Muitos empresários estão vivendo um período delicado de incertezas em 2020. Desde o início da pandemia, em março, diversos serviços da vida noturna tiveram que ser obrigatoriamente fechados para atender as normas de biossegurança e evitar aglomerações. Muitos deles, acabaram encerrando atividades ‘para sempre’ por falta de recursos.

Apesar do fechamento de muitos pontos tradicionais da vida noturna campo-grandense, como a sertaneja Valley, a LGBTQIA+ Pink Lemonade (Ex- Sis Lounge), o Resenha Bar e o coletivo BRAVA, o futuro pós-pandemia é uma preocupação ainda nebulosa.

Os decretos municipais com toques de recolher e normas de biossegurança, apesar de necessários, tornaram difícil a vida de muitos empresários do ramo noturno. As aglomerações em baladas e shows, que antes eram comuns, com a pandemia do coronavírus se tornaram inviáveis. O álcool em gel é imprescindível.

Pausas necessárias

Muitos destes preferiram congelar ao máximo os negócios afetados enquanto mantinham a renda através de outros serviços. Um deles é Renan de Oliveira Teles, Diretor comercial da Novaoito Tickes, que fornece o software para venda de ingressos de shows. Segundo ele, desde março, tudo está paralisado em Campo Grande.

“No início a primeira ideia foi fazer os eventos online com as lives e alguns fazendo Drive-in, mas os resultados estão bem abaixo do esperado. As normas de biossegurança pedem o distanciamento entre as pessoas, o que torna tudo inviável. A nossa sorte foi que temos duas empresas, a outra é de comércio eletrônico para produtos e cresceu no período”, conta o empresário.

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Bee Music Lounge na pré-inaguração em junho de 2019 (Arquivo)

Já o empresário Daniel Medeiros, antigo sócio-proprietário do Bee Music Lounge ao lado da DJ Andressa Santana, viu o seu empreendimento ter que ser desligado menos de 1 ano após a inauguração em 2019.

A pandemia inviabilizou o negócio, diminuiu o público e os pegou de surpresa. O empresário aguarda a diminuição de casos de coronavírus para inaugurar outro estabelecimento no ramo do entretenimento.

“Nós estávamos em transição de Lounge (local fechado e sofás) para barzinho (local aberto e mesas e cadeiras). Devido a pandemia, fechamos o Lounge e decidimos esperar o toque de recolher cessar para abrir algo no ramo de entretenimento, analisar o cenário e as condições do momento”, conta ao Jornal Midiamax.

Fuga para o “ar livre”

Segundo Daniel, não existem planos futuros enquanto o vírus estiver em expansão e toques de recolher sendo mudados a todo mês. Hoje, a renda que tem vem do aluguel de quartos da própria casa para pagar as despesas essenciais.

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Jurema Bar, um dos poucos que se adaptaram à nova realidade da pandemia (Reprodução, [email protected])

“No que diz respeito a eventos, a ideia em 2021 é fazer eventos em chácaras e locais abertos, eventos mensais. Com toques de recolher e limitação de pessoas nos locais, fica inviável ter um comércio com despesas fixas. Até existir uma vacina teremos que coexistir com o vírus. Os locais terão que se adequar”, frisa Daniel.

Do Jurema Bar, um dos poucos sobreviventes da vida noturna de Campo Grande, o empresário e promoter Fábio Jara também aposta no meio Open Air, ao ar livre, para driblar os efeitos da pandemia.

“Já estamos nos mobilizando para adotar esse sistema no pós pandemia pela preocupação das pessoas. Temos o público que não está se importando com a pandemia até os clientes que não estão saindo de casa por segurança. Então a ideia é trabalhar num sistema mais aberto, como luaus, ou sunsets que comecem mais cedo”, conta ao Jornal Midiamax.

Segundo o empresário, assim que foram liberados para abrir respeitando o toque de recolher e com público reduzido, as medidas de biossegurança tem sido cumpridas.

Já adotamos o sistema externo para atender os clientes nas ruas e está sendo bem benéfico para nós e para os clientes se sentirem mais à vontade. Sempre deixávamos álcool em gel no balcão do bar e do caixa, mas agora também temos nas mesas, suspenso e nos banheiros. O comportamento do cliente também está mudando”, ressalta Fábio.

Futuro incerto

Quando o assunto são shows de música ou festas de grande porte, a incerteza pelo fim da pandemia também é um agravante entre os produtores culturais, mas já há a expectativa para remodelações, como explica o produtor cultural Daniel Escrivano. Outra questão é a diminuição de interações sociais.

“Não podemos mais pensar em shows como antes, pelo menos por enquanto. Está prevista para o primeiro trimestre de 2021 a disponibilidade da vacina, daí então teremos uma mudança de comportamento que só o tempo vai mostrar a direção das ações para este segmento”, ressalta.

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Show de Afonso Padilha em Campo Grande intermediado pela Realiza Shows em março de 2019 (Reprodução, Facebook)

Para os projetos da vida noturna de Campo Grande, será importante a consideração do mundo virtual mudanças de planos e estratégias, sem público, tudo pela internet. Em relação aos shows, a tendência é a criação de novos protocolos para aglomeração de pessoas, e a partir daí calcular os custos-benefícios para a realização

“Precisaremos de um olhar do poder público nas novas estratégias para o fomento local, já que na escala de interrupção das atividades fomos os primeiros a parar e provavelmente seremos os últimos a voltar com os trabalhos. A música está tendo um papel social importante, tanto para o engajamento quanto para a descompressão e diversão no impacto dessa crise”, explica o produtor ao Jornal Midiamax.

O também produtor Leonardo Alencar da empresa Realiza Shows, responsável por grande parte dos espetáculos nacionais em Campo Grande, teve que adiar mais de 10 shows, que serão remarcados posteriormente. Entre eles estão Zeca Baleiro, Maurício Meirelles, Afonso Padilha e outros artistas nacionais.

“Nossa decisão agora é aguentar firme e esperar a vacina. Pedimos em nossas redes a compreensão de todos nossos clientes, mas espaços alternativos, drive in, ou qualquer outro, não estão nos planos. Prezamos pela saúde de todos, temos muitas famílias que são nossos clientes, muitas filhas e mães; avós etc.. então não vamos de jeito nenhum arriscar a saúde dessas pessoas”, reitera.