Custo de vida é mais caro em Três Lagoas

Os 338 quilômetros que separam de Campo Grande parecem ser mais distantes que os 670 quilômetros para chegar na capital paulista. Essa matemática às avessas não se deve apenas a pista dupla que leva a São Paulo e outras cidades do interior daquele estado, mas o preço mais atrativo de produtos e serviços e, às vezes, identidade cultural também.

“O custo de vida é muito alto em Três Lagoas”, afirma a assistente administrativa Ana Carolina Borges, de 31 anos, que é natural de Nova Andradina e está a 17 anos na cidade. Ela conta que vai para cidades do interior de São Paulo a cada dois meses, inclusive para fazer compra em supermercados.

A diferença entre os preços praticados em Três Lagoas e as cidades do interior de São Paulo deve-se às alíquotas do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) aplicados pelos dois estados. Em São Paulo é de 12%, já em Mato Grosso do Sul, a alíquota é de 17%.

MS 40 anos: Compras ou identidade cultural? A pista dupla que leva a São Paulo

“Compensa. Abasteço sempre lá. Aqui só o básico pra chegar até o outro lado da ponte”, diz o mecânico Ederson Gomes, de 33 anos, que é natural de Três Lagoas. Araçatuba é o destino mais frequente, onde ele procura diversão. “Quando era solteiro ia para as festas, agora que estou namorando vou em zoológico, cinema, essas coisas”, relata.

A cozinheira Janaina Aparecida Andrelo de Lima, de 28 anos ainda não esteve em cidades do interior de São Paulo, mas, segundo ela, isto se deve por ainda não ter tido oportunidade, pois está há somente 5 meses em Três Lagoas. Natural de Brasilândia, Janaina já morou por mais de um ano em Campo Grande, mas achava a cidade muito violenta. Adicionalmente, o fato de não conseguir emprego a levou se mudar. “Com um mês aqui, já estava trabalhando”, comemora.

Vinda de Presidente Prudente  há 7 anos, a dona de casa Ticiene de Cássia Guariento Maldonado, de 32 anos diz que retorna para sua cidade natal frequentemente, onde ainda tem família. Mudou-se para Três Lagoas quando o marido recebeu proposta de emprego na cidade. Além de compras, Ticiene também vai a Presidente Prudente para consultas médicas.

Identidade cultural

Entre as pessoas que entrevistamos no centro de Três Lagoas, encontramos um personagem um tanto peculiar. Além de realizar suas compras no estado e até na capital de São Paulo, o três-lagoense se identifica mais com a cultura paulista e paulistana do que a sul-mato-grossense.

O advogado Cornélio Reis, de 60 anos, se formou em São Paulo e lá morou por 15 anos, mas voltou em 1997. “Meu corpo está aqui, mas minha cabeça é paulista e paulistana”. Para ele, Três Lagoas é uma cidade paulista no Mato Grosso do Sul e tem até uma teoria.

"Meu corpo está aqui [em Três Lagoas], mas minha cabeça está em São Paulo", diz Cornélio

“Até 1969, quando aqui ainda era Mato Grosso, a identidade girava em torno do Rio de Janeiro, que era para onde as pessoas iam para estudarem e cursarem uma universidade”, explica. Ele diz que pessoas daquela geração tinham a cidade carioca como centro cultural e torciam para times como Flamengo e Vasco.

De acordo com os relatos de Cornélio, a partir de 1970, os estudantes passaram a ir para São Paulo, que se tornou a referência para aquelas pessoas. “Com a divisão do estado, continua o mesmo. Quem sai de Três Lagoas não vai para Campo Grande, vai para Araçatuba, Bauru, Presidente Prudente”, alega.

A última vez que ele esteve em Campo Grande? “Faz uns 6 anos. Não tem nada lá”, diz ele rindo.