Corte de recursos em pesquisa deve impactar até economia de MS, aponta presidente do CNPq

Os cortes anunciado pelo governo Federal no orçamento da União para o ano de 2019 podem afetar diretamente a economia de Mato Grosso do Sul. De acordo com o presidente do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), Mario Neto Borges, o Estado pode sair prejudicado a médio e longo prazo, já que o […]

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Os cortes anunciado pelo governo Federal no orçamento da União para o ano de 2019 podem afetar diretamente a economia de Mato Grosso do Sul. De acordo com o presidente do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), Mario Neto Borges, o Estado pode sair prejudicado a médio e longo prazo, já que o resultado de pesquisas desenvolvidas no Brasil para o avanço em métodos relacionados à atividade agropecuária, por exemplo, têm em MS principal local de aplicação.

Borges destaca, de forma prática, que o desenvolvimento da economia rural no país, tanto em relação ao cultivo de grãos como na pecuária, foi alavancada devido ao resultado de pesquisas que receberam fomento estatal ao longo das últimas quatro décadas, principalmente nos últimos 20 anos.

“O Brasil saiu de importador de alimentos, na década de 1970, para assumir o papel de exportador e hoje é o maior celeiro do mundo. E isso foi graças ao desenvolvimento proporcionado nas áreas de ciência, tecnologia e inovação. Junto à Embrapa e às universidades ligadas à área de agrárias, o país transformou-se num grande produtor”, exemplifica.

Em Mato Grosso do Sul, somente em relação ao CNPq, a principal agência de fomento à pesquisa do país, há 96 pesquisadores que recebem incentivos para desenvolverem estudos. Caso o orçamento seja confirmado, as pesquisas podem simplesmente ser interrompidas. Outras duas agências extremamente relevantes, a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e a FAPs (Fundações de Amparo à Pesquisa), também correm riscos com a redução de receita.

Antes do orçamento para 2019 ser apresentado, a expectativa do CNPq era de que os recursos destinados à entidade fossem mantido ao menos tal qual o orçamento de 2018, de R$ 1,2 bilhão, corrigido pela inflação. A projeção para 2019, no entanto, é um corte de cerca de R$ 400 milhões, deixando para a agência de apenas R$ 800 milhões, oriundos do Tesouro Nacional. Para Borges, é preciso dimensionar à sociedade as consequências da redução de investimentos.

Corte de recursos em pesquisa deve impactar até economia de MS, aponta presidente do CNPq
Presidente do CNPq acompanhado de reitores membros do Crie (Foto: Divulgação)

“Além de já ser um recurso parco, essa redução não vai simplesmente parar a pesquisa, vai fazer o país retroceder. Isso é temeroso, porque se o país perde a base de pesquisa em ciência, tecnologia e inovação, ele perde a capacidade de resolução de problemas e a competitividade no mercado internacional. Portanto, o Brasil fica reduzido a ser um país subdesenvolvido”, declara o presidente.

Em Mato Grosso do Sul, o CNPq fomenta trabalhos de 96 pesquisadores, conforme dados do Crie (Conselho de Reitores das Instituições de Ensino Superior de Mato Grosso do Sul). Caso o corte seja efetivado, parte das pesquisas serão afetadas e podem até mesmo ser interrompidas.

“O processo de pesquisa é diferente da construção de um prédio, por exemplo, que você pode parar e depois retomar a obra. Na pesquisa isso não ocorre, já que a pesquisa interrompida é jogada fora, por assim dizer. Então, além da estagnação de conhecimento, há também prejuízo decorrente do que já foi investido”, complementa o presidente do conselho.

Perspectivas

o presidente do CNPq afirmou que três ofícios foram protocolados nos ministérios de Ciência Tecnologia e Inovação, Planejamento e Casa Civil, a fim de sensibilizar o governo sobre a gravidade do corte orçamentário. “A estratégia é tentar convencer o governo colocar a ciência, tecnologia e inovação como prioridade e busque outras áreas para efetuar cortes. Mas, ainda não recebemos respostas”, destaca.

Segundo eles, os pré-candidatos à presidência também já foram notificados da situação por outras entidades, como a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) e a ABC (Academia Brasileira de Ciência). A pedido do ministro Gilberto Kassab (Ciência e Tecnologia), o CNPq também prepara um documento similar, com um diagnóstico e com propostas para superarmos essa dificuldade aos pré-candidatos.

Apesar do cenário pavoroso para o setor, Borges disse acreditar que a importância que a ciência e o desenvolvimento tecnológico assumiu na vida das pessoas, promovendo mais qualidade de vida, pode ser um mecanismo a ser explorado no convencimento. “Se continuarmos nessa linha, se a sociedade entender o valor da pesquisa, ela vai cobrar dos políticos e do governo e aí teremos uma expectativa de reverter”, conclui o presidente.

Zika Vírus, aviões e petróleo marítimo

Corte de recursos em pesquisa deve impactar até economia de MS, aponta presidente do CNPq
Empresas e pesquisas brasileiras de sucesso revelam investimentos em pesquisa (Arte: Midiamax | Reprodução)

Bons exemplos de reflexo positivo no desenvolvimento em pesquisa são a indústria de aviação, na qual a Embraer desponta como uma das principais empresas de fabricação de aviões de médio porte. Parte significativa das pesquisas em engenharia aeronáutica, por exemplo, são oriundas do ITA (Intituto Tecnológico da Aeronáutica).

Da mesma forma, a indústria petrolífera brasileira ganhou o posto de pioneira no mundo no desenvolvimento de técnicas de extração de petróleo em plataformas marítimas, a partir de pesquisas desenvolvidas, por exemplo, na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

Corte de recursos em pesquisa deve impactar até economia de MS, aponta presidente do CNPq
A cientista Celina Turchi (Foto: Reprodução | Time)

Mas, o caso mais emblemático está relacionado ao zika vírus, transmitido pelo mosquito aedes aegypti e que está relacionado ao surto de casos de microcefalia em recém-nascidos entre 2015 e 2016. A identificação da relação entre o vírus e a microcefalia e, consequentemente, o início de um protocolo de prevenção, foram possíveis em tempo recorde, em cerca de 12 meses, devido ao investimento maciço nas instituições de pesquisa, dentre elas a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).

A pesquisadora que comandou a pesquisa, a goiana Celina Turchi, foi considerada uma das 10 maiores pesquisadores do planeta, de acordo com a revista cientifica Nature. A lista da revista Times de pessoas mais influentes em 2017 também trouxe o nome da cientista.

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