Pagamentos agora serão proporcionais, segundo comunicado

A empresa , que atua com mineração bitcoins, não realizou pagamentos de repasses previstos no plano de liquidez da empresa, anunciado em janeiro deste ano. Segundo a empresa, que lançou comunicado no último dia 30 de março, uma reformulação dos pagamentos será necessária uma vez que sofreu prejuízo de 851 bitcoins, supostamente roubados após um ataque de hackers.

A Minerworld afirma que o ataque ocorreu no mesmo período em que o atraso nos pagamentos teve início, em outubro de 2017, na conta que a empresa mantém no exchange (sistema de câmbio para troca de criptomoedas por moedas estatais) Poloniex, uma das principais carteiras de rendimento e câmbio de bitcoins do mundo. Segundo a empresa, em dezembro de 2017 os bitcoins roubados valeriam cerca de US$ 16,3 milhões.

Minerworld dá ‘calote', muda plano e diz que hackers roubaram milhões em bitcoins

“O afiliado X possui um crédito de US$ 1.000,00 (mil dólares) em sua conta do MinerID, que representa 0,1% do passivo total da empresa no MinerId. Tomando como exemplo que a produção mensal de todos os ativos acima mencionados seja de US$ 400.000,00 (quatrocentos mil dólares), o afiliado X receberá US$ 400,00 (quatrocentos dólares americanos), que representam 0,1% da produção dos ativos da empresa acima mencionados, até o total adimplemento do saldo devedor no MinerID”, traz o comunicado. Confira-o na íntegra clicando AQUI.

A empresa também apresenta um parecer técnico assinado por Marcos A. Simplicio, professor doutor da USP (Universidade de São Paulo), que a partir apenas de informações fornecidas pela própria Minerworld, conclui que houve roubo. A reportagem não conseguiu contato com o responsável pelo laudo. O Jornal Midiamax também buscou contato com a Poloniex a fim de confirmar o ataque de hackers e o roubo dos 851 bitcoins, mas até a publicação não obteve resposta.

Página pessoa do autor do laudo, que é professor da USP (Reprodução)

Processos e reclamações

Investidores acusam a empresa de um novo calote e desconfiam da justificativa apresentada pela empresa, já que não há, até o momento, um comunicado oficial da Poloniex confirmando o ataque de hackers, ou qualquer nota técnica oficial relatando situação semelhante no período no qual a mineradora afirma ter sido roubada, como é comum em empresas de exchange.

Antigo prédio da Minerworld em Campo Grande (Google Street View/Reprodução)

“O que estamos diante é de uma série de absurdos para justificar esses atrasos. Se observarmos os áudios antigos que os donos da empresa divulgaram, a empresa já deu várias explicações diferentes para esses atrasos, desde feriado na China, fork no , mau tempo no Paraguai, problemas na rede, enfim, são desculpas que não acabam mais”, afirma um associado que prefere não ser identificado.

Com mais um calote e nova promessa de plano de pagamento, muitos associados já se organizam para entrarem com ação judicial contra a Minerworld. São pelos menos três grupos, com associados de diversas regiões do país, que pretendem ingressar com ações coletivas contra a empresa. Além do calote, usuários também reclamam da falta de transparência da empresa.

“Nenhum dos afiliados aportou capital na Minerworld para ser trabalhado em trader (“mercado de ações” de bitcoin). A promessa era que os rendimentos viriam de mineração, e não de especulação. Ou seja, se o que ocasionou esse transtorno todo na empresa foi o suposto roubo na Poloniex, é porque a empresa não minerava de verdade, pelo menos não antes da inauguração da mineradora do Paraguai“, afirma um associado.

“A verdade é que se a empresa de fato era mineradora, nunca teve mineração suficiente. Os pagamentos, prêmios e demais recompensas eram feitos a partir dos rendimentos da Poloniex ou do dinheiro de quem entrava na base. Não resta dúvidas de que a Minerworld é, sim, uma pirâmide financeira”, acusa outro.

Em entrevista concedida ao Jornal Midiamax em agosto de 2017, no entanto, os proprietários da Minerworld, Cícero Saad e Jonhnes Carvalho, negaram operar em esquema de pirâmide e sustentaram que os lucros prometidos aos investidores se baseiam na mineração de bitcoins feita com supercomputadores no Paraguai e na China.

Permeada por polêmicas

Afirmando minerar BitCoins no Paraguai, a empresa surgiu no mercado de exploração de BitCoins com a garantia de alto lucro a partir da mineração da criptomoeda mais famosa. Ou seja, a partir das fazendas de mineração, que serviriam para validar as operações do Bitcoin, lucros seriam repassados aos investidores.

Todavia, a primeira fazenda de mineração comprovada da empresa, a MinerTech, só foi inaugurada em 2018. Desde outubro de 2017, a Minerworld vem enfrentando denúncias de calote referentes aos repasses de rendimentos aos associados. Neste ano, quando o plano de liquidez foi anunciado, com parcelamento do saldo devedor, causou temerosidade e insatisfação dos associados.

O CEO da Minerworld Jonhnes Carvalho com o Presidente Cícero Saad durante inauguração da Minertech no Paraguai (Reprodução)

Além das acusações de ser pirâmide financeira – ela é investigada pelo MPE-MS e pela Polícia Federal – a empresa também amarga parecer negativo do CMV (Comissão de Valores Mobiliários), que identificou indícios de crime contra a economia popular na natureza do negócio. Em agosto, a empresa também foi desmentida pelo CNV (Comissão Nacional de Valores) do Paraguai acerca da afirmação de que teria conseguido licença do país para atuar regularmente no ramo de mineração de Bitcoins no país vizinho.