Núcleo incentiva ‘sororidade’ com vítimas de violência doméstica; entenda

Somente este ano 11 mulheres morreram vítimas de crimes de gênero no estado

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Somente este ano 11 mulheres morreram vítimas de crimes de gênero no estado

 Mais que pioneirismo, ou vanguardismo, o Nafem (Núcleo de Atendimento às Sobreviventes e às Famílias das Vítimas de Feminicídio), lançado nesta quarta-feira (18), é o primeiro programa do estado feito por mulheres para ajudar mulheres. Baseado no conceito de sororidade, que nada mais é que o pacto entre as mulheres que são reconhecidas irmãs, o programa vai atender mulheres sobreviventes de violência e mulheres vitimadas com a perda de familiares em crimes de violência doméstica.

O conceito ainda pouco conhecido, mas muito explorado no feminismo, rompe barreiras e traz avanços significativos para as políticas públicas voltadas para as mulheres. Ainda mais em um estado onde a violência contra elas ainda impera. Mato Grosso do Sul está entre os 10 estados mais violento para as mulheres no país.

Para se ter uma ideia, somente este ano 11 mulheres morreram vítimas de crimes de gênero no estado. Somente no mês de abril foram quatro: uma em campo Grande, uma em Tacuru, uma em Nova Andradina e uma em Amambai.

Outras 7 mulheres sofreram crimes este ano e sobreviveram. Algumas seguem internadas e outras em acompanhamento. Inclusive, no próprio Nefam. E infelizmente os números não param por ai. O Centro Especializado de Atendimento à Mulher – CuñaM’Baretê – que em guarani quer dizer Mulher Forte – fez 1.176 atendimento apenas entre janeiro e abril deste ano, contando os serviços de recepção, serviço social e psicologia.

Os números deixam claro que as políticas para as mulheres precisam se fortalecer, e Mato Grosso do Sul avança para este caminho, apesar de ser um dos estados mais violentos para elas no país.

Representante da ONU (Organização das Nações Unidas) Mulheres, Vânia Pasinato, considera o núcleo um avanço muito importante, não apenas pelo ineditismo, mas por as politicas públicas passarem a se preocupar também com os familiares das vítimas. “Se fala muito em proteção às mulheres, mas essa preocupação não era estendida. Agora haverá acompanhamento não apenas às vítimas sobreviventes, mas às mulheres que sofreram com o impacto da morte de uma familiar. A mulher que precisou acolher os filhos da vítima. O estado antes não dava este apoio”, diz.

Subsecretária de Políticas Públicas Para as Mulheres, Luciana Azambuja, lembra que em março de 2015 foi sancionada a Lei do Feminicídio que propõe investigar, processar e julgar crimes de mortes e violência em relação ao gênero. Com essa mudança a lei ficou mais rígida em relação a esse tipo de crime.

Mas, segundo ela, não é apenas a rigidez na forma da lei que precisa mudar. Mas o olhar para quem sofre o crime. “Em fevereiro acompanhei um julgamento de um homem que matou a companheira e o sogro, por não aceitar a separação. A mãe e a irmã foram ouvidas. Ali percebi o sofrimento dessas mulheres, o quanto precisam de acolhimento”, diz, pontuando que antes não havia atendimento as vítimas de feminicídio.

Vice-governadora de Mato Grosso do Sul, Rose Modesto, enfatiza que é preciso cuidar não apenas das mulheres, como das crianças que sofrem violência. “Se não conseguirmos cuidar das nossas crianças, das nossas mulheres, que estado vamos ter?”, questiona.

O Nefam vai atender tanto a sobreviventes de crimes de gênero, inclusive mulheres trans, quanto mulheres que perderam outras em crimes de feminicídio. O atendimento vai desde o psicológico, com seções com profissionais, até o social, com encaminhamento a uma profissão e ao mercado de trabalho.

“O programa é completo, é para ajudar a mulher a reconstruir a vida”, diz Luciana Azambuja.

O programa não faz atendimento aos homens, apenas às crianças até 14 anos. Passada desta idade, os homens são encaminhados a outro programas da rede psicossocial, como Conselhos Tutelares e Conselho Estadual da Criança e Adolescente.

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