Documentos inéditos da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), obtidos com exclusividade pelo Uol, indicam que a agência deu continuidade a operações de espionagem contra autoridades paraguaias mesmo após a posse de Luiz Inácio Lula da Silva. Os arquivos, apreendidos pela Polícia Federal na investigação da chamada “Abin paralela”, mostram que ações de monitoramento ocorreram às vésperas de uma viagem do chanceler Mauro Vieira ao Paraguai, em março de 2023.
Entre as vítimas da operação estava o então ministro das Relações Exteriores do Paraguai, Julio César Arriola. A Abin conseguiu acessar uma cópia antecipada do discurso que ele faria durante a visita de Vieira. O documento, criado em 8 de março de 2023 e encontrado em computadores da agência, traz em seus metadados a autoria de um funcionário da chancelaria paraguaia, indicando que o material foi obtido diretamente de fontes do governo vizinho.
Espionagem em meio a negociações estratégicas
A ação ocorreu em um momento sensível: os dois países discutiam a revisão das tarifas da usina hidrelétrica de Itaipu, tema estratégico para as relações bilaterais. Em junho de 2023, a Abin produziu ainda um esquema detalhando as autoridades paraguaias envolvidas nas tratativas e documentos sigilosos obtidos por meio da operação.
Em março, o Uol havia revelado que a Abin usou softwares de invasão para monitorar dispositivos de autoridades do Paraguai, para coletar informações confidenciais sobre as negociações. Um servidor envolvido afirmou à PF que a operação teve aval do então diretor da agência, Luiz Fernando Corrêa.
Governo Lula nega continuidade, mas documentos contradizem
O Palácio do Planalto atribuiu as ações à gestão de Jair Bolsonaro e afirmou que ordenou a interrupção da espionagem assim que foi informado, no fim de março de 2023. O Paraguai, por sua vez, suspendeu temporariamente as negociações em protesto.
No entanto, os novos registros indicam que as atividades de inteligência contra o país vizinho prosseguiram sob o atual governo. Procurados, o Ministério das Relações Exteriores manteve a posição divulgada em nota em 31 de março, reiterando que as operações foram suspensas. A Abin não se manifestou sobre as novas evidências.
Os fatos agora serão investigados em um inquérito à parte, já que a PF encerrou na semana passada as apurações sobre a “Abin paralela”, que apontou o uso irregular de ferramentas de monitoramento durante o governo anterior.
Isso porque a visita de Mauro Vieira ao Paraguai, em 9 de março de 2023, foi oficialmente divulgada como um encontro para “festejar a amizade” entre os dois países. Nos bastidores, porém, a espionagem brasileira seguia ativa, levantando novas questões sobre os limites das operações de inteligência na atual gestão.

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