Auxílio de R$ 600 vem em boa hora, mas não traz tranquilidade sobre o futuro

O auxílio de R$ 600 a R$ 1,2 mil concedido pelo Governo Federal às famílias prejudicadas financeiramente pela pandemia de coronavírus (Covid-19) vai ajudar a atravessar o período de dificuldades, porém, não traz alento quanto ao futuro. O dinheiro, que vem sendo liberado dentro de um cronograma pela Caixa Econômica Federal, nem chegou para muitos […]

Ouvir Notícia Pausar Notícia
Compartilhar

O auxílio de R$ 600 a R$ 1,2 mil concedido pelo Governo Federal às famílias prejudicadas financeiramente pela pandemia de coronavírus (Covid-19) vai ajudar a atravessar o período de dificuldades, porém, não traz alento quanto ao futuro. O dinheiro, que vem sendo liberado dentro de um cronograma pela Caixa Econômica Federal, nem chegou para muitos trabalhadores autônomos, mas já tem destino certo: evitar que contas básicas voltem e não tumultuem ainda mais o período após o isolamento social.

Adotado como meio de evitar uma contaminação em massa e a alta mortalidade em um período no qual o sistema de saúde não teria condições de comportar vários pacientes ao mesmo tempo, o distanciamento e o isolamento social trouxeram a retração de grande parte das atividades comerciais e de serviço –crítica recorrente dos opositores à medida, por conta de seus danos à economia e ao emprego. Porém, a aposta de muitos é que os efeitos da Covid-19 não devem passar tão rapidamente quanto os três meses da ajuda financeira que, para muitos, sequer chegou.

O jardineiro Paulo Rogério, 32, é um dos que tem essa visão. Enquanto aguardava a doação de alimentos de um supermercado, contou ao Jornal Midiamax que já deu entrada no pedido de ajuda de R$ 600, “mas não caiu ainda”. O dinheiro, assim que chegar, vai ser usado para colocar em dia o aluguel de R$ 450. “Basicamente vai tudo para isso”, contou ele, que já foi à boca do caixa do banco saber quando poderia contar com o aporte que, reforça, ajuda.

“Vai amenizar, mas [a situação] só vai estabilizar quando a pandemia acabar”, disse, relatando que, por conta da necessidade de distanciamento, os clientes temem levar pessoas de fora da família para suas casas. “Meus clientes precisam me receber e a maioria é de idosos. Ninguém quer fazer isso com a pandemia, eles têm medo”, destacou.

A avaliação é semelhante à do pedreiro Elias Santos, 19, que fez o cadastro do auxílio há 20 dias e, até agora, não recebeu. “No aplicativo aparece que está em análise, mas nada. Vou pagar a fatura da moto, que ficou atrasada por causa da pandemia”, disse Elias, reclamando que a promessa do Governo Federal de que instituições financeiras renegociariam financiamentos de clientes, até aqui, não se concretizou. “A cobrança continua alta, não teve negociação”.

Da mesma forma que contabiliza o destino do dinheiro que espera, Elias conta o prejuízo no início da pandemia. “Ficamos duas semanas parados, cada uma equivale a R$ 600”, afirmou ele, que mora com o pai, também pedreiro. “A gente tinha de entregar obra, a dona cobrava, mas dizíamos que não poderíamos trabalhar por causa da situação”.

Menos serviço?

coronavírus, novo coronavírus, pandemia de Covid-19, auxílio emergencial de R$ 600, não caiu, o que fazer com o dinheiro, pagar contas atrasadas, como vai ser depois, medo do futuro
Sebastião: faturamento semanal inferior a R$ 400 após clientes ‘sumirem’. (Foto: Leonardo de França)

Elias ainda reforça a importância do dinheiro, mas também o vê como um socorro para o curto prazo. O futuro, porém, ainda assusta.

“Esses R$ 600 vão ajudar as pessoas. Tenho vários amigos que foram demitidos em shopping que vão precisar. Mas a tendência é piorar, porque ninguém vai fazer casa agora se ninguém vai comprar. Ninguém quer se arriscar. Como vai fazer uma dívida se não tem como pagar?”, questionou.

A teoria de Elias é, em parte, atestada pelo mecânico Sebastião Ividre, 44. Nos melhores dias, o faturamento diário na sua oficina chegava a R$ 600. Agora, o ganho semanal mal chega a R$ 400. “Pararam de trazer os carros porque não sabem o que vai acontecer por agora”, afirmou, apontando que os trabalhos feitos com restauração de veículos ajudam a atenuar a queda no movimento. “Mas no mês passado não deu nem para cobrir as despesas”, lamentou.

Sebastião também está à espera do auxílio, que vai ajudar a bancar despesas básicas. “As contas de luz estão indo para a terceira de atraso. Vou dividindo a renda e comprando o básico”, contou, aliviado que, em relação ao aluguel, “a proprietária entende a situação”.

Voltado a famílias beneficiárias do Bolsa Família e trabalhadores informais e autônomos, entre outros, o auxílio de R$ 600 a R$ 1,2 mil (neste caso para mães chefes de família) foi anunciado pelo Governo Federal e vem sendo pago por meio de aplicativo –que está apresentando falhas há alguns dias– e liberações de saque em caixas e lotéricas. O saque via poupança digital, sem usar o app Caixa Tem, começou nesta segunda-feira (27).

Conteúdos relacionados