‘Café’, pichador-poeta em Dourados, divide opiniões entre arte e vandalismo
Opiniões sobre a ação do artista Café são divergentes.
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Opiniões sobre a ação do artista Café são divergentes.
Dezenas de dezenas de frases poéticas estão espalhadas nos bairros de classe média de Dourados e acabou suscitando uma discussão sobre o que é considerado pixação e o que realmente é arte.
As frases escritas pelo pichador que se identifica como “Café” é um convite a uma reflexa poética e filosófica acerca das vicissitudes da vida moderna.
As frases de Café, algumas plagiadas, outras de sua própria autoria demonstram a criatividade do “artista” anônimo que está ganhando as redes sociais.
Esta semana o professor de História, Maurício Lemes Soares resolveu se manifestar sobre as inscrições de Café, considerado por ele como “o poeta dos muros”.
“Enganam-se aqueles que pensam que uma cidade não “conversa” conosco. Que ela “grita”, todos já sabemos. Os buzinaços, pancadões, e vendedores ambulantes – topo da lista griteira – nos lembra disso cotidianamente. Mas, muitas vezes, esquecemos que ela também nos acalanta, nos faz refletir e nos leva para bem longe da confusão mundana. Uma pitada de atenção com outra boa medida de desprendimento faz com que a percebamos de forma diferente. Os seus muros estão a falar”, afirmou o professor que é mestre em História pela Universidade Federa da Grande Dourados (UFGD).
Café, segundo Maurício, tornou-se bem conhecido em pouco tempo e suas ações passaram a permear as discussões no dia-a-dia e “em que pese a ilegalidade da conduta perpetrada pelos pretensos poetas urbanos”, inegável que suas inscrições muros afora nos trazem boas doses de reflexão.
Em algumas frases, conforme a observação do professor, Café “desperta a indignação pelo uso, irregular sim, dos espaços, sejam eles públicos ou privados enquanto em outros, a simpatia pela figura transgressora, mas lúdica, do pichador.
Maurício afirma que “o tal Café não escreve bobagens mesmo não são autorais nem inéditas, muitas delas, já vimos nas páginas do Facebook ou Instagram. Mas, de qualquer forma, não são disparates, e podem ser visualizadas por um público que ainda não caiu nas redes sociais”.
“São frases que despertam a atenção, a reflexão e, porque não, despertam nossas almas e nossos espíritos e nos fazem olhar para dentro de nós mesmos”, acentua Maurício ao explicar que “a utilização do “picho” como forma de expressão já acontece há alguns milênios.
“As pinturas rupestres de nossos antepassados ajudam-nos a compreendê-los no geral bem como entender as suas relações com o mundo à época. Com o passar do tempo, o que aconteceu foi apenas o aperfeiçoamento natural da matéria-prima juntada ao aumento do poder de abstração dos seres-humanos”, afirma Maurício.
No mundo contemporâneo, conforme as observações de Maurício “duas vertentes do picho são comumente encontradas: a Pichação e o Grafite que é uma atividade “diurna” e amigável; a pixação uma bagunça, “noturna” e subversiva”. Para o professor esta é “uma discussão sem fim, campo de batalhas ideológicas. Atualmente, acompanhamos a administração do atual prefeito de São Paulo, Jorge Dória, na luta hercúlea para “limpar” a cidade de suas manifestações murais. E nessa toada, famosos grafites de artistas de renome como os Gêmeos, famosos pelo mundo tudo, tem tido um destino apocalíptico”.
A frase que mais chamou a atenção de Maurício foi a que diz: “você está onde gostaria de estar?”. “No mínimo, nos sacoleja! Isso, se a alguns não perturbar, não incentivar, não despertar para a busca de outros rumos, outros caminhos e direções”, vaticina o historiador lembrando que “fato é que o “borrar” de um muro, ainda que ilícito, sai com uma demão de tinta, diferente das transgressões bem mais sérias e de efeitos muito mais nefastos que têm inundado todos os cantos, para além de qualquer muro”.
OPINIÕES
O jornalista João Pires afirma que “pixar é crime num país onde roubar é arte” enquanto que Thiago Winter Macinelli acha que “Café e um meliante que merecer ser preso por deteriorar o patrimônio alheio e não há nenhuma arte em estragar o que é do outro”.
Ana Lucia Pietramale Ebling e Lucas Stein estão curiosos para descobrir a identidade secreta do pichador. Lucas disse que está “doido para saber que é esse Café, tem uns muros ai que quero que ele pague as despesas que estou tendo para apagar”.
“Tive o desgosto e ter o muro da minha residência rabiscado por ele sem autorização e nenhuma permissão” disse Keila Akemi Miranda. “Vamos incentivar o senhor Café a escrever um livro. É muito errado pixar o patrimônio dos douradenses. Por mais linda e reflexiva que a frase seja não gostaria que fosse escrita no meu muro ou fachada”, diz Marciana Brunetto.
“Confesso que prefiro ver frases do Café que outdoors de políticos”, diz Henrique Barrios. O poeta Matheus Heindrickson poeticamente falou: “Café, bem sei, passou do ponto: torrou já a paciência. Dourados, às vezes parece amarga, mas antes assim que descafeinada. O futuro às vezes é um furo que li sem querer num borrão. Na borra de um Café”.
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