Moradores se acostumaram com alagamentos, mas não aguentam mais perder tudo
Chuva foi o pedido mais comum dos campo-grandenses durante a estiagem severa, que nos últimos meses castigou com clima de deserto a Capital. Mas, quando ela finalmente chegou, revelou que para parte dos moradores da Capital, a água que cai do céu é o prelúdio de momentos de tensão e desespero. Basta escurecer o céu […]
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Chuva foi o pedido mais comum dos campo-grandenses durante a estiagem severa, que nos últimos meses castigou com clima de deserto a Capital. Mas, quando ela finalmente chegou, revelou que para parte dos moradores da Capital, a água que cai do céu é o prelúdio de momentos de tensão e desespero. Basta escurecer o céu para para o coração palpitar e surgir o medo de, mais uma vez, perder tudo.
Foi o que ocorreu no último fim de semana na região oeste da Capital, em bairros como a Vila Popular, Zé Pereira, Nova Campo Grande e Jardim Carioca. A tempestade que atingiu a região no sábado (19) foi incrementada por ventos fortes, sendo um rajada de 55 km/h e outra de 60 km/h. Foi o suficiente, por exemplo, para destelhar residências, derrubar postes e muros, e causar transtornos generalizados.
Como ocorreu na Rua Prudência Moraes, onde foi registrada a queda de sete postes de energia, arrastados pela força do vento. Ali, moradores ficaram horas sem energia e com a visão de um rastro de destruição nada bonito de se ver. Em outras localidades, o volume de água invadiu residências, causou estragos e perda total de patrimônio. Um sobrado chegou a desabar, destruindo a cozinha de uma família no Zé Pereira.
Drama recorrente
Pode parecer coisa isolada, mas transtornos decorrentes de chuva são rotina nestas regiões. Quem mora na Vila popular, por exemplo, coleciona relatos de casas alagadas devido ao aumento do leito do córrego Imbirussu. É o caso do comerciante Braz Pereira Neto, de 65 anos, que há três décadas vive na Avenida José Barbosa Rodrigues.
“A gente chegou a se acostumar com os alagamentos. Não tem nada que a gente possa fazer, infelizmente a água entra. Quando o tempo anuncia chuva tudo que a gente faz é ficar de prontidão para puxar a água para fora. Minha casa, nos fundos, fiz um pouco mais elevada para evitar isso”, pontua o comerciante.
A reportagem visitou nesta segunda-feira (21) diversas ruas dos bairros mencionados. Entre várias as histórias semelhantes, nenhuma compara-se a da professora Maira Oliveira, de 35 anos. No ano passado, ela veio de Jardim com o filho adolescentes de 14 anos e com o pequeno, de 4, que tem autismo, em busca de mais oportunidades. Mas, desde que mudou-se para a casa na mesma avenida, viu a vida tornar-se um pesadelo.
É a segunda vez neste ano que Maira sofre grandes prejuízos. As marcas no muro ainda mostram o nível que a água subiu em fevereiro. Só que reviver o caos de um alagamento trouxe consequências mais marcantes. O filho mais novo teve um crise de ansiedade com o episódio. O mais velho, com o pé engessado, não teve como ajudar.
“Pedi sofá, colchão, computador, material de aula, coisas que eu tinha acabado de repor… Eu não tenho mais condição. Estou exausta! Hoje me desliguei do meu trabalho, pedi demissão. Não consigo cuidar de dois filhos e sair pra trabalhar sabendo que quando retornar pra casa talvez não tenha pra onde ir”, relatou Maira, entre lágrimas. “É uma casa financiada. Se fosse alugada já teria saído”, complementa.
Consequências da chuva também são recorrentes para a dona de casa Evelin Raiane Costa, de 28 anos, que mora numa casa na Rua Prudêncio Tomás, no Zé Pereira. no mesmo terreno, está a família do irmão e da mãe. A ventania do sábado destelhou as casas, causou pavor e chegou a machucar até mesmo um bebê com menos de um ano.
“Além da chuva teve a ventania. Aqui caiu poste, ficamos sem luz, a casa destelhada. O susto foi terrível, Meu sobrinho, que ainda é bebê, ficou machucado com o destelhamento. Por sorte não aconteceu nada mais grave”, conta.
Segundo Evelin, a família precisou esconder-se debaixo do colchão. “Colocamos as crianças debaixo para elas se protegerem. A rua está cheia de destroços. Temos medo da chuva voltar, porque o estrago foi grande. Protegemos o teto com lona, já conseguimos algumas telhas, mas ninguém fica em paz, ninguém dorme em paz quando se vive assim”, conclui.
O que fazer
Quando as chuvas são intensas e causam inundações, alagamentos ou enxurradas, campo-grandenses devem acionar a Defesa Civil Municipal a fim de obterem assistência. Segundo o órgão municipal, quem mora em regiões conhecidas pelos transtornos deve ficar atendo aos alertas meteorológicos e, ao primeiro sinal de chuva forte, deve colocar móveis, eletrodomésticos e demais objetos em lugares altos.
A defesa civil também recomenda desligar aparelhos eletrônicos e até mesmo a chave geral de energia, além de registros de água e de gás. Uma forma de evitar que o transtorno seja maior é manter calçadas e o meio fio limpo, assim como calhas e telhados, para que a passagem de água seja facilitada.
Documentos e objetos de valor devem ser colocados em um saco plástico fechado em local protegido. Também é recomendado evitar contato com água da enchente, que pode estar infectada. Deve-se usar calça cumprida, calçados fechados e camisa. Também é preciso ficar alerta em relaçao ao risco de queda de árvores, postes, semáforos, exposição de fios e buracos escondidos em alagamentos. Caso necessário, deve-se acionar o Corpo de Bombeiros (193) ou a Defesa Civil (199) imediatamente. As ligações são gratuitas.
* A professora Maira Oliveira, que tem um filho autista e que perdeu muita coisa no sábado, aceita doações. Interessados podem entrar em contato pelos telefones (67) 3363-3750 e (67) 99275-7036.
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