Religiões afro-brasileiras se queixam de falta de espaço para cultos

Religiões esperam a construção do Vale dos Orixás

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Religiões esperam a construção do Vale dos Orixás

Vindo da África com os negros escravos, o candomblé se ‘uniu’ ao catolicismo para se tornar umbanda. Os cultos e costumes dessa religião voltaram a ser notícia após a morte de Lucimeire Rocha Cabral da Silva, de 46 anos, na manhã de domingo (3), na ‘Cachoeira da Macumba’, localizada na área norte de Campo Grande.

A vítima e um grupo de 30 pessoas foram até o local para realizar batismos de iniciação para novos médiuns. Mas só na hora de ir embora o grupo notou a falta da mulher, que foi encontrada em uma vala, morta. A principal suspeita é de que ela tenha escorregado e, na queda, quebrado o pescoço.

O incidente, que está sendo investigado pela polícia, revelou a falta de espaço para que os grupos possam realizar seus cultos de segura e ‘legal’.

A natureza, segundo o babalorixá Lucas de Odé, sacerdote do candomblé e dirigente do axé Dambá Odé, é a forma como as religiões afro-brasileiras se relacionam com Deus. É por ela que são feitos batismos, cultos, orações e por isso espaços como cachoeiras e matas são importantes para os cultos.

Esses locais são escolhidos aleatoriamente, considerando os recursos naturais e acesso. Na prática correta, todos os objetos que não se decompõem na natureza são recolhidos, restando apenas grãos e alimentos, “até porque esses resíduos têm uma finalidade ritualista de formar um circo, de fertilização do solo”, lembra Lucas.

“A grande dificuldade que nos temos em Mato Grosso do Sul é ter um local adequado a nossas práticas religiosas, locais que precisam ter acesso à natureza, mata, cachoeira, pedreira, onde realizamos adoração a Deus”, explica o babalorixá.

No fim de 2013 foi aprovado o projeto para a criação do Vale dos Orixás, local específico para os cultos afro-brasileiros e ameríndios. O valor de R$ 500 mil só precisava da sanção do prefeito para ser liberado, o que até agora não aconteceu. “Todo mundo de alguma maneira tem seus espaços, menos a gente, que sempre encontra as portas fechadas”, destaca o sacerdote Irbs Santos, presidente da Fecams (Federação de Cultos Afro-Brasileiros e Ameríndios de Mato Grosso do Sul).

Ainda conforme o presidente, há 5 anos na frente da federação, o Vale dos Orixás é uma luta constante. Sem apoio da Prefeitura, a Fecams busca ajuda no governo do Estado e de vereadores, para enfim conseguir um local sagrado para os cultos religiosos.

Desmistificando

Originalmente da África, o candomblé veio para o Brasil nos navios negreiros, com os escravos. Já em solo brasileiro, proibidos de expressar sua religião, passaram a ‘ligar’ os santos católicos com de seus orixás, o que com o passar dos anos originou a umbanda, a única religião 100% brasileira.

Entre os muitos cultos, a sacramentação, que é considerada por muitos como sacrifício de animais, é o que chama mais a atenção. Nas palavras do presidente da Fecams, o culto é milenar da cultura afro-brasileira e só é realizado em ocasiões especiais.

“Geralmente nas iniciações de candomblé é oferecido aos orixás esse tipo de agrado, em certos casos de doenças também é usado, mas isso é feito com muito critério, não de maneira aleatória. Somente pessoas iniciadas e devidamente preparadas podem realizar”, explica Irbs.

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