Congonhas ganha tecnologia que evita que aeronaves escapem da pista

É uma área de escape, como uma caixa de brita, de 70 metros de cumprimento por 45 de largura em uma das cabeceiras

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O Aeroporto de Congonhas, na capital paulista, ganhou um novo sistema de segurança para impedir que aviões ultrapassem o limite da pista. É uma área de escape, como uma caixa de brita, de 70 metros de cumprimento por 45 de largura em uma das cabeceiras, que chama a atenção de quem passa pela Avenida dos Bandeirantes. A tecnologia Engineered Material Arresting System (EMAS) consiste na instalação de blocos de concreto que se deformam e freiam o avião caso, em situação de emergência, a aeronave saia do limite da pista. Congonhas é o primeiro aeroporto da América Latina a contar com a tecnologia, comum em Estados Unidos, Europa e Ásia.

A obra ocorre em meio ao aumento da demanda por voos em Congonhas. A Gol, por exemplo, desde o dia 27 ampliou em aproximadamente 40% a sua presença no aeroporto, com até 100 decolagens diárias. A Azul apresentou à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) interesse em aumentar a sua participação no terminal.

De acordo com a Infraero, Congonhas tem atualmente capacidade para até 41 slots por hora (pousos e decolagens), sendo 33 para aviação comercial e 8 para aviação geral. Além do novo sistema de segurança, foram realizadas outras obras de infraestrutura em Congonhas para permitir a operação internacional da aviação geral executiva, suspensa desde a década de 1980.

A instalação da área de escape com a tecnologia EMAS na outra extremidade da pista do aeroporto deve ocorrer no fim de maio, diz Bruno Velloso, superintendente de Engenharia da Infraero. O valor total investido para as duas cabeceiras foi de R$ 122,5 milhões de recursos públicos do Fundo Nacional de Aviação Civil (Fnac).

Velloso afirma que a tecnologia aumenta a segurança operacional do pouso. “O EMAS é composto de um material poroso misturado em um tipo de concreto, que se deforma quando a aeronave se desloca sobre ele, promovendo a desaceleração da aeronave que porventura não consiga efetuar o pouso dentro dos limites normais da pista”, explica.

TRAGÉDIA

A obra foi inaugurada quase 15 anos depois do acidente de 17 de julho de 2007, quando o Airbus A-320 da TAM, que vinha de Porto Alegre para Congonhas, ultrapassou a pista principal do aeroporto durante o pouso, passou sobre a Avenida Washington Luís, colidiu com o armazém de carga da companhia aérea e explodiu. Morreram todos os 187 passageiros e tripulantes a bordo e mais 12 pessoas em solo.

Na época, o acidente levantou um debate sobre a capacidade de Congonhas de receber aviões deste porte, e a respeito de sua localização, em meio aos prédios da capital paulista. De acordo com o engenheiro de infraestrutura aeronáutica do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) Cláudio Jorge Alves, é provável que, se houvesse o EMAS na época, o acidente não tivesse gerado tantas vítimas. “A probabilidade de acidentes diminui bastante, é um fator a mais de segurança que alguns aeroportos no mundo têm, principalmente nas pistas mais curtas em relação ao tipo de avião que se opera”, diz o engenheiro.

A Infraero ressalta que, conforme relatório conclusivo do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), a infraestrutura não foi fator contribuinte para sua ocorrência, e que a pista de pouso e decolagens de Congonhas cumpre todos os requisitos de segurança da aviação civil.

Atualmente, é obrigatório que novas pistas sejam construídas com uma margem de segurança chamada RESA – do inglês, Runway End Safety Area, ou “área de segurança de fim de pista”, em tradução livre – para casos de emergência. Mas nem todos os aeroportos têm espaço para essa área adicional, explica Alves. Para resolver o problema, o EMAS é uma das soluções possíveis. “É uma tecnologia útil para pistas menores, que não possuem espaço para a RESA”, afirma.

INVESTIMENTO

O custo do EMAS, no entanto, é considerado alto pelo engenheiro. “É um equipamento relativamente caro porque, cada vez que ele é usado, tem de ser reposto. Então, se algum avião escapar da pista, será preciso investir na recuperação do sistema”, diz.

A demora para chegar ao País, de acordo com Velloso, se deve à complexidade da obra. “Foi necessária uma maturação da solução e uma evolução da tecnologia para conseguirmos fazer essa instalação”, afirma. Ele diz também que existem estudos em análise para a implementação do sistema de segurança em outros aeroportos do País. (Colaborou Ítalo Cosme, Especial Para o Estadão)

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