Mulheres baianas fazem ato contra a cultura do estupro

Evento também aconteceu em outras cidades brasileiras

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Evento também aconteceu em outras cidades brasileiras

Um ato de mulheres contra a cultura do estupro ocupou na tarde de hoje (4) vias importantes da cidade de Salvador. A concentração ocorreu na Praça Dois de Julho, no bairro de Campo Grande, centro da capital baiana. Elas caminharam em direção ao Porto da Barra, um dos principais pontos turísticos da cidade.

A assistente social Priscila Chagas disse que viu o mesmo ato em outras cidades e postou a ideia, no Facebook, de fazer também o mesmo protesto em Salvador. A proposta foi bem aceita e gerou uma série de adesões entre as mulheres que criaram o evento na rede social.
 
“Já tem um tempo que a gente começou a se adicionar no Facebook, entre as feministas, trocamos informações. Sugeri o ato de hoje, e as meninas gostaram da ideia. Tem eventos em várias cidades e ainda vai haver. Queremos trazer a visibilidade do nosso movimento, queremos visibilidade como mulheres, como humanas, porque não somos uma casta inferior”, disse uma das organizadoras do evento. 

Ainda na concentração, dezenas de mulheres participaram de uma oficina de faixas e cartazes que foram levados na passeata, nelas estavam escritas frases como: “Somos muitas e estamos juntas”, “Quem estupra não é saia curta, quem estupra é o estuprador”, “Moça, a culpa não é sua”, “Educação contra o machismo”.

A militante Sandra Muñoz é coordenadora da Rede de atenção à violência contra as mulheres de Salvador e integrante da Marcha das Vadias. Segundo ela, a quantidade de manifestações contra o machismo e a cultura do estupro aumentou depois do caso que aconteceu no estado do Rio de Janeiro, onde uma adolescente de 16 anos foi vítima de um estupro coletivo.
 
“O legal é que as meninas começam a vir, e isso é importante. Porque o que a gente faz é para trazê-las. E se estou aqui é porque muitas mulheres lutaram para estarmos aqui. A principal mensagem é que a gente não vai mais tolerar a violência contra a mulher, chega de impunidade. Não dá para uma delegacia funcionar em horário específico, se a violência não escolhe hora para acontecer “, afirmou.

“Os profissionais que não atendem corretamente às vítimas de violência podem até receber orientação adequada, porque sou uma dessas formadoras, mas eles parecem não absorver bem tudo que a gente explica, porque a cultura machista não permite”, acrescentou Sandra que disse ter sido estuprada aos 19 anos, quando morava em Minas Gerais. Segundo ela, o agressor a culpou pela “roupa curta”.

A passeata seguiu para o Porto da Barra, passando pelo corredor da Vitória e pela Avenida Sete de Setembro. Uma viatura da Polícia Militar acompanhou a caminhada e, segundo os policiais, cerca de 500 mulheres participaram do evento.

Performances

Ao sair da Praça Dois de Julho, e durante todo o percurso, todas cantavam palavras de ordem e realizavam performances. Entre elas, a contagem, em ordem decrescente, do número 33, em referência à quantidade de homens que estupraram a jovem no Rio de Janeiro, segundo vídeo divulgado por um dos envolvidos.

Entre as mulheres no ato de hoje, militantes feministas com história de lutas pelo movimento e outras novatas, ainda conhecendo a militância. É o caso da profissional de relações pública Glenda Tourinho, de 24 anos. Ela disse que sempre participou da causa, mas nas redes sociais e no ambiente de trabalho, já que, atualmente, trabalha com moda.

“Pela primeira vez eu consigo vir ao ato, porque consegui um horário no trabalho, e queria sempre me unir às mulheres. Quanto mais nos unirmos, dermos vozes a elas, vamos nos entender, porque cada uma tem uma questão, e juntas temos algo em comum, que é a desconstrução do machismo”, disse.

A quantidade de adolescentes e mulheres recém-chegadas ao evento chamou a atenção da secretária de Política para as Mulheres da Bahia, Olívia Santana, que esteve no ato ainda na concentração.
 
“A gente vê essa juventude, essas meninas empoderadas, com caras tão jovens, mas já sabendo o que querem e o que não querem também. Não querem ser abusadas, querem ser respeitadas e compreendidas na sua condição de mulher, e isso é um alívio muito grande. Quem está no movimento feminista há muitos anos tem que passar o bastão para uma nova geração, e é bacana ver essa meninada com muita determinação e muita indignação contra toda forma de estupro. Esse do Rio de Janeiro é simbólico, mas se multiplica no país inteiro e ninguém fica sabendo”, afirmou Olívia Santana.

Além daquelas que participaram de forma independente, foram às  ruas, também, as mulheres ligadas a movimentos sociais em defesa da mulher como Marcha Mundial das Mulheres, Marcha das Margaridas, Coletivo Empoderamento Crespo, Marcha das Vadias, Mulheres em Luta, entre outros. 

No Porto da Barra, destino final da caminhada, as militantes fizeram uma roda e, com o carro de som, se inscreveram para falas sobre o combate ao machismo, de cobrança de políticas públicas para as mulheres, contra a violência de gênero e formas de incluir mulheres que estão à margem do feminismo.

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