Com festinhas durante a quarentena, infectologista alerta: coronavírus não escolhe vítima

Apesar da decretação de pandemia com o avanço do coronavírus (Covid-19) pelo mundo, e de medidas drásticas tomadas, desde o fechamento ou imposições de restrições às atividades empresariais e recomendação para que as pessoas fiquem em casa, a quarentena decretada não vem sendo levada a sério por alguns. Mesmo com a recomendação para que não […]

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Apesar da decretação de pandemia com o avanço do coronavírus (Covid-19) pelo mundo, e de medidas drásticas tomadas, desde o fechamento ou imposições de restrições às atividades empresariais e recomendação para que as pessoas fiquem em casa, a quarentena decretada não vem sendo levada a sério por alguns. Mesmo com a recomendação para que não haja aglomerações com mais de 20 pessoas, festas com várias pessoas, almoços de família –incluindo aí alguns dos grupos de risco– ou mesmo rodinhas de amigos e parentes em torno do tereré ou do chimarrão são comuns por Campo Grande.

O infectologista Julio Croda, da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e da Fundação Oswaldo Cruz alerta que as confraternizações criam um cenário possível para que as pessoas façam o vírus circular: uma pessoa infectada, que não tenha desenvolvido sintomas graves, pode transmitir o coronavírus para outros, que darão andamento na cadeia de contágio, e assim sucessivamente. E isso independe do grau de amizade ou de parentesco. De primos aos próprios filhos, pais e avós, todos ficam em risco.

“Não há necessidade de fazer reuniões, confraternizações e festas neste momento. E isso tem ocorrido com frequência. Se fosse uma reunião essencial, como de trabalho, que não possa ser feita virtualmente, é compreensível. Mas as reuniões recreativas não têm sentido de serem feitas agora”, afirmou Croda, segundo quem há uma “falta de consciência coletiva e de entender como funciona esse vírus”.

Ele ainda advertiu que o coronavírus não escolhe classe social –embora os primeiros casos no país tenham sido relacionados com pessoas que viajaram para fora do Brasil, uma vez introduzido no território nacional, espalhou-se por toda a população– ou mesmo fatores genéticos, como membros de famílias que podem ter reações distintas à infecção.

“O vírus não escolhe vítima. Por isso não tem sentido nenhum fazer festa agora. É diferente de uma reunião de trabalho que não poderia ser adiada”, alertou. Segundo ele, o isolamento social se mostra a ferramenta mais eficaz para controlar o avanço da infecção. Em Mato Grosso do Sul, conforme a SES (Secretaria de Estado de Saúde), o percentual de pessoas que aderiram ao sistema chegou a 59,5% no sábado (18), o que quer dizer que praticamente 6 a cada 10 sul-mato-grossenses respeitaram o pedido para ficar em casa.

Espalhamento

A R0 (sigla para a taxa de transmissão) do coronavírus é estimada entre 2 e 3, o que significa dizer que cada portador pode a transmitir para até três pessoas –alguns estudos, porém, destacam que o causador da Covid-19 tem R0 de quase 6, sendo este o número de pessoas que um doente pode contaminar. A título de comparação, o vírus Influenza, causador da gripe, tem R0 de 1,2.

O que se deve imaginar é que, depois de contagiar 3 ou 6 pessoas, estas também levam o vírus adiante, aumentando a cadeia de contágio e fazendo a doença se espalhar mais rapidamente –atingindo, inevitavelmente, idosos, grávidas e lactentes e portadores de doenças crônicas (integrantes do grupo de risco da Covid-19). Daí vem a recomendação para que não haja aglomerações, pois nestas reuniões é muito mais fácil que um doente passe o vírus adiante.

Além disso, o diretor-executivo da OMS (Organização Mundial de Saúde), Michael Ryan, alertou em 30 de março que, cada vez mais, o vírus tem sido levado das ruas para dentro das casas. “Nesse momento, na maior parte do mundo, estão ocorrendo transmissões dentro de casa, no nível familiar. De certo modo, a transmissão vem das ruas e é levada para dentro da unidade familiar”, apontou, defendendo a identificação dos doentes o mais rapidamente possível pelas autoridades de saúde.

Julio Croda vê na negligência das pessoas ou outro fator de risco, já que, ao ficarem doentes, estas pessoas vão procurar o sistema de saúde, público ou privado, tornando-se um risco a mais para médicos, enfermeiros e outros profissionais que atuam no enfrentamento à pandemia e que, caso fiquem doentes, desfalcarão o sistema de saúde e se transformarão em riscos para suas famílias.

“Muitas pessoas não respeitam ou não se solidarizam com os profissionais de saúde no front, que muitas vezes se expõe aos vírus sem EPIs [equipamentos de proteção individual] diariamente, atendendo às pessoas, em alguns locais, com bastante dificuldade”, afirmou.

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