Abordagem a carro com criança desmaiada foi gravada em vídeo

Aos 46 anos de idade, João Anísio Alves de Oliveira, o Joãzinho do Crediário, viveu no final da tarde de terça-feira (28) um dos momentos mais apavorantes da vida. Pouco antes das 18h, o filho de um ano e dois meses começou a ter convulsões em seu colo e o desesperado deslocamento até o hospital só teve sucesso graças ao auxílio de policiais militares que fizeram a escolta do veículo em que estava. O trabalho dos militares salvou a vida da criança, segundo o pai.

Essa história veio a público na quarta-feira (29), depois que o Getam (Grupo Especializado Tático Motorizado) do 3º BPM (Batalhão de Polícia Militar) de Dourados, a 228 quilômetros de Campo Grande, divulgou no Facebook o vídeo da surpreendente e emocionante ocorrência. Os personagens da gravação explicaram exatamente o que aconteceu ao Jornal Midiamax.

“Faz dias que meu filho está incomodado por causa dos dentinhos nascendo. Na terça-feira deu febre e levamos ele no posto de saúde de manhã; o médico deu medicação adequada e fomos para casa. Quando foi de noite ele começou a ficar inquieto, peguei ele no colo e fui pra frente de casa. Mas ele começou a espernear, parecia que ia morrer, daí chamei a mulher e partimos para o UPA”, detalhou Oliveira, pai do pequeno Raique Dhonni.

Foi ele quem saiu em disparada com a caminhonete GM S-10 da casa onde mora, na Rua Manoel Rasselem, no Jardim Rasselem. No banco de trás, sua esposa Jucimeire Freire Caparoz, de 39 anos, segurava a criança já desacordada nos braços.

Quando a caminhonete invadiu a avenida Hayel Bon Faker em alta velocidade, três policiais do Getam suspeitaram da movimentação. “Avistamos a caminhonete em alta velocidade e por ser próximo ao trevo [de acesso à BR-463, rodovia que liga Dourados a Ponta Porã] chamou a atenção da guarnição”, explicou o soldado Diego, que tinha uma câmera acoplada ao colete.

Acompanhado pelos soldados Pinzan e Lobo, Diego deu início ao acompanhamento tático, sinalizando seguidas vezes para a caminhonete parar. Mas os pais da criança, desesperados, percorreram pelo menos quatro quarteirões e só pararam o veículo após passarem por uma ponte sobre o Córrego Paragem, já na Rua Frei Antonio, antiga W17, via pela qual pretendiam seguir até a Rua Coronel Ponciano, onde está localizada a UPA 24 Horas (Unidade de Pronto Atendimento).

“Quando atravessamos a Hayel a polícia mandou parar, mas no desespero não paramos e na W17 decidimos parar, porque era polícia”, justifica Oliveira, pai da criança. No vídeo é possível ver que os policiais chegam a sacar as armas; faz parte do método de abordagem, afinal, nunca sabem ao certo o que vão encontrar.

Mas nesse caso, quem desceu da caminhonete foi Jucimeire. Com o filho desmaiado em seu colo e desesperada, ela pediu ajuda aos militares. O soldado Diego perguntou se o destino seria a UPA e quando ouviu um sim, lhes instruiu para que seguissem as motocicletas do Getam, uma XRE 300 cilindradas e duas Lander 250 cilindradas, conduzidas por homens treinados para situações extremas. (veja o vídeo)

 

 

“Nós fizemos uma leitura rápida da situação e procedemos com a escolta para resguardar a segurança das pessoas da caminhonete e de terceiros que estavam na via”, pontua Diego, lembrando que no caminho havia um supermercado e semáforos. “O caminho estava muito congestionado em frente ao ABV e também tinha um sinal vermelho que tivemos que bloquear para a caminhonete passar”.

Essa escolta do Getam possibilitou que o percurso da família em busca de socorro médico fosse concluído em menos de três minutos. “Sem nosso auxílio poderia demorar o dobro ou o triplo do tempo”, avalia o militar, sem esconder o orgulho por ter ajudado a salvar a vida de uma criança.

O pai do menino confirma a importância dessa inesperada escolta. “Se demora mais a gente ia perder nosso filho”, pondera. “Temos que agradecer a Deus e aos policiais de muito bom caráter. A equipe de enfermeiros e médicos também foi nota 10”, complementa, já ao lado da mulher e do filho, que teve alta médica após receber um pronto atendimento.

Passado o susto, ficou a gratidão. De lado a lado. Os pais do pequeno Raique Dhonni agradecem repetidas vezes aos policiais que lhes ajudaram. E os militares dizem-se gratos pelos elogios não só da família da criança, mas das centenas de pessoas que assistiram ao vídeo da ação.

Com seis anos de atuação no Getam, o soldado Diego diz que foi a primeira ocorrência desse tipo que já atendeu. Pinzan, também experiente, com o mesmo tempo de moto-patrulhamento, mas em Corumbá e Campo Grande, é outro militar que viveu uma situação inédita na carreira. Já o soldado Lobo, recém-formado na PM e com pouco mais de um ano no Grupamento Motorizado, sabe que embora seu trabalho ainda lhe reserve novas surpresas, a escolta que salvou a vida de uma criança será sempre uma história boa de contar.

Num período em que abordagens policiais são tão contestadas, especialmente por casos recentes de mortes em São Paulo, a ação dos militares de Dourados foi um sucesso absoluto. Para o soldado Diego, não convém traçar paralelos, já que cada caso tem elementos próprios que só os agentes que vivem esse dia-a-dia podem entender.

Nesse caso de Dourados, que gerou centenas de elogios e resultou numa vida salva, o soldado destaca que fizeram toda diferença o treinamento pelo qual passam e o instinto que aflorou no momento. “Agradecemos a população e ressaltamos que a sociedade pode sempre contar com a gente. A Polícia Militar de Dourados é exemplar”, fez questão de ressaltar. Após a folga de ontem, dia que tiraram para contar a bela história, os heroicos soldados do Getam voltam às ruas da segunda maior cidade de Mato Grosso do Sul hoje. O trabalho continua, sejam quais forem as surpresas que apresente.