Bebê nasce bem após ser mantido na barriga da mãe com morte cerebral

O silêncio tradicional do cemitério foi substituído neste sábado, 1° de abril. Durante a despedida de Renata Souza , 22 anos, o que se ouvia eram hinos evangélicos e o silêncio só era quebrado pelo choro de Ester, de 2 anos. A jovem partiu, mas deixou um presente para a família, ‘Yaguinho’, como o recém-nascido é chamado pela tia, Adrielly de Souza Avalos. 

A história de Renata ficou conhecida neste mês: um caso raro na medicina sul-mato-grossense. No dia 27 de janeiro, grávida, ela teve um AVC (Acidente Vascular Cerebral) e foi encaminhada para a Santa Casa. Três dias depois, a equipe médica constatou a morte cerebral. A família decidiu esperar pelo nascimento do bebê, que passou mais dois meses no útero de Renata. 

O AVC (Acidente Vascular Cerebral) é uma das principais causas de morte e de sequelas no mundo e no Brasil. Estima-se que a cada da hora, três brasileiros sofrem um AVC e risco aumenta com a idade, sobretudo após os 55 anos. Mas, no caso de Renata, tão jovem, pegou a todos de surpresa. 

Durante o velório, Adrielly alterna entre sorrisos e os olhos cheios de lágrimas ao falar da irmã. Ela conta que o sofrimento foi maior do que o esperado. Mesmo a família tendo passado dois meses visitando Renata no hospital e já sabendo que não teria volta, a morte foi um golpe duro. “Nunca estamos preparados. Todo esse tempo nos preparando, mas no fundo, sempre havia uma esperança. Foi uma dor maior do que esperávamos”. 

O marido de Renata, Eduardo de Noronha, 25 anos, se dividiu entre o velório da mulher e a visita ao filho na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) da Santa Casa. Segundo a tia, o pequeno Yago está bem. Como nasceu prematuro, precisa de cuidados, mas, os médicos já disseram à família: é só ‘pegar’ peso que ele pode ir para casa. “Ele [Eduardo] foi visitar  e disse que ia pegar um pouco de força com Yago para aguentar”. Adrielly diz que o cunhado é um irmão e que recentemente, perdeu a mãe. “Renata ficou ao lado desse nessa época e agora, ela se foi, mas deixou o Yago para ele”. Agora, a família vai se dividir na visitas ao bebê. 

A irmã, é mãe da pequena Ester e diz que o sonho da mãe dela e de Renata era ver a casa com netos. Depois de Ester, a família se preparava para a chegada dos filhos de Renata e do irmão, que esposa também está gestante. 

No o futuro, eles se preparam para as inevitáveis perguntas de Yago sobre a mãe, que serão prontamente respondidas, quando ele tiver condições de entender melhor o que se passa, a exemplo de Ester, que já sabe que a tia não vai voltar. 

“Ela era muito grudada com a tia e tá sentindo. Quando ele [Yago] conseguir entender, vamos contar que a mãe dele foi uma guerreira e que lutou pela vida dele. Mostrar as fotos e contar que era uma pessoa de caráter”, diz Adrielly. 

Aos 22 anos, Renata realizou os três sonhos que tinha na vida. Uma casa, um carro e engravidar. A irmã conta que o para muita gente demora a acontecer, Renata conseguiu em pouco tempo, questão de meses. Outra lembrança que vai ficar para a irmã, são os cuidados dela com toda a família. “Ela cuidava da gente, de todos nós. Ela queria tudo do jeito dela e era o nosso chão”. 

O sepultamento de Renata está marcado para às 16h30. 

Caso raro

O caso de Renata – que é mantida aos cuidados de uma equipe especializada 24h para concluir a gestação -, é raro e o 3º no Brasil. Segundo a Santa Casa, só foram registrados outros dois casos semelhantes, um em Campo Largo, Paraná, e o outro em Colatina, Espírito Santo. Os médicos pretendiam aguardar que a gestação completasse 28 semanas, mas uma cesárea de emergência foi realizada, após Renata apresentar um quadro de instabilidade, na última sexta-feira (31). Yago nasceu com 27 semanas e 3 dias, por volta das 11 horas, com 34 cm e 1,5 kg. 

A família havia inicialmente declarado a intenção de doar os órgãos de Renata, porém o procedimento não será possível. Devido ao quadro de instabilidade, a jovem pode ter sofrido algum tipo de infecção, o que torna impossível a doação de órgãos.