Maria Aparecida Pedrossian, Coophatrabalho, Coophavilla I e II, Coophafé, e tantos outros. Sabe o que esses bairros têm em comum? Surgiram de projetos populares de habitação que destinam à população de baixa renda uma oferta de imóveis residenciais de baixo custo. Moradia popular foi assunto que voltou à tona na semana passada com anúncio da prefeitura que pretende transformar o Hotel Campo Grande em condomínio habitacional.

Pedro Pedrossian, ex-governador dos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, esteve à frente da construção dos bairros Maria Aparecida Pedrossian – ao qual deu o nome de sua esposa – e ao bairro Moreninhas, que ao longo dos anos passou a ser considerado um dos mais populosos da Capital. Praticamente uma cidade dentro de Campo Grande.

O presidente da Associação de Moradores do Maria Aparecida Pedrossian, Jânio Batista de Macedo, destaca que o bairro foi criado com o objetivo de abrigar servidores que trabalhavam no Parque dos Poderes e trabalhadores do antigo órgão rodoviário Dersul.

Já as cooperativas habitacionais, conhecidas como Coophas, foram construídas pela empresa Planoeste (Planejamento de Projetos Habitacionais), de Sebastião da Silva Caneca. O empresário fez da Capital um lugar de investimentos. Caneca morreu em 2008, mas deixou sua marca em Campo Grande.

Sabia que vários bairros de Campo Grande surgiram com projetos de 'desfavelização'?
Cristina mora no Coophavilla II há 40 anos e conta que seu pai foi um dos sorteados a ganhar uma casa no bairro (Foto: Leonardo de França)

Décadas de história

Cristina Conceição da Silva, de 54 anos, é moradora do Coophavilla II há 40 anos. Seu pai foi um dos sorteados que recebeu uma casa do conjunto habitacional daquela época e que hoje pertence a ela. “As casas não tinham muros, eram apenas algumas madeiras com um fio amarrado que determinava o tamanho do terreno. Não tinha asfalto e as casas entregues tinham dois formatos: geminadas ou individuais”.

De lá para cá, muita coisa mudou. O bairro que servia apenas como dormitório, ou seja, pessoas que moravam e dormiam, mas trabalhavam no centro da cidade, hoje tem a própria mão de obra. O comércio toma conta do local e muitas características de antigamente já se perderam. As residências também tiveram suas mudanças e não só de estrutura, mas de dono também. Ao andar pela região é possível ver diversas ruas com casas à venda, os motivos – não se sabe bem ao certo, mas a renovação de moradores é constante de acordo com Cristina.

Ela não pensa em sair do bairro. “Eu cresci aqui e atualmente trabalho na Associação de Moradores. Sou feliz no Coophavilla II, não preciso pegar ônibus para ir trabalhar e tudo que preciso tem no meu bairro, nem sinto vontade de ir ao centro”, afirma.

Realocação de moradia

Em Campo Grande, além desses projetos de habitação, também há ações voltadas para a realocação de moradias irregulares ou construídas em áreas de risco. Do outro lado da cidade, na Vila Sayonara, por exemplo, houve uma desfavelização recente.

Sabia que vários bairros de Campo Grande surgiram com projetos de 'desfavelização'?
Dona Petrona afirma que a desfavelização da região foi ótima, mas o bairro ainda precisa de mudanças (Foto: Ana Palma)

Petrona Vera Garcia, de 57 anos, é moradora do bairro há 25 anos e conta que a situação do local ainda é complicada, mesmo com a retirada das favelas ainda há gente morando em situações precárias. A casa dela fica bem em frente a uma área de risco que tinha habitações irregulares. “Fiquei muito aliviada quando retiraram o pessoal daqui, não era um bom lugar para se alocarem e sem falar que dava muito medo nos moradores”, conta.

Mesmo com a retirada do pessoal, que foi mandado para o Jardim Aeroporto, Petrona conta que a segurança do bairro é precária. “A situação está mais calma, mas não podemos descansar. Na semana passada entraram no meu quintal e levaram todas as minhas cadeiras. Não conseguimos dormir bem com receio de que vai acontecer algo”.

Para ela, a esperança é a última que morre. Ao longo de todos esses anos, Petrona afirma que espera ver o bairro se desenvolver ainda mais e sonha em ver o terreno que fica em frente a sua residência como uma praça para as crianças brincarem.

“O que era madeira virou concreto e hoje temos asfalto também, mas há muito o que se fazer aqui, não temos praça nem academia ao ar livre para passear. Se não melhorar, mais pessoas vão vir fazer moradias irregulares aqui”, conclui.

Outro bairro que recentemente abrigou muitas pessoas que saíram de lugares inapropriados foi o Bom Retiro. Cerca de 135 famílias foram removidas da favela Cidade de Deus e contempladas com imóveis construídos pelos próprios moradores após receberem cursos para a construção.

Sabia que vários bairros de Campo Grande surgiram com projetos de 'desfavelização'?
O Centro Comercial do Coophavilla II está presente desde a criação do bairro (Foto: Leonardo de França)

Núcleos habitacionais

Segundo a Ehma (Agência Municipal de Habitação), os projetos visam desenvolver os núcleos habitacionais da Capital, o que acarretou em inúmeros benefícios em todas as regiões urbanas de Campo Grande.

A viabilização de residências e conjuntos habitacionais tais como Jardim Pênfigo, Zé Pereira, Dom Antônio Barbosa, Jardim Colorado, Jardim Canguru, Paulo Coelho Machado, Vida Nova I, II, III, Mário Covas, Vespasiano Martins e Bálsamo, entre outros, todos esses projetos habitacionais se tornaram bairros da Capital, viabilizando a infraestrutura necessária para o desenvolvimento econômico e social local.

Apesar dos projetos desenvolvidos pelo município, os desafios para o poder público persistem. Retirar famílias de áreas de favela e fornecer um teto é apenas um passo de um  processo que devolve dignidade a quem não tem a segurança de um teto seguro para morar.