Incêndio destrói barracos em comunidade estigmatizada no bairro Centro Oeste
Por Guilherme Cavalcante e Fernanda Müller Um incêndio iniciado por volta das 11h40 deste domingo (21) destruiu completamente dois barracos da comunidade Só Por Deus, situada no bairro Centro Oeste, nas proximidades da Rua Araraquara, na Capital. Não há feridos. O Corpo de Bombeiros esteve no local e utilizou cerca de 1,5 mil litros de […]
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Por Guilherme Cavalcante e Fernanda Müller
Um incêndio iniciado por volta das 11h40 deste domingo (21) destruiu completamente dois barracos da comunidade Só Por Deus, situada no bairro Centro Oeste, nas proximidades da Rua Araraquara, na Capital. Não há feridos.
O Corpo de Bombeiros esteve no local e utilizou cerca de 1,5 mil litros de água para conter as chamas. Antes disso, moradores da comunidade fizeram força-tarefa para tentar apagar o incêndio utilizando baldes d´água, porém, sem sucesso. Ainda não se sabe o que iniciou as chamas, mas há suspeita de curto-circuito tenha causado a tragédia.
De acordo com os bombeiros, as chamas se espalharam com rapidez devido ao material que os barracos são feitos – basicamente de madeira e lona, que são altamente inflamáveis. Uma das vizinhas, Inara de Carvalho, de 18 anos, foi quem notou as chamas e pediu por ajuda.
A dona de um dos barracos atingidos pelas chamas não estava em casa na ocasião do incêndio. Somente depois que as chamas foram extintas ela chegou ao local e ficou transtornada com a destruição que não permitiu que nada fosse resgatado. Segundo ela, somente os documentos que estavam na bolsa foram salvos.
“Não sei o que vou fazer, perdi tudo. Vou para a casa da minha mãe”, falou à reportagem a auxiliar de empresa Débora Leia Virgínia de Oliveira, de 23 anos, que mora com as filhas de 5 e 3 anos.
O drama de quem não tem lar
Moradias sem infraestrutura mínima e uma vida permeada por dificuldades. Assim é caracterizado o dia a dia das cerca de 70 famílias que atualmente vivem na comunidade Só Por Deus, uma das mais recentes favelas da Capital, formada após a decisão judicial de por fim à Cidade de Deus, no bairro Dom Antônio Barbosa, em 2016.
Lá vive a família de Ana Paula Pereira, de 29 anos. Com seis filhos e o esposo, eles habitam num barraco pequeno sem água encanada, esgoto ou fornecimento de energia – na área, que era inicialmente um campinho de futebol, a energia vem de conexões ilegais e são frequentemente cortadas pela concessionária. É possível que uma dessas ligações tenha ocasionado o incêndio.
Ana Paula e o marido estão desempregados. Foi a impossibilidade de arcar com os custo do aluguel de mais de R$ 400 que os obrigou a procurar a submoradia. “As coisas foram ficando complicadas e a gente foi para lá, não tivemos escolha”, conta.
Perto dali está Maria Sonia Pietro, de 46 anos, que trabalha como empregada doméstica. Também foram os altos valores do aluguel na mesma regiao que a forçaram a montar um barraco. “Tudo aqui é mais de R$ 400, a gente não tem condições”, explica.
Uma força-tarefa entre os moradores reuniu voluntários na tentativa de apagar o fogo que destruiu a morada de duas famílias. Infelizmente, o esforço não foi suficiente para evitar a destruição e só quando os bombeiros chegaram as chamas foram controladas.
“Aqui Uber não entra”
De forma geral, os moradores da Só Por Deus reclamam mais do que da infraestrutura que lhes falta. Além do risco de incêndio, doenças causadas pela falta de saneamento e os riscos decorrentes dos alagamentos quando chove, o preconceito com moradores da comunidade também proporciona sofrimento.
“Aqui o Uber não entra, todo mundo acha que a gente é bandido, que aqui é perigoso. Mas somos como as outras pessoas. Uma vez chamamos o Samu para socorrer uma pessoa e a ambulância só entrou quando a polícia escoltou. Somos o tempo inteiro tratados como se não fôssemos gente”, conta a empregada doméstica.
Segundo os moradores, no último dia 6 de setembro, servidores da Emha (Agência Municipal de Habitação) visitou a comunidade e fez o cadastro dos moradores. Eles teriam dado a informação de que um terreno seria destinado para que os próprios moradores construíssem habitações de alvenaria, com ligação de água, esgoto e energia elétrica.
“Foi o que falaram. Disseram que cadastraram 55 famílias e que ninguém mais poderia entrar. Só que aqui são 68 barracos, a gente não sabe como foi esse cadastro. Nossa esperança é essa, que essa promessa do terreno seja verdade e que a gente possa construir as casas”, finaliza.
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