Dependência química: Família de adicto também precisa de ajuda e acompanhamento

Após uma mãe matar o filho de 18 anos, com golpes de faca, em Dourados – a 225 quilômetros da Capital, e não demonstrar nenhum arrependimento já que o garoto a roubava para usar drogas, o Jornal Midiamax, conversou com a coordenadora de grupos do Amor Exigente – grupo de apoio para familiares de dependentes […]

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Após uma mãe matar o filho de 18 anos, com golpes de faca, em Dourados – a 225 quilômetros da Capital, e não demonstrar nenhum arrependimento já que o garoto a roubava para usar drogas, o Jornal Midiamax, conversou com a coordenadora de grupos do Amor Exigente – grupo de apoio para familiares de dependentes químicos –  Marise Garcia César, 54 anos, que ressaltou a importância de os pais procurarem ajuda.

“Geralmente o pai descobre que o filho usa droga e acaba ficando sem chão. Ele se culpa, pergunta onde errou e acaba ficando perdido. Muitas vezes escondem da família por se sentirem envergonhados, e isso acaba prejudicando na recuperação do dependente”, explicou Marise.

Para ela, procurar apenas um acompanhamento de psicólogo e psiquiatra para o filho não é o suficiente, é preciso que a família aprenda a gerir a crise, e lidar com a situação sem se sentir culpado. “O psicólogo e o psiquiatra ajudam muito, mas depende do grau de comprometimento da pessoa que vai passar pelo tratamento”, disse.

“No Amor Exigente, nós vamos trabalhar com esse pai a raiz do problema. São 12 princípios, diferentes dos 12 passos dos alcoólicos anônimos, nós tratamos com o pai e a mãe do dependente, onde isso começou e que eles não têm culpa nenhuma, e não existe apenas um motivo, e sim vários que podem culminar na dependência, e isso acalma a família e eles percebem que existe uma solução, desde se entenda o processo de como foi desencadeado isso”.

No acompanhamento a família é incentivada a perceber as atitudes do dia a dia, através dos 12 princípios. Lidando sempre com o problema livre de qualquer culpa. Os pais são incentivados a rever conceitos, a forma como conduzem a vida, identificar pontos de melhora.

“A família é levada a analisar como agem no dia a dia, se existe conversa, se existe gritaria, omissão. Se existe aspectos de violência, sinais de alcoolismo dentro de casa por parte dos pais. Ela então revê toda a vida, e nos pontos de melhora, vão mudando a relação familiar e o dependente vai precisar se enquadrar nessa nova vida. E isso muitas vezes vai desencadear a crise, porque aquele jovem vai precisar se adequar”, explicou

Dentro do programa, as famílias são ensinadas a gerir essas crises, e aprender com elas. Marise ressalta, que a estrutura da família é muito importante dentro do processo. “Famílias estruturadas onde pai e mãe conversam, são envolvidos com os filhos, as crises são menores porque rapidamente eles reagem ao problema e isso ajuda no tratamento. Já os pais mais ausentes, tem dificuldade em identificar a mudança de comportamento, e quando chegam ao programa, a família já está num ponto de exaustão, muitas vezes já chegaram as vias de fato, porque a família toda está doente”, conta.

“A família aprende a separar o filho da dependência. Nós ensinamos o pai que ele deve amar o filho, mas não amar a doença dele. Eu não quero a doença em casa, mas eu te amo e vou te ajudar. O atendimento é feito para a família, nós vamos cuidar desses pais. O enfoque é a

Ela conta, que já ouviu muitas histórias, e grande parte envolve violência dentro de casa, porque as pessoas têm dificuldade em procurar ajuda. “Muitas vezes a situação perde o controle, e acaba em violência dentro de casa. As pessoas se sentem culpadas e envergonhadas e não procuram ajuda. É muito importante que essa família procure ajuda assim que identifique a dependência”, ressalta a coordenadora.

Atendimento

O Amor Exigente, trabalha com grupos de apoio espalhados em alguns bairros da Capital. Ele não tem vínculo religioso, mas por ser uma entidade sem nenhum fim lucrativo, trabalha em espaços cedidos, em sua maioria dentro das igrejas.

“Nós acreditamos na espiritualidade e que ela seja importante no processo, mas cada um tem a sua religião e isso deve ser respeitado”, explicou Marise.

Primeiro, é feito um trabalho de acolhimento, onde a pessoa procura o atendimento é recebida de forma individual e com total sigilo por um dos coordenadores, após isso ela é direcionada para as reuniões em grupo. Ali ela vai ser orientada através dos princípios a criar sua própria estratégia para lidar com o problema.

“Nós ali dentro não temos formação, somos apenas coordenadores. Não damos receita, ou orientações profissionais. Ali fazemos a oração da serenidade apenas, porque ela é universal, e trabalhamos os princípios”, conclui.

A entidade existe em Mato Grosso do Sul há mais de 30 anos, segundo Marise, que trabalha há 15 no local. Ela tem uma federação sediada em Campinas, no estado de São Paulo e todo o programa é feito da mesma forma nos grupos espalhados pelo país.

Para participar, a família interessada pode procurar um dos grupos. Mais informações no telefone: (67) 3324-5484 ou acessar o site da instituição.

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