ainda pode ser amenizado. “No próximo ano, a tendência é que sejam usados alguns diferimentos e também de que a bandeira [tarifária] seja menor”, explicou.

Bola de neve para o consumidor pagar

Um dos pontos que foi motivo de preocupação do Concen (Conselho de Consumidores da Área de Concessão da Energisa-MS) foi justamente o adiamento desses valores milionários, pois, num primeiro momento — em 2021 — aliviaram o impacto na tarifa, mas a cobrança ficaria para a próxima revisão tarifária e pode pesar ainda mais no bolso do consumidor.

Conforme pedido feito pela Energisa e atendido pela Aneel no processo de revisão da tarifa de 2021, foi adiada a cobrança aos consumidores de parte da chamada parcela B, que é um dos componentes levados em consideração para definir a nova tarifa de energia.

Além disso, a Energisa havia solicitado que a diferença de 8,9% que deixou de aplicar entre os dias 8 e 21 de abril de 2021 seja cobrada dos clientes em 2022: “Ademais solicitamos que o efeito financeiro decorrente da não aplicação das novas tarifas entre o dia 08 de abril de 2021 e a data de publicação da nova resolução homologatória, seja recuperado, devidamente corrigido, a partir do próximo evento tarifário [em 2022]”, diz o documento assinado pelo diretor de regulação da Energisa, Fernando Cezar Maia.

Como funciona o processo?

Conforme a Aneel, o processo de revisão tarifária “visa assegurar aos prestadores dos serviços receita suficiente para cobrir custos operacionais eficientes e remunerar investimentos necessários para expandir a capacidade e garantir o atendimento com qualidade”. Isso significa que os sucessivos aumentos anuais na tarifa servem para a Energisa expandir a capacidade de atendimento e ampliar a qualidade dos serviços.

A tarifa de energia é composta por três itens: parcela A, parcela B e tributos. A parcela A é composta por custos de compra de energia, transmissão e encargos setoriais, já a parcela B são os custos operacionais da concessionária. Veja a divisão no gráfico abaixo:

Reclamações aumentam

Apesar de especificado pela Aneel o investimento para melhoria dos serviços, milhares de consumidores sul-mato-grossenses ficaram recentemente por dias sem fornecimento de energia elétrica após um temporal que atingiu a região centro-sul do Estado. 

Além disso, órgãos de fiscalização como Aneel e Procon registraram aumento de denúncias contra a empresa, principalmente por interrupção de energia e falhas no atendimento.

No último ano, conforme dados da Aneel, extraídos dos próprios canais de atendimento da Energisa, no período de agosto de 2020 a julho de 2021, foram contabilizadas 1.592.232 de reclamações. Dessas, 14,33% são referentes à falta de energia elétrica, que totaliza 228.105 registros.

O número de falhas na interrupção é tão grande que a Energisa pagou — como penalidade — compensação de R$ 11,6 milhões aos consumidores de MS nos últimos 12 meses, segundo dados da Aneel.

Campeã de reclamações no Procon, a Energisa coleciona série de penalidades aplicadas pela Aneel nos últimos anos. A mais recente ocorreu no ano passado, quando a Agepan (Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de MS) determinou multa de R$ 3,4 milhões por descumprimento, por parte da concessionária, dos níveis de qualidade do fornecimento de energia. No fim do ano, a Energisa conseguiu redução da penalidade para R$ 1,7 milhão.

No Procon-MS, até o dia 19 de outubro de 2021, o número de queixas contra a empresa já havia superado o total de 2020, quando a Energisa foi campeã de queixas, com 1.106 reclamações. Este ano, somente entre o dia 1º de janeiro e o dia 19 de outubro foram 1.318 reclamações. “Um número considerável”, avaliou o superintendente do órgão em MS, Marcelo Salomão.

Demissões de funcionários

Outra denúncia publicada pelo Jornal Midiamax contra a Energisa mostrou que a concessionária já demitiu mais de mil funcionários desde que assumiu os serviços em MS, conforme denúncia do Sinergia-MS (Sindicato dos Trabalhadores na Indústria e Comércio de Energia de Mato Grosso do Sul).

De acordo com o sindicato, esse seria um dos motivos para os problemas enfrentados pelos consumidores com a Energisa, principalmente em momentos de alta demanda como o verificado no temporal do dia 15 de outubro.

Conforme o presidente do Sinergia-MS, Elvio Vargas, outro fator que influencia na queda da qualidade dos serviços da concessionária é a terceirização em excesso. Conforme o sindicato, atualmente são cerca de 1,4 mil funcionários contratados pela empresa e pouco mais de mil terceirizados.

Outro lado

A reportagem procurou a Energisa para emitir posicionamento sobre o processo de reajuste tarifário e o cumprimento das cláusulas do contrato de concessão, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria. O espaço segue aberto para manifestação.

Conteúdos relacionados

inss
Cidade do Natal