Mortes de idosos sozinhos em casa acende alerta e preocupa famílias
Nos últimos meses, muitas pessoas da terceira idade perderam suas vidas sozinhas em casa. O detalhe é que nas mortes recentes, muitas não apresentaram sinal de violência. Problema cardíaco, doença e até mesmo o período de solidão podem ter sido o gatilho para morte dos idosos. A situação tem preocupado famílias em Campo Grande. “Não […]
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Nos últimos meses, muitas pessoas da terceira idade perderam suas vidas sozinhas em casa. O detalhe é que nas mortes recentes, muitas não apresentaram sinal de violência. Problema cardíaco, doença e até mesmo o período de solidão podem ter sido o gatilho para morte dos idosos. A situação tem preocupado famílias em Campo Grande.
“Não quero dar trabalho”, talvez seja uma das frases mais ouvidas por familiares quando os idosos moram sozinhos. Na visão da psicologia, algumas pessoas preferem a sua própria companhia e gostam de viver sozinhas, mas essa situação pode desencadear a depressão.
“Fomos criados para o relacionamento, nós não fomos criados para viver sozinhos. Mas quando nós pensamos em terceira idade, quando nós pensamos no idoso, é interessante nos lembrarmos que os riscos de depressão aumentam. Então por isso nós precisamos entender que sim, viver sozinho, morar sozinho com a idade pode aumentar os riscos de depressão”, explica a psicóloga Marlene Carlos da Silva.
Marlene alega que deixar um idoso sozinho é responsabilidade da família. Ela destaca que apesar disso, é preciso deixar próximo a um parente ou alguém que possa vigiar ou até mesmo cuidar, mas sempre deixando de preferência a assistência para os familiares.
“Se uma pessoa insiste em morar sozinho, precisamos deixar, mas até quando? Quando começam as suas limitações, sabe quando no idoso tudo começa a ficar lento, o andar, os reflexos, o pensamento, o falar. Então este é o momento onde as pessoas já precisam ter alguém de companhia. É muito interessante morar próximo que realmente cuide, que está sempre dando atenção”.
A psicóloga também explica que o uso da tecnologia pode até ser favorável para algumas questões e que o celular pode facilitar a comunicação dos familiares com o idoso que mora sozinho. Mas ela insiste que a presença física das pessoas por perto dos idosos é o mais importante na continuidade da vida na terceira idade.
“Nós precisamos entender até que ponto não estaríamos prejudicando este idoso quando eu coloco uma câmera de segurança para monitorar, para ver o que ele está fazendo, como ele pode se sentir vigiado. Agora as câmeras só se for muito do consenso da pessoa, porque se ela está morando sozinha, ela ainda tem condições mentais para isso mesmo que seja limitada na sua forma de agir, na coordenação motora. Então não seria interessante as câmeras, mas se pudesse olhar o portão da casa seria interessante”.
Na contramão da ‘dependência’
Na contramão do que vemos atualmente, onde muitas famílias se preocupam em ter uma pessoa cuidando ou convivendo com um idoso, a dona Sônia de 60 anos conta ao Jornal Midiamax que mora em um condomínio e vive um retrato totalmente diferente: ela ama viver dessa maneira, pois sente prazer.
“Eu moro sozinha faz 10 anos, eu gosto porque eu faço meus horários, eu vou onde eu quero e a hora que eu quero, já viajei bastante, então eu me sinto livre. Eu sou uma pessoa que gosta muito de sair, de passear. Eu gosto de estar assim, eu tenho prazer, não sinto falta de ter uma pessoa morando comigo”, disse.
Vivendo em Campo Grande, Sônia conta que não tem filhos e parentes são duas irmãs, várias tias e primos tanto por parte de mãe e pai. E a questão da atenção não é tão levada a sério porque ela afirma que sabe se cuidar e ao inverso, é ela quem visita os parentes. “São todos tranquilos, porque sabem que eu fico de boa. Eu vou muito na casa deles, eu saio muito com minhas irmãs, toda sexta e sábado eu visito elas, é um convívio muito bom”.
“Eu acho um descaso dos familiares. Eu por exemplo, vivo sozinhas, mas minhas irmãs estão sempre em contato comigo, me mandam whatsapp, às vezes nem sempre pode ir na casa da outra, mas a gente manda mensagem, temos um grupo da família”, argumenta sobre a falta de auxílio dos familiares.
“Eu acho bom, é uma coisa prática [whatsapp] e você está conectado com todo mundo. Eu moro em um condomínio e temos câmeras de segurança porque a gente sente uma segurança a mais, é um recurso a mais”.
Dicas
Apesar da independência, a psicóloga orienta e dá algumas dicas como passar todos os dias na casa desta pessoa, idoso ou uma pessoa em situação de risco, olhar a medicação, dar uma olhada na alimentação e verificar se a pessoa está dormindo bem, porque para Marlene, “o sono é muito importante”.
“Colocar essas pessoas em grupos faz muito bem. É importante que eles estejam vivenciando grupos de pessoas, onde elas possam participar, possam ficar animados, conhecer realidade de outras pessoas”.
De acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) referente ao último censo demográfico referente ao assunto, no país aproximadamente pouco mais de 6,9 milhões de pessoas moram ou vivem sozinhas.
Quando regionalizamos o assunto, o estado sul-mato-grossense mostra um número baixo para os padrões e mostra que cerca de 100.800 pessoas vivem diariamente sozinhas. Em Campo Grande, o número é basicamente um terço praticamente do apresentado e identifica que 34.285 convivem com sua própria companhia.
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